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Médico filma funcionário negro acorrentado, faz analogia a escravidão e diz que foi uma ‘brincadeira’

No vídeo, o médico Marcos Antônio Souza Júnior faz comentários racistas para o homem: “Vai ficar na minha senzala”, zomba

Redação Jornal de Brasília

17/02/2022 11h19

Foto: Reprodução

Um médico de Goiânia, Goiás, postou, nesta terça-feira, 15, um vídeo em suas redes sociais onde um funcionário negro está algemado e acorrentando, em alusão aos tempos de escravidão. O médico Marcos Antônio Souza Júnior é quem grava a cena e faz comentários racistas para o homem: “Falei para estudar, mas não quer. Então vai ficar na minha senzala”, zomba.

Apesar de ter apagado o conteúdo, alguns seguidores fizeram uma gravação de tela e postaram a cena em outras redes sociais, como o Twitter.

Imediatamente o vídeo repercutiu negativamente. Marcos Antônio, então, fez um novo vídeo na tarde desta quarta-feira, 16, alegando que se tratava apenas de uma “brincadeira” entre ambos.

Ao lado do funcionário, o médico o questiona sobre o que ele achou da repercussão do vídeo.

“O povo tem é que trabalhar. A vida melhor que Deus deu para o homem foi trabalhar, moçada”, afirma o funcionário.

“Aqui é tranquilidade, paz. Não tem nada de escravidão. Quem não queria uma vida dessa”, completa ainda o médico.

Mesmo com as alegações dos envolvidos, a Polícia Civil de Goiás está investigando o caso como crime de racismo.

O Conselho Regional de Medicina (Cremego) afirmou que não irá comentar o caso.

Cuidado, o vídeo abaixo apresenta conteúdo que pode ser sensível e despertar gatilhos

Investigação

A Polícia Civil de Goiás instaurou um inquérito para apurar o crime de racismo. Responsável pelas investigações, o delegado Gustavo Cabral informou que apesar do funcionário alegar, em depoimento, que a situação tratava-se de uma brincadeira, o médico pode pegar até cinco anos de prisão.

“Apesar da vítima informar que partiu dela essa iniciativa e que não deseja representar contra esse médico por eventual constrangimento ou injúria, nós observamos a possibilidade de estar caracterizando o crime previsto no artigo 20, da lei de crimes raciais, por ele, aparentemente, ter incitado e induzido à prática de racismo”, explicou o delegado.

Repúdio

Em nota, a prefeitura da cidade disse que “o ato divulgado, sem explicação aceitável, causa profunda repulsa e deve ser objeto de investigação e apuração pela autoridade policial competente, para uma célere instrução e responsabilização nos termos da lei”.

Defensor dos direitos da população negra, e reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente ressalta que o caso não pode ser tratado como uma “brincadeira”.

“Não pode se brincar, não é uma brincadeira devida nem apropriada e ela menos ainda serve como uma justificativa de retirar seja responsabilidade, seja culpabilidade, seja civil, penal ou criminal ou mesmo social em um fato concreto como esse”, disse.

Gustavo Cabral, responsável pela investigação, também repudiou a situação.

“É terrível ver esse racismo estrutural ocorrendo. É terrível ver a própria vítima consentir na mente dela com essa situação, isso precisa ser mudado. Espero que esse caso, além da punição individual para essa pessoa, sirva de aprendizado para toda sociedade, para superar esse terrível racismo estrutural que a gente vive”, disse Gustavo Cabral

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