O primeiro grande contato do público brasileiro com o basquete masculino depois do fracasso da Seleção na Copa América deste ano, em Caracas, na Venezuela, aconteceu com inúmeras lembranças a uma das maiores crises vividas pelo esporte nacional nos últimos anos. Leandrinho Barbosa e Nenê Hilário, dois dos atletas da NBA que se recusaram a disputar a competição pelo Brasil, foram vaiados pela maior parte dos presentes na HSBC Arena (Rio de Janeiro), no último sábado, pela primeira partida da liga norte-americana no País, e trouxeram à tona o recente fiasco da Seleção comandada por Rubén Magnano. Assim, além de recordar a eliminação que deve tirar o Brasil de um Mundial pela primeira vez na história, o duelo entre Chicago Bulls e Washington Wizards serviu para expor a fragilidade na qual se encontra o basquetebol verde e amarelo.
Desde a grande mobilização em torno da partida (13.635 pessoas compareceram à HSBC Arena) até a qualidade do confronto deste fim de semana, é notório que o esporte da bola laranja praticado no Brasil segue muito distante do na NBA. Apesar de isto ser compreensível, é impossível negar que a Nação bicampeã mundial do esporte (no masculino) teve sua desvantagem para os criadores do basquete aumentada consideravelmente nos últimos anos. Se em 1987, a Seleção de Oscar, Marcel e Ary Vidal vencera os norte-americanos na final do Pan-Americano de Indianápolis, vinte e seis anos depois o Brasil acabou eliminado de maneira vexatória na Copa América de Basquete.
Isto pode ser explicado, em parte, pelo ‘abismo’ que separa as ligas brasileira e norte-americana. Enquanto o NBB (Novo Basquete Brasil) surgiu há apenas cinco anos, a NBA (National Basketball Association) já está consolidada há 63. Assim, o campeonato estadunidense possui uma identidade bem definida não só dentro do próprio país, como em todo mundo. O torneio brasileiro, por sua vez, ainda luta para encontrar um regulamento que se adeque à realidade dos clubes e às transmissões televisivas. Nestes cinco anos, o número de equipes participantes da NBB subiu de 14 para 18, o sistema de disputa da final foi modificado de série de cinco partidas para jogo único, e até uma segunda divisão acabou criada – entrará em vigor a partir de 2014.
A consequência de uma liga que, recém-criada, ainda busca um formato ideal é a falta de identificação com o torcedor. Prova disto é que a média de público da primeira fase do NBB 2012/2013 foi de apenas 905 pagantes. O Flamengo, atual campeão, levou somente 1.539 torcedores por partida (34% da capacidade do ginásio Álvaro Vieira Lima, onde mandou a maioria de seus jogos). Em 2011/12, apenas 803 pessoas, em média, pagaram para ver cada um dos jogos do campeonato. Números irrisórios para um dos esportes mais vencedores do Brasil.
Há de se destacar também a qualidade do basquete praticado nas duas ligas. Se os brasileiros geralmente presenciam partidas pouco equilibradas e de baixa qualidade técnica, os norte-americanos costumam apreciar jogos entre equipes de níveis mais altos e próximos. Uma das explicações para isto está na existência do Draft. Processo que acontece no início de cada temporada, ele permite aos times com pior campanha do ano anterior recrutar os jogadores teoricamente mais valiosos da liga universitária para a próxima temporada. Assim, uma franquia que não tenha obtido grandes resultados em um ano possui condições de se reerguer no ciclo seguinte. Este sistema, porém, só resiste em um país que incentive as suas categorias inferiores. Algo que falta ao Brasil.
Os bons jovens atletas que aparecem em solo verde e amarelo têm se mudado cada vez mais cedo para outros países. Principais jogadores da nova safra nacional, Raulzinho e Lucas Bebê, ambos de apenas 21 anos, por exemplo, já não jogam mais no Brasil. Os dois saíram para a Espanha ainda muito cedo e já lutam por uma vaga em times da NBA. Isto reflete nos resultados das seleções menores. Nesta temporada, A Seleção Sub-16 sequer participou da Copa América da categoria por ter sido eliminada pelo Chile no ano passado. O time Sub-17 terminou o Sul-americano na terceira colocação, atrás de Uruguai e Argentina, e a equipe Sub-19 acabou em oitavo na Universíade, caindo para as modestas Romênia e Estônia. Enquanto as categorias de base continuarem à margem do basquete brasileiro, mais vexames como o da Copa América de 2013 serão vistos.
O exemplo do torneio disputado em Caracas, aliás, é preciso. Sem poder contar com os atletas que atuam na NBA (Leandrinho, Nenê Hilário, Thiago Splitter e Anderson Varejão), o treinador da Seleção Brasileira, Rubén Magnano, teve de recorrer aos jogadores que atuam no Brasil e Europa para disputar a competição que valia vaga no Mundial de 2014. Jovens como Raulzinho, Cristiano Felício, Rafael Luz e Vítor Benite (todos com menos de 23 anos) tiveram de assumir uma responsabilidade para a qual mostraram não estar preparados.
Somado a isto, partidas apáticas dos atletas mais experientes e boas atuações dos adversários resultaram em uma eliminação ainda na primeira fase, com derrotas para discretas seleções como Canadá, Jamaica e Uruguai. A geração que recolocou o Brasil nos Jogos Olímpicos após 16 anos, em 2012, está envelhecendo, e a falta de boas peças para uma renovação preocupa.
A pretensão de igualar o basquete brasileiro ao visto no último sábado, na primeira partida oficial da NBA no País, é, de fato, muito grande. No entanto, o duelo entre Chicago Bulls e Washington Wizards, realizado na HSBC Arena, Rio de Janeiro, não deve apenas ser lembrado como o confronto que reuniu pela primeira vez na história duas equipes da maior liga de basquete do mundo no Brasil. E sim como o passo inicial para o ressurgimento do esporte que já deu três títulos mundiais (dois no masculino, e um no feminino) ao País pentacampeão no futebol.