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Tempos de ouro e de rock

Arquivo Geral

06/10/2013 11h09

A conquista do Pan Americano de Indianapólis, em 1987, fez com que a  década de 80 fosse considerada como uma das mais importantes para o basquete brasileiro. Ídolos da capital e do País, Oscar e João Vianna, o Pipoka,  representaram o Distrito Federal naquele  ouro histórico. 
 
  
Fora do esporte, o período foi marcado pelo surgimento de grandes nomes do rock nacional, como Plebe Rude,  Legião Urbana e  Capital Inicial.
 
Embalados pelo clima de vitórias consideráveis na modalidade, os ex-atletas  até  se importavam com os diferentes estilos musicais, mas a trilha sonora que marcou a época  foi o barulho  do quique da bola laranja.
 
Antes mesmo do surgimento das bandas roqueiras da cidade, Pipoka já curtia o ritmo. “Ouvia muito Led Zeppelin, Kiss e Black Sabbath. Depois que os Paralamas apareceram, também gostei muito. A gente não tinha tempo para muita coisa. Eu,  particularmente, treinava basquete dia e noite”, assume o pivô.
 
Com a  medalha de ouro do Pan  em mãos, foi fácil para o ex-jogador  relembrar os bons tempos que passou  no Clube Vizinhança, lugar  onde ele e outros atletas iniciaram suas carreiras. 
 
Curtir as bandas, no entanto, não significa colecionar  discos e fitas K7, já que a grana era curta.  “Naquela época a moda era o discman e o toca-fitas. O aparelho era caro e fugia da situação financeira da minha família”, lembra Pipoka.
 
Na pegada da MPB
 
Enquanto Pipoka curtia o bom e velho rock and roll,  o  ex-companheiro das quadras, José Carlos Vidal, atual diretor do time do UniCeub e ex-armador da antiga Associação dos Economiários de Brasília (AEB), hoje Apsef, não se deixou influenciar pela moda. 
 
“Nunca fui muito envolvido com rock. Na época, o Zé Ramalho e o Belchior me atraíam mais. Daqui de Brasília, o Oswaldo Montenegro era a minha paixão. Fui no primeiro show dele”, recorda o diretor. Apesar da preferência, Vidal  viveu seu momento rebelde. “Tive o prazer de estar no primeiro Rock in Rio, em Jacarepaguá (1985)”, gabou-se.
 
 
Insistência fez Pipoka “vingar”
 
 
O Clube Vizinhança (308 Sul)  revelou grandes nomes do basquete nacional. Na última semana, o local  recebeu três  “crias”  que atuaram na década de  1980: Pipoka, Márcio Boamorte e Henrique Paiva, o Henricão.
 
Antes do “atrasado” Pipoka chegar para o bate-papo, os outros dois amigos contaram sobre  a convivência com o pivô grandalhão de 2,04 m.
 
“Ele era alto, magro e desengonçado. Tinha os braços muito grandes, usava um lindo óculos fundo de garrafa (risos) e não conseguia segurar a bola”, brincou Márcio.
 
Envergonhado por não jogar direito, Pipoka contou com a insistência do técnico Pedro Rodrigues, que fazia questão de buscá-lo em casa para os treinos, para seguir no esporte. “Funcionava desse jeito. Aos 17 anos ele desabrochou e ninguém mais o segurou”, lembra Henricão.
 
Do grupo formado no Vizinhança, Pipoka foi um dos únicos que conseguiu vingar na modalidade,  tanto que jogou em outros países, inclusive na NBA, a liga norte-americana de basquete,  e sobrevive do esporte. “Ele é uma referência não só aqui, mas em todo o  mundo”, elogia Márcio.
 
 Vizinhança: só boas recordações


Bem humorados, os ex-atletas Pipoka, Márcio Boamorte e Henrique Paiva relembraram os momentos de felicidade e também as dificuldades que enfrentavam quando iniciaram na modalidade.
 
Frequentadores do Clube Vizinhança quando adolescentes, eles compararam a atual situação do espaço com o passado. “Esse ginásio bonito não tinha não. A gente treinava numa quadra de cimento ali em cima mesmo”, disse  Pipoka.
 
