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Mortes de negros por suposto furto de carne chega a um ano sem punidos na BA

Treze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público da Bahia por envolvimento nas mortes dos dois jovens negros

FolhaPress

29/04/2022 13h04

Foto: Reprodução / Redes sociais

Franco Adailton

Um ano após os assassinatos de Bruno Barros da Silva, 29, e de seu sobrinho Yan Barros da Silva, 19, devido a um suposto furto de carne em um supermercado de Salvador, a mãe de uma das vítimas reclama da morosidade para punir os responsáveis pelas mortes.

Treze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público da Bahia por envolvimento nas mortes dos dois jovens negros, entre elas, três funcionários da rede de supermercados Atakarejo, que teriam entregado as vítimas para um tribunal do crime.

O Tribunal de Justiça da Bahia credita a lentidão na fase de instrução processual à carência de servidores, além da agenda comprometida, segundo nota enviada pelo órgão, que prevê uma nova audiência para o próximo 29 de junho.

A mais recente movimentação do processo 0705826-16.2021.8.05.0001, que tramita sob segredo de Justiça no 1º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri, ocorreu nesta quarta-feira (27), conforme registro no sistema do TJ baiano.

Mãe de Yan, a vendedora ambulante Elaine Costa Silva, 38, conta que, até o momento, participou da primeira audiência de instrução realizada sete meses após os crimes. Na próxima, deverão estar presentes 24 pessoas, entre acusados, testemunhas e advogados.

“É um processo muito lento, desgastante e, sobretudo, doloroso. Tive que reviver tudo”, diz ela, em referência às sessões de espancamento iniciadas já no supermercado, seguidas pelas torturas feitas pelos criminosos aos quais os dois foram entregues e, por fim, as execuções.

Na ocasião, Yan e Bruno teriam sido, supostamente, flagrados por funcionários do supermercado com quatro pacotes de carne-seca avaliados em cerca de R$ 700. Por um aplicativo de mensagens, Bruno chegou a pedir dinheiro a uma amiga para pagar os produtos.

No intervalo de meia hora, enquanto tentava mobilizar outras pessoas, a amiga recebeu uma última chamada de Bruno, com a informação de que o tempo havia se esgotado. Sem notícias, familiares dos dois passaram a acompanhar os últimos momentos deles pela internet.

A primeira imagem mostrava ambos sentados numa área do supermercado, ao lado dos pacotes supostamente furtados. Na segunda, aparecem sentados numa escada já em poder dos criminosos. A última mostra os corpos dos dois com os rostos desfigurados por balas.

A Justiça determinou que 11 dos 13 denunciados aguardem julgamento sob regime fechado. Acusados de ocultação de cadáver, outros dois aguardam em liberdade, condicionados a medidas cautelares, como comparecimento mensal em juízo, entre outras.

“A prisão preventiva só foi decretada em 13 de julho de 2021, devido à complexidade do crime e a inúmeros acusados”, registra despacho remetido ao Diário de Justiça Eletrônico pelo 1º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri, em novembro passado.

“Eu nunca imaginei que precisaria de um atendimento desse [um processo motivado pelo assassinato de um filho]”, lamenta a mãe de Silva. “Mas vejo como uma falta de respeito [a demora no andamento] com as famílias”.

Além da denúncia criminal por parte do Ministério Público, a Defensoria Pública da Bahia, que representa a mãe de Yan, ajuizou uma ação, na 9ª Vara Cível de Salvador, contra o Atakarejo com um pedido de indenização para a família do jovem morto aos 19 anos.

“O principal resultado que eu quero é agilidade na condenação de todos os envolvidos. Só assim para aliviar um pouco nossa dor”, cobra a vendedora. “Fora isso, qualquer outra coisa que acontecer não vai trazer meu filho de volta”.

Ainda, a Área Especializada de Proteção aos Direitos Humanos da Defensoria ajuizou ação coletiva com pedido de indenização no valor de R$ 200 milhões como reparação à população negra, valor a ser revertido para criação de um fundo estadual de combate ao racismo.
Segundo nota do órgão, a Defensoria chegou a pedir a suspensão deste processo na Justiça comum, na tentativa de firmar um acordo extrajudicial com a empresa. Sem sucesso na conciliação, requisitou o prosseguimento da ação, com intimação do Atakarejo, diz o texto.

Procurada, a rede Atarakejo, que tem 28 lojas na Bahia, não respondeu às solicitações feitas pela Folha sobre quais tipos de assistência prestou às famílias das vítimas nem se os funcionários foram demitidos, tampouco se posicionou quanto às ações da Defensoria.

Na época das mortes, por meio de nota, a rede havia declarado que “se tratam de fatos que envolvem segurança pública e que certamente serão investigados e conduzidos pela autoridade pública competente”.

“Por agir de acordo com a legislação vigente e atuar rigorosamente com as normas legais, o Atakadão Atakarejo está à disposição e colaborando com todas as informações necessárias para a investigação”, dizia a rede na nota do ano passado.

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