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Conheça a história da Santinha, uma jiboia que chegou quase morta e foi e tratada por uma ONG

O estado da jiboia era tão grave, que ela nem mesmo conseguia coordenar a cabeça, o pescoço, ela estava incoordenável

Redação Jornal de Brasília

04/04/2023 7h03

Foto: Divulgação

A jiboia (Boa constrictor) apareceu extremamente machucada no Instituto Vida Livre. A mandíbula da Santinha – nome carinhosamente escolhido por Roched Seba, 36, diretor da ONG – estava totalmente quebrado e alguns profissionais pensaram até em eutanasia, técnica para promover uma morte calma e tranquila para o animal.

Thiago Muniz, 41 anos, foi um dos veterinários que atenderam a Santinha e explica o que, de fato, aconteceu. “A Santinha chegou com um traumatismo muito severo, onde ela teve um fratura de mandíbula. A fratura envolvia vários ossos mandibulares, que estavam quebrados e completamente desalinhados”, explicou.

“Além da fratura, o animal estava com uma sintomatologia neurológica, ocorrência provavelmente do trauma”, disse Thiago.

Os profissionais suspeitam de que Santinha tenha sofrido algum tipo de agressão, devido ao quadro que ela chegou ao Instituto. “Justamente pelo traumatismo dela se concentrar na região da mandíbula. Muito provavelmente a agressão se deve ao medo que as pessoas têm das serpentes”, enfatisou.

Thiago ainda explica que mesmo a espécie de Santinha sendo uma serpente, ela não promove nenhum risco às pessoas. Não é um animal venenoso, mas sim, um animal de extrema importância para o equilíbrio biológico.

Os profissionais fizeram um tratamento intensivo no primeiro atendimento para que Santinha tivesse chances de sobreviver.

Os profissionais arquitetaram uma tala na mandíbula do animal, que era de dentro para fora, para que assim, a jiboia não mexesse a cabeça. Eles tomaram todo o cuidado para que não fechasse a entrada de ar dela e também para que pudessem alimentá-la por sonda, já que ela não conseguia fazer isso sozinha.

Segundo Thiago, houve um momento que todos os profissionais que tratariam a Santinha, pensaram seriamente na hipótese de eutanasia, devido ao quadro gravíssimo dela. “Nós decidimos tentar, porque afinal toda vida importa, todo o esforço vale a pena. Se a gente conseguisse recuperar aquele animal, poderíamos dar uma condição de vida boa para ela. Não só manter o animal vivo, mas manter o animal vivo de forma funcional, para que ela pudesse se alimentar sozinha”.

Roched Seba explica que Santinha é uma espécie ameaçada de extinção e, por ser um animal de patrimônio nacional e um bem coletivo, o correto seria que o poder público pagasse pelos gastos que ela tem diariamente. “Ninguém paga por ela. O poder público não paga por ela, as pessoas não pagam por ela. Claro, que as pessoas que doam, sim”, disse.

Durante esses sete meses que o animal está no Instituto inúmeros procedimentos foram realizados, como lazer, ozônio, sonografia, raio x. Além do período em que ela foi imobilizada e só comia por sonda.

Através de parcerias com profissionais da área, que são colaboradores da ONG, é possível baratear todo o tratamento mas, mesmo assim, manter uma jiboia sob cuidados é bem caro. “Quem pagou por isso fomos nós, com nosso trabalho, com nossos recursos, com nossa rede de apoio com pessoas que vêm e ajudam”, relatou o diretor.

Animais que correm o risco de extinção, como a Santinha, preguiças, onças-pintadas, rinosserontes, são caçados e mortos diariamente e o único responsável por isso, é o homem. “Um animal que acaba é pra sempre. A onça-pintada se for extinta é pra sempre. É muito sério o homem assinar a extinsão de tantos animais, é uma questão muito séria”, falou.

A importância que a sociedade dá para animais domésticos como cães e gatos é muito diferente da que dão para animais silvestres. Seba acredita que a importância biológica da Santinha é muito mais relevante do que a de um cachorro. “Claro que com o amor da família, a questão afetiva. Em um olhar neutro do assunto, seria muito mais importante e caro salvar a Santinha, uma preguiça ou outro animal silvestre que corre risco de extinção”.

