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‘Vi o tiro no meio do peito da minha neta’, lembra avó de Eloah, morta no Rio

No velório, a avó materna da menina pediu justiça e, emocionada, relembrou quando viu a neta morta

Redação Jornal de Brasília

14/08/2023 15h13

Foto: Reprodução

BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A sétima criança a ser morta por bala perdida neste ano no Rio de Janeiro foi enterrada nesta segunda (14), no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, zona norte da cidade. Eloah da Silva Santos, 5, foi atingida dentro de casa, no sábado (12).

No velório, a avó materna da menina pediu justiça e, emocionada, relembrou quando viu a neta morta. “Sou vizinha da minha filha. Escutei os tiros e gritos, fui correndo. Vi minha filha com ela nos braços e o tiro no meio do peito. Foi brutal. Um tiro para matar, uma criança de cinco anos, sem defesa nenhuma”, disse Simone Santos.

O enterro ocorreu no início da tarde. O caixão era branco, como dita a tradição para crianças. De tão leve, o pai o levou sozinho nos ombros até a cova. “Falei para a minha filha que ficaria com ela até o final. Eu fiz minha parte, eu consegui, eu estou com você para sempre, filha”, disse Gilgres da Silva, no trajeto até o túmulo.

Fogos de artifício foram estourados, balões brancos soltos e quem acompanhava o enterro bateu palmas, entoando o nome da menina. Chorando, uma vizinha repetia que ela vivia na casa dela, brincando.

A irmã de Eloah foi consolada pelo pai e pediu para jogar uma flor no túmulo. A mãe, carregando a filha mais nova, de três meses, foi amparada e não quis dar entrevista.

Uma parente, que não quis se identificar, disse que a menina era alegre, estudava em uma creche particular do morro e sua alegria era dançar balé. Das roupas de bailarina, gostava mais da azul.

Os presentes se lembravam do sorriso de Eloah e do quanto ela estava feliz pelo “mesversário” da irmã, comemorado um dia antes. No momento em que foi atingida no peito, estava pulando na cama, após comer doces da festa.

De acordo com Antônio Carlos Costa, do Instituto Rio de Paz, a família quer um encontro com o governador Cláudio Castro (PL). “Infelizmente, trata-se de uma política de segurança pública que segue uma espécie de pressão política exercida por um setor da sociedade que julga que com truculência nós vamos dar conta do problema endêmico, histórico que enfrentamos na área da segurança pública”, disse, no enterro.

O instituto também monitora crianças baleadas. Segundo a ONG, com Eloah, foram 15 vítimas de balas perdidas na faixa etária de até 14 anos, em todo o estado, nos últimos dois anos.

ELOAH FOI BALEADA APÓS MORTE DE JOVEM

De acordo com a Secretaria de Polícia Militar, equipes do 17º batalhão (Ilha do Governador) faziam patrulhamento na avenida Paranapuã quando tentaram abordar dois homens em uma motocicleta.

Segundo a PM, o ocupante de carona da moto carregava uma pistola e teria disparado contra os policiais, que teriam revidado. O adolescente foi encaminhado em estado grave para o Hospital Municipal Evandro Freire, onde já chegou morto.

Após a morte na ação policial, moradores da comunidade do Dendê protestaram e queimaram dois ônibus na avenida Paranapuã. Durante o protesto, Eloah foi atingida por uma bala perdida dentro de casa.

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