À beira do Lago Paranoá, no clube da AABB, muitas recordações vieram à tona. Os ex-jogadores e grandes nomes do basquete de Brasília se encontraram para relembrar momentos de glória quando eram as estrelas da Capital Federal com a bola laranja, na década de 1970. De um lado, o vice-campeão mundial pelo Franca (SP), José Magno, o Magú. Do outro, o ala/armador ícone do antigo Motonáutica, Emirton Dória, o divertido Tata.
Sete anos após o primeiro torneio oficial de basquete em Brasília (1963), surgiu o grande nome da modalidade do País. Numa tarde quente típica do cerrado, os dois ex-atletas não esqueceram de citar o furacão Oscar Schmidt. Na época, três times eram os maiores rivais da Capital: Minas (do Magú), Clube Vizinhança (do Oscar) e Motonáutica (do Tata). Os três jogadores não chegaram a se enfrentar pelos torneios locais, mas tiveram a experiência de conhecer o maior cestinha da história da Olimpíada em amistosos.
“Lembro de terem falado de um campeonato juvenil na época entre os clubes do DF. Daí comentaram assim: ‘Toma cuidado que no Vizinhança tem um tal de Oscar’. Isso foi em 1973 e era o meu primeiro campeonato juvenil. No fim de tudo, o jogo não aconteceu”, lembra Tata. Na época, o técnico Cláudio Mortari, do Palmeiras, descobriu Oscar e o levou para São Paulo.
“Em 1973, o Motonáutica disputou um amistoso com o Palmeiras. Começamos ganhando e no final tudo se perdeu”, diz o ala/armador.
Nervoso
Companheiro de Oscar no clube Vizinhança, José Bernardino, o Zequinha, lembrou momentos vividos ao lado do cestinha. “A gente ia bater bola sozinho às vezes na quadra do Vizinhança aí alguém saiu do campo de futebol e gritou ‘socorro, tem alguém querendo bater em mim!’, era o Flávio Otero, que tinha 1,70 m, e o grandalhão Oscar queria bater nele. Aí a gente saiu em comboio para segurar o nervosinho”, relembra.
Por e-mail, Oscar mencionou a importância do cinquentenário do primeiro torneio oficial da modalidade no DF. “Isso tudo é o resumo da importância que Brasília tem para o basquete nacional”, destaca o ícone.
Oportunidade perdida
Ao contrário do ex-integrante do Minas, o jogador Magú, que teve a oportunidade de sair de Brasília e se dedicar ao Franca (SP), o flamenguista do Motonáutica, Tata, mesmo com vários convites para atuar em grandes clubes, decidiu permanecer no DF.
“Aos 14 anos o Flamengo me convidou. Na época, eu era novo e meu pai me impediu de ir porque eu tinha que estudar. Depois quis ficar, pois era bancário e me sentia bem aqui”, conta o maranhanse.
A firmeza nas decisões do passado surtiu efeito. Hoje, o atleta lamenta não ter defendido o Rubro-Negro. “É um dos meus maiores arrependimentos”. Magú logo aproveitou a oportunidade: “Eu digo com todas as letras que ele tinha condições de se dar bem lá fora.”
Rivalidade entre os clubes diverte os atletas até hoje
O atleta Magú iniciou sua vida na modalidade aos 13 anos na AABB e era comandado pelo técnico Sérgio, o Cabeça. Findado o clube, o atleta migrou para o Minas Tênis, onde ficou até receber o convite para atuar pelo Franca e lá permaneceu até se aposentar. Enquanto esteve no clube paulista, Magú conquistou o vice-campeonato mundial em 1980, na Iugoslávia.
Tata, por sua vez, era o principal jogador do Motonáutica. Apaixonado por Brasília, o ala/armador decidiu ficar na Capital e recusou todos os convites para jogar fora.
Bem humorados, Tata, aos 57 anos, e Magú, aos 56, não perderam a oportunidade de alfinetar um ao outro com o passado. O representante do Motonáutica foi o primeiro a soltar: “O toco mais bonito da minha vida eu dei no Magú e tenho certeza de que ele lembra.”
Magú, para não ficar por baixo, também deixou sua marca: “Mas ao final de cada partida a gente sempre ganhava (risos).”
A Briga que Marcou
Para esquentar ainda mais o clima, os dois relembraram um momento único que marcou a grande rivalidade entre os clubes Minas e Motonáutica. “Era uma decisão do brasiliense e a partida já havia acabado. O Téta, do Minas, e o Baiano, do meu time, já estavam se estranhando e aproveitaram a hora de cumprimentar para começar a bagunça”, recorda Tata, em meio aos sorrisos.
Correndo do fogo cruzado, Magú tentou esquivar-se com um: “Isso não foi contra o Minas, não!” Tata refrescou a memória do amigo. “Claro que foi! Eu vi o seu pé passando rente ao meu rosto (risos)”, diverte-se o ala/armador.
Às gargalhadas, Magú confessou a proeza. “Eu não sei o que estava acontecendo e estiquei o meu pé, mas não acertei em ninguém. Depois levei uma bronca e ficou tudo bem”, conclui o esperto. “Ele é o He-Man (risos)”, alfineta Tata.
Brincadeiras à parte, ao fim da entrevista, os dois fizeram questão de demonstrar a admiração que um tem pelo outro. “Quando me chamaram para conversar e disseram o nome do Magú, eu pensei: ‘Poxa! Não tem como competir com um currículo desses’”, elogia Tata.
Início à base do convite de amigos
Maduros e aposentados na modalidade, os ex-jogadores Tata, Magú e Zequinha relembraram os personagens que apresentaram o esporte que mudou a vida de todos. “O Luizão, irmão do Helvécio (ex-jogador da década de 1960 e personagem da edição de domingo passado), jogava no Motonáutica e me chamou para ir a um treino. Apaixonei-me e não larguei mais”, disse o ala/armador Tata.
Magú, pivô do Minas, decidiu ceder à modalidade por meio da insistência de um amigo. “O jogador de verdade começa a praticar o basquete em quadras comuns e um amigo meu sempre me chamava para jogar. Ele insistiu umas 30 vezes e desistiu, depois que ele parou de convidar, eu fui e apaixonei”, diz o vice-campeão mundial de 1980.
Zequinha, do Vizinhança, começou no futsal até ser convidado pelo então técnico do clube, Zé Alves, o Zezão. Emocionado, o ex-jogador não dispensa elogios ao comandante já falecido.
“Ele é um exemplo para mim. Ensinou-me coisas que vão muito além do basquete e foi o meu padrinho de casamento. Na época ele me ensinou os fundamentos do esporte e me levou para um jogo em Goiânia. Lembro que nem dormi na noite seguinte pensando no que tinha vivido”, relembra o engenheiro. (K.M.O.)