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"Nunca tentei me matar"

Arquivo Geral

13/11/2013 9h28

Aos 28 anos e sem medo de admitir que sofre de depressão, Rebeca Braga Lakiss Gusmão está bem diferente das fotos e das reportagens nas quais costumava aparecer quando brilhava nas piscinas. De cabelo longo, bem mais magra e vaidosa, ela aceitou conversar com o Jornal de Brasília sobre as dificuldades dos últimos quatro anos.

 

No local onde costuma malhar – terapia que adquiriu após o banimento do esporte em 2009 –, ela abriu o jogo em 20 minutos. Rebeca falou sobre a nova mulher que “nasceu” após os três dias de internação na UTI, os traumas do passado, além da luta para provar a sua inocência das acusações de doping.

 

Em setembro, devido a uma dosagem alta de remédio, Rebeca foi internada no Hospital Regional do Guará e, em seguida, na UTI do Hospital Regional de Samambaia. 

 

“Não tentei o suicídio. Me veio à  cabeça algumas vezes, mas nunca tentei me matar. Foi minha irresponsabilidade. Não estava conseguindo dormir e, por conta própria, dobrei a dose da medicação, que já era forte”, disse. “A maior lição que tiro disso é ter mais uma chance de estar aqui para viver o máximo possível e fazer o bem.”

 

Após muito tempo longe das águas, está de volta. Vinte e dois quilos mais magra, ela usa a piscina para combater a depressão. 

 

Cuidadosa com a mídia

Cuidadosa ao pronunciar cada palavra, Rebeca Gusmão não esconde o sorriso quando o assunto é sua autoestima. “É claro que hoje, quando me olho no espelho, vejo uma mulher mais bonita e as pessoas comentam isso na rua. Todo mundo gosta de ser elogiado.”

 

Ciente dos “adjetivos” que recebia antes de chegar à forma física atual, ela confessa que não se importava com a opinião alheia. 

 

“Para ser tachado, basta aparecer na mídia. Procurava não ler e não ver, mas é claro que machuca. Me preocupava mesmo com a reação dos meus pais”, lembra.

 

A preocupação era tão grande que Rebeca acordava mais cedo e escondia os jornais dos pais. “Eles ficavam abalados e eu os impedia de ver os telejornais. Quando a ofensa vem de alguém próximo, machuca muito mais. Com os meus pais não aconteceu, mas com amigos, sim.”

 

Menos abalada, Rebeca culpa a mídia pelas críticas. “As pessoas acreditam naquilo que a mídia expõe. Poucos vieram saber o meu lado e hoje eu não dou entrevistas para muita gente por causa disso.”

 
 
A inocência custa muito caro
 
Primeira brasileira a ganhar uma medalha de ouro em Jogos Pan-Americanos – nos 50 m e 100 m nado livre –, no Rio de Janeiro, em 2007, Rebeca Gusmão passou por altos e baixos em sua vida. 
 
 
No fim daquele mesmo ano, ela testou positivo para esteróides anabolizantes em exames realizados durante a competição e perdeu as medalhas conquistadas. Banida definitivamente da sua maior paixão – decisão dada pela Federação Internacional de Natação (Fina), em 2009 –, a atleta brasiliense entrou em profunda depressão.
 
Em 2011, outro brasileiro foi flagrado em exame antidoping. Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, Cesar Cielo foi o acusado.
 
Eduardo de Rose, membro-fundador da Agência Mundial Antidoping, disse que “o que ocorreu foi a contaminação da cafeína que ele tomou em 2009”. No fim, ele não foi inocentado.
 
 
“O (Cesar) Cielo pagou um advogado de US$ 150 mil. Com um dinheiro desse, fica difícil não ganhar com um advogado que nunca perdeu causas de doping”, dispara. 
 
 
Até hoje lutando para provar a sua inocência, a brasiliense busca um reforço financeiro para reativar o caso que está na Suíça, em segredo de Justiça. “Quando se tem dinheiro, fica fácil de contratar bons advogados. Estou recorrendo na Justiça Suíça, mas é claro que preciso de ajuda. É um processo muito delicado”, conta. Para Rebeca, provar sua inocência serviria apenas como paz individual. Isso porque ela ainda não decidiu se voltaria ou não às competições.
 
O SUPINO
 
Depois do afastamento das piscinas, ela também se aventurou pelo futebol feminino e, depois, supino – levantamento de peso. Rebeca, inclusive, foi campeã mundial da categoria até 90 kg, em 2009. 
 
Com alguns quilos a mais na época, ela justifica o aumento de peso. “A gente tem que vestir a armadura do esporte praticado. Quando era atleta tinha uma armadura, hoje sou mais voltada ao fitness”. (K.M.O.)
 
 
Apoio em casa e de sua equipe
 
No ano  de 2009, quando foi sentenciada a não mais participar de competições de  natação, Rebeca Gusmão chegou a pesar 104 quilos. A depressão a consumiu e a atleta emagreceu mais de 40 quilos. Com o acompanhamento médico e uso de medicamentos, hoje, a brasiliense chegou à casa dos 73 quilos.
 
Satisfeita com o corpo que tem, Rebeca faz questão de agradecer aos parceiros que a ajudaram a superar o passado. “A Stúdio MF Personal, a Clínica Corpo Perfeito, do Dr. Rodrigo Vaz e a GSN que me ajuda na parte de suplementação, Dra Patrícia da famácia de manipulação Vitale e a academia Companhia Athlética que me dá esse suporte para malhar”.
 
 
APOIO DOS PAIS

Rebeca conta que, mesmo quando pesava mais de 100 quilos, seus pais jamais a reprimiam em continuar no esporte. 
 
“Precisava comer de madrugada e lá ia a minha mãe me levar a comida. Isso é muito difícil de encontrar hoje em dia. Sobre o meu biotipo, quando eles vinham reclamar, dizia que a culpa era deles pela genética que me deram”, brinca a atleta.

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