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Sapo brasileiro vive em harém de três e todos são fiéis

Relação atípica é chamada de poliginia e tende a ocorrer quando os machos precisam competir entre si tanto pelas fêmeas quanto por mais recursos ambientais

Redação Jornal de Brasília

13/08/2020 10h54

Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) conseguiu comprovar a poliginia entre casais de anfíbios. Trata-se de uma espécie de sapo que mantém um relacionamento aberto com duas fêmeas. A pesquisa foi publicada na “Science Advances” nesta quarta-feira (12).

O exemplar da espécie Thoropa taophora tem relação com duas fêmeas, que permanecem fiéis a ele. O caso é o primeiro registrado entre anfíbios na comunidade científica. A relação atípica é chamada de poliginia e tende a ocorrer quando os machos precisam competir entre si tanto pelas fêmeas quanto por mais recursos ambientais, como água e comida, relatou o zoólogo e um dos autores da descoberta, Fábio de Sá, à agência France-Presse.

Os sistemas de acasalamento animal se mantêm entre a poligamia – que está associada a um estágio anterior da evolução – e a monogamia, que surge quando os filhotes de uma espécie exigem intenso cuidado dos pais.

Sá e colegas decidiram investigar se essa espécie de sapo, encontrada na Mata Atlântica e conhecida por ser polígama em áreas de abundância, poderia exibir poliginia sob certas circunstâncias.

Guerra de polegares

Esses sapos preferem ficar em pedras e têm uma coloração marrom-avermelhada que os ajuda a se camuflar no ambiente. Os machos têm espinhos longos nos polegares, que usam em combate.

Os pesquisadores registraram os sapos em afloramentos rochosos nas margens da floresta tropical, onde existem relativamente poucas fontes de água doce ou “infiltrações” disponíveis e eles estão mais expostos ao sol. Com certeza, o cenário de poucos recursos teve um impacto.

Os machos patrulhavam suas áreas de reprodução e emitiam sons agressivos para afastar os intrusos, permanecendo perto de seus ovos e girinos para protegê-los. Quando invasores do sexo masculino ignoravam seus avisos, eles se lançavam sobre eles em ataque, com chutes e o uso dos espinhos para agarrar e arremessar seus oponentes.

Relacionamento longo

A equipe descobriu que os machos cruzavam com apenas duas fêmeas, em especial com uma dominante, mas também com uma secundária. As fêmeas dominantes tentavam induzir o acasalamento respondendo aos chamados de cortejo dos machos com suas próprias vocalizações. Enquanto isso, as fêmeas secundárias ficavam de lado, imóveis.

Entre outras descobertas, os pesquisadores viram que os girinos eram todos meio-irmãos do mesmo pai e uma das duas mães e, a partir da presença de girinos muito mais velhos dos mesmos pais, confirmaram que as relações de acasalamento eram de longo prazo.

O arranjo parece ter benefícios para ambos os sexos. Os machos precisam evitar que outros machos usem seus criadouros que não foram fáceis de encontrar, e é vantajoso diversificar a genética tendo várias parceiras.

“A vantagem para a fêmea é que é melhor ter um macho de boa qualidade e um criadouro de boa qualidade compartilhando-o com outra fêmea do que ficar exposta e não encontrar outro sapo ou encontrar um sapo de qualidade inferior”, acrescentou Sá.

A situação também gerou competição entre as fêmeas, o que é raro entre sapos: as fêmeas dominantes realmente respondiam aos chamados dos machos e pareciam empurrar as secundárias durante o cortejo.

Agence France-Presse

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