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Mundo

‘Minha filha e minha mulher estão presas em Wuhan’

Na semana passada, Wuhan fechou o aeroporto e suspendeu meios de transporte, como ônibus e o metrô

Redação Jornal de Brasília

28/01/2020 20h07

Pablo Lassalle, de 44 anos, despediu-se da mulher e da filha em outubro do ano passado e imaginava que voltaria a vê-las no último domingo, 26 de janeiro. Não aconteceu. A mulher Zhang Hui, de 33 anos, e Isabela, de 1 ano e meio, partiram do Brasil com destino a Wuhan, para que a menina, brasileira, conhecesse pela primeira vez os parentes chineses. Acabaram ‘presas’ na cidade, que se tornou o epicentro do coronavírus – doença que já infectou mais de 4 mil pessoas e matou 106.

Na semana passada, Wuhan fechou o aeroporto e suspendeu meios de transporte, como ônibus e o metrô. Zhang Hui e Isabela acabaram, então, perdendo a viagem de volta ao Brasil – as passagens já estavam compradas para sábado, dia 25, poucos dias depois do anúncio das restrições. Hoje, estão isoladas no 18º andar, de uma torre de 32 andares de Wuhan, e só saem, de máscara, para ver uma tia de Zhang, chinesa que mora do outro lado da rua.

“Minha filha e minha esposa estão presas em Wuhan”, comentou Lassalle, que mora em Palhoça (SC) e trabalha com computação gráfica. “Já estava terminando a estadia delas.” Ele viveu por sete anos em Wuhan, onde conheceu a mulher, de nacionalidade chinesa. De volta ao Brasil, nasceu Isabela. “Um amigo até me falou: ‘Tira elas de lá porque a coisa está bem feia.” Não deu tempo. Quando viu as informações de que o aeroporto seria fechado, diz, foi “como se tudo estivesse desmoronando”.

As medidas de suspensão das viagens foram tomadas, segundo o governo chinês, como forma de conter o avanço do surto da doença. Ainda não se sabe, exatamente, a forma de contágio do coronavírus, mas há transmissão entre humanos. A China vem sendo pressionada internacionalmente para dar respostas ágeis contra a doença – enquanto isso, chineses criticam as proibições e argumentam que as restrições de viagens acabaram dificultando até mesmo o acesso aos serviços de saúde.

Nesta segunda-feira, 27, o prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, admitiu que 5 milhões – dos 11 milhões de habitantes de Wuhan – deixaram a cidade antes da restrição de viagens, classificada por ele como algo “sem precedentes na história da humanidade”. Pressionado, acabou renunciando ao cargo junto com o secretário do Partido Comunista local, Ma Guoqiang.

Segundo Lassalle, mãe e filha estão bem. Não falta comida em casa – há um estoque para, pelo menos três semanas. “A recomendação número 1 é não sair de casa”, conta. Alguns supermercados na cidade, porém, tiveram escassez de produtos, depois de uma corrida da população às compras. Ele teme que a situação se agrave com o aumento do número de infectados. “Esses números… Não quero nem pensar, fico imaginando pessoas infectadas, vai ficar um caos”, diz.

“Estamos surpresos e estou aqui agoniado”, afirma Lassalle. “As pessoas não vão ficar bem. E, de alguma forma, minha família também não está segura.” Segundo a mulher contou a Lassalle, o clima na cidade é de tensão, estresse e incerteza por causa da quarentena. E não há informações sobre quando o período de suspensão das viagens terminará.

Lassalle, que acompanha as notícias sobre a Província de Hubei, onde está localizada a cidade de Wuhan, por meio de transmissões de vídeo na internet, agora tenta se conectar com outros brasileiros “presos” na cidade. Ele pleiteia que o Brasil providencie o transporte de seus cidadãos de volta ao País. Os Estados Unidos já prometeram retirar seus cidadãos de Wuhan em um voo fretado.

Em um vídeo gravado nesta terça-feira, 28, em Wuhan, Zhang diz que estão todos ansiosos. “Nos sentimos nervosos de não poder voltar ao Brasil”, diz ela.

Nesta terça-feira, 28, o presidente Jair Bolsonaro disse que não deve, por enquanto, retirar famílias brasileiras de regiões onde há pessoas infectadas. “Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando”, disse, sem deixar claro a que família se referia. “Não seria oportuno a gente tirar de lá, com todo o respeito.”

Procurado nesta terça, o Ministério das Relações Exteriores não se manifestou até as 17 horas.

Estadão Conteúdo

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