Nasce uma estrela


O primeiro vídeo da Santinha foi postado logo que ela chegou no Instituto Vida Livre, em agosto de 2023. Os internautas logo se revoltaram com o estado do animal e uma rede de apoio se formou.

Como forma de conscientizar sobre a importância da preservação e de nunca matar animais, Roched Seba, diretor da ONG, começou a compartilhar o tratamento da jiboia e logo uma legião de fãs surgiu – os famosos Santiniers.

A cada novo passo do tratamento, a cada nova conquista, os internautas vibravam e comemoravam. Muitos diziam acompanhar o caso desde o começo, o que acabou tornando o processo de recuperação muito mais alegre e esperançoso para a equipe.

Thiago explica que a Santinha superou todas as expectativas da equipe, pois eles acreditavam que mesmo quando ela se recuperasse, teria que viver em cativeiro, para poder ser alimentada, mas ela está evoluindo a cada dia e há chances reais de devolvê-la ao seu habit natural.

No dia 24 de fevereiro, após mais de seis meses de tratamento, a Santinha deu o primeiro bote e comeu sozinha um rato. “Ela deu o bote, ela pegou uma presa viva, novamente. Ela voltou a ter todo aquele comportamento natural do animal. Ela continuou com o comportamento de estranhar pessoas, atacando. Ela pegou presas sozinhas”, comemorou o veterinário.

“A gente tem essa expectativa, sim, em retornar ela para a natureza. Não por enquanto, mas é algo que será trabalhado, elaborado, testado, porque é um animal que se mostrou muito acima das nossas expectativas. Vai depender dela”, finalizou.

O começo do Instituto


O Instituto nasceu da paixão e pesquisa do comunicador e diretor do Instituto Vida Livre, Roched Seba, 36. Desde a infância, ele era aficionado por bichos e até desenvolveu seu lado artístico, pintando pássaros e outros animais.

Durante a faculdade de comunicação em um projeto de pesquisa científica, Seba resolveu que investiria seu tempo em um propósito maior e, mesmo gostando da comunicação, utilizaria seu amor pelos animais para tocar os planos.

Assim, em 2014, finalizou o mestrado de Engenharia de Produção, na Coppe-UFRJ, e através de amigos em comum, conheceu o cantor Ney Matogrosso. Após muitas conversas e preparo, Ney se tornou o patrono do Instituto, cedendo o próprio espaço na fazenda particular para ser a primeira área de soltura da ONG.

Em março de 2015, o Instituto Vida Livre começa as operações na área de Soltura de Animais Silvestres – ASAS Vida Livre Serra do Matogrosso, em Saquarema, Rio de Janeiro. Desde então, esse foi o primeiro espaço de soltura da ONG.

“Eu me lembro da primeira soltura. Estávamos eu e Ney e soltamos um gavião caboclo. Um gavião enorme. Foi muito emocionante. Foi a primeira realização concreta do trabalho”.

Após o primeiro passo, a ONG começou a ter contato direto com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, que juntos trabalham para soltar, cuidar e devolver à natureza essas espécies ameaçadas de extinção.

A falta do poder público


Seba explica que a ONG não tem nenhuma parceira fixa com nenhuma empresa, que as doações ocorrem de forma esporádica e que o Instituto vive verdadeiramente de doações, eventos, como jantar beneficente etc.

“Eu sou muito feliz com o trabalho que a gente realiza, tanto pessoas que são da minha equipe, ou pessoas que estão no ecossistema do Instituto, de uma forma geral, são relações muito importantes, pessoas que se tornaram minhas amigas. É uma relação muito conectada”, explica o diretor da ONG.

Em um universo de amor e animais fofinhos também existem dificuldades e momentos conturbados. Mesmo sendo o diretor do Instituto, Seba não possui um salário fixo, pois o trabalho dele é voluntário.

Segundo Seba, as pessoas acham normal existir o padre Júlio Lancelotti, por exemplo, que cuida de moradores de rua e pessoas em situação de vulnerabilidade, e sem receber nada por isso. Em vez de cobrar essa ajuda e prestação de serviços do poder público.

“Eu acho que precisa mudar várias coisas, vários pensamentos. Acho que, de uma forma geral, a sociedade, o poder público, eles se acostumam de existir pessoas que são apaixonadas por uma determinada causa, e que com muito pouco, fazem muito”, explicou.

Estadão conteúdo

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