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Idoso de MT conquista Certidão de Nascimento aos 72 anos

Ele passou todo esse tempo vivendo em uma fazenda, a 65 km da cidade

Redação Jornal de Brasília

21/09/2022 12h11

Foto: Reprodução

Sem registro, sem documentos oficiais, sem acesso aos direitos básicos garantidos pela Constituição, como ser atendido em um posto de saúde, ter carteira de trabalho ou mesmo votar. Foi assim a vida de Márcio Messias da Conceição, de 72 anos, que conquistou o registro tardio pela Vara Única de Campinápolis, a 565 km de Cuiabá e 16.223 moradores.

Ele passou todo esse tempo vivendo em uma fazenda, a 65 km da cidade. Desde que conseguiu o documento, emitido na segunda-feira (12), Márcio tem uma nova vida.

Para “existir”, contou com a ajuda de um amigo, o eletricista Aparecido Antônio de Lima, de 50 anos. Os dois se conhecem desde 2004, mas foi somente com a emergência de se vacinar contra a Covid-19, no ano passado, que eles buscaram agilizar a documentação. Afinal, sem registro, ele não poderia se imunizar.

Com esse intuito, Aparecido procurou o gerente da fazenda onde Márcio trabalhava e morava. O patrão disse, segundo ele, que não ajudaria e ignorou o pedido. A primeira dose só veio com o auxílio de um vereador, que conseguiu a emissão de um cartão do Sistema Único de Saúde (SUS).

Márcio não vive mais na fazenda e os amigos se tornaram a família que nunca teve. Afinal, ele saiu de casa aos 9 anos — por isso, sequer se preocupou e não sabia da importância de levar consigo os documentos.

Natural de Imperatriz (MA), o idoso veio para Mato Grosso para trabalhar no campo desde que rompeu com a família.

“Escolhi o estado por causa da oportunidade de trabalho”, contou.

Sobre a fazenda onde passou boa parte da vida, Márcio relatou que trabalhava com madeira e fazia porteiras também. Pelo trabalho, segundo ele, deveria receber R$ 170, mas ganhava apenas R$ 70.

A suspeita de que ele tenha passado as duas últimas décadas em trabalho análogo à escravidão estão sendo investigadas, de acordo com o promotor de Justiça Roberto Arroio Farinazzo Junior, que cuidou do caso no Ministério Público do Estado.

A história de Márcio, segundo o protomor, evidencia um problema presente na zona rural.

“Infelizmente, algumas pessoas passam toda a vida sem mal saber a data de nascimento e o próprio nome. Normalmente são pessoas que vivem na área rural, em situação de extrema vulnerabilidade e invisibilidade social”, disse.

Já na decisão da juíza Lorena Amaral Malhado, que proferiu a urgência do Registro Tardio de Nascimento ao idoso, fundamentou que esse registro assegura os direitos básicos de Márcio, assim como de qualquer cidadão ao nascer.

“Sua inexistência impossibilita o exercício dos atos civis, causando ao indivíduo a impossibilidade de ser matriculado em estabelecimento de ensino, obter Carteira de Trabalho e Previdência Social”, afirmou na sentença.

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