“Cinquentões”,  os amigos brincavam com as marcas que a idade deixou em cada um deles. “Segura esse joelho aí, Henrique!”, gritou Márcio enquanto o amigo descia as escadas da arquibancada. 
Assim que parou, Henrique concordou.“Está difícil mesmo. Se  agachar, não consigo levantar mais não”, admitiu o ex-atleta, companheiro de José Vidal nas quadras do Apsef.
 
A CULPA É DO TÊNIS
 
Ouvindo a conversa de longe, Pipoka aproximou-se e colocou a culpa do desgaste dos joelhos no tênis utilizado pela maioria dos atletas da época.
 
“Sabe esse All Star que a molecada costuma usar hoje? Pois é. Ele era top de linha e caríssimo. Para termos um, tinha que vir de fora”, recorda o medalhista de ouro do Pan Americano de 1987.
 
Sem intervalos,  logo citou as principais características do calçado. “Antes a gente não tinha tênis com essa tecnologia de amortecimento que temos hoje. O All Star é seco e tem amortecimento zero (risos), não presta para esporte nenhum aquilo lá”, critica.
 
BOAS RECORDAÇÕES
 
Quando questionados sobre as principais lembranças que guardam da década, os ex-jogadores pararam por alguns segundos até elegeram as melhores recordações.
 
O primeiro a falar foi Henrique. Além de ressaltar Oscar e Pipoka como destaques da modalidade, o ex-ala/pivô citou um ícone do esporte nacional. 
 
“Joaquim Cruz, antes de começar a correr, jogou basquete conosco e era muito bom. A diferença é que ele foi o melhor nas duas modalidades e optou pelas corridas mesmo”, disse, elogiando o único brasileiro medalhista de ouro olímpico em provas de pista.
 
Márcio, por sua vez,  destacou as amizades que mantém  com José Vidal – colega de trabalho no  UniCeub – e  Pipoka. Este,  com um sorriso, soltou: “Foi nessa época que conheci a minha mulher, poxa”, destacou.
 
 
O melhor Brasil em quadra
 
Além dos grandes nomes revelados em Brasília na década de 1980, a conquista do ouro no Pan Americano, em 1987, na cidade de Indianápolis (EUA), foi o ápice da época para o esporte.
 
Na final do torneio, o Brasil enfrentou os Estados Unidos. Com o ginásio cheio e o favoritismo dos rivais, a seleção canarinha surpreendeu e venceu o time da casa por 120 x 115. O triunfo é tão simbólico que chega a ter valor maior do que  o  bicampeonato mundial de 1959 e 1963.
 
Com o objetivo de preparar os atletas, o técnico Ary Vidal treinou pesado o seu elenco. Pipoka lembra com detalhes como foi esse processo para o Pan. 
 
“O professor Ary gostava da parte física. Aí delegou para o Valdir Barbante a preparação,  e ele fez um trabalho fantástico. No último treino corremos mais de uma hora. A equipe estava na ponta dos cascos. Chegamos para jogar e engrenamos de vez”, recorda o pivô. Pipoka tinha 23 anos quando foi convocado para compor o elenco  na  disputa  nos  Estados Unidos. 
 
A semifinal
 
Há quem afirme que o confronto mais difícil do Brasil ocorreu  na final. O brasiliense discorda da afirmação e garante que o jogo mais disputado foi contra o México, na semifinal.
 
“O basquete deles era muito semelhante ao nosso. Era um jogo de ida e volta. A gente pontuava e eles respondiam. Ao final, era 100% ataque e nada de defesa (risos). Sem contar que o jogo foi prorrogado umas mil vezes, foi dificílimo ganhar”, garante.
 
O ex-atleta lembra com carinho da decisão. “O nosso objetivo era chegar na final e não levar a medalha de ouro. O ginásio estava lotado e cheio de gringos. O Oscar fez um trabalho de pressão psicológia muito bom e eles não aguentaram. No final, acabamos ganhamos”, comemora.
 
 
Leia a reportagem completa na edição digital de hoje do Jornal de Brasília 

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