Ex-morador de rua, Durley Soares não se deixou levar pelas más influências e jamais desistiu de seguir o caminho que sonhou para si. Formar uma família e tocar o seu próprio negócio pareciam sonhos distantes conquistados arduamente no decorrer de muitos anos. Apaixonado pela culinária e administração, ele, após inúmeras tentativas, conseguiu abrir o seu próprio negócio: a Tapiocaria Raízes do Sertão. Hoje, Durley conta com uma rede de seis franquias espalhadas pelo País e utiliza parte do lucro para ajudar quem precisa.
De forma inesperada, quando foi visitar a cidade de Samambaia há quatro meses, Durley encontrou o técnico Rogério Bornoldo, que procurava alguém que o ajudasse nos gastos de seu time de futsal. O empresário, então, se interessou pela história de Rogério e decidiu ajudá-lo.
“Hoje tenho um carro legal e uma boa casa. Por que não usaria o dinheiro para ajudar aqueles que precisam? Achei que o futsal seria uma boa”, conta o empresário. “Não entendo nada do esporte (risos), mas sei que ele pode tirar muitas crianças da rua”, completa.
Alicerce
A base da equipe é formada pelo Projeto Shalke 12, sob a liderança voluntária do professor de educação física, Farion Souza. Ao todo, 120 crianças de seis a 19 anos marcam presença todos os sábados, das 8h às 12h, na Vila Olímpica Rei Pelé, localizada na quadra 11 de Samambaia Sul.
O time adulto do projeto defenderá o nome do patrocinador a partir de fevereiro, embora já utilize o uniforme da Tapiocaria.
Ciente das necessidades de sua equipe, Durley corre atrás dos amigos para melhorar e ampliar a estrutura fornecida aos seus atletas. “Estou conversando com uma amiga minha que é fisioterapeuta. Ao que tudo indica (o apoio), tudo dará certo para o ano que vem”, espera o empresário.
Durley orgulha-se de promessa
Trajado de verde e vermelho, cores do uniforme oficial do time, Gleisson Belém é o destaque do Shalke 12 e principal aposta do Tapiocaria Raízes do Sertão. Elogiado pelo técnico e demais companheiros, o craque de 18 anos já se aventurou pelo futebol de campo, mas não vingou. Dentro das quadras tem sido diferente, e o atleta recebeu, inclusive, propostas para jogar fora do DF.
“Aqui a nossa política não é egoísta. Não queremos prender ninguém e tudo depende dele. O Gleisson será o nosso primeiro jogador a receber uma ajuda de custo, além de ter todas as condições (estrutura) para seguir na modalidade”, garante Durley.
“A gente não tem o Neymar nos campos? Pois é, esse aqui (Gleisson) é o nosso Neymar das quadras”, brinca o professor Farion.
Tímido e de cabeça baixa, o craque pouco falou. E nem precisaria, já que Durley tem prazer em administrar a carreira do garoto. “Agora, ele não precisa se preocupar porque há quem corra atrás das coisas por ele”, finaliza o empresário.
Contra o tempo

Atrasado nos estudos, Gleisson ainda cursa o primeiro ano do ensino médio. Empolgado com a oportunidade que o esporte lhe deu, ele faz planos para ter sucesso fora das quadras. “Quero me profissionalizar naquilo que gosto e fazer uma faculdade de educação física”, planeja o atleta.
Gleisson foi um dos primeiros integrantes do Projeto Shalke 12, quando tinha 13 anos. “Nossa! Ele e o primo me davam trabalho demais! Esse menino era terrível”, recorda o professor Farion. Hoje, os atletas juniores reconhecem o esforço e o sucesso que Gleisson começa a trilhar. “Eles me respeitam por eu ser maior. Tenho responsabilidade sobre eles”, orgulha-se a estrela do Shalke 12.
Só para alunos aplicados
Líder do projeto Shalke 12, Farion Souza disse que o trabalho ultrapassa os limites do esporte, ensinado à 120 crianças. “Aqui não fica menino que tira nota baixa, que responde os pais e que apronta. Eles sabem disso e se dedicam a tudo com medo de serem suspensos do futebol”, explica Farion.
Sobre as crianças mal educadas, o professor contou os truques que tem para descobrir como é o comportamento de seus alunos quando estão em casa. “Sempre tem um amiguinho ou primo que vem fofocar.”
Cuidados
Morador de Samambaia, Farion lembra que já passou por apuros na cidade e foi “salvo” justamente pelo projeto que desenvolve na cidade. “Ia ser assaltado e não fui porque o cara que ia me roubar é irmão mais velho de uma das minhas crianças. Aí ele disse: ‘Você é professor do meu irmão né? Poxa, desculpa. Estou aqui na correria, mas tá tudo bem’”, lembra.
Fora isso, o cuidado que Farion tem como cada criança é tão grande que ele é capaz de tirar dinheiro do seu próprio bolso para ajudar os pequeninos. “Eu adoto mesmo quando vejo que a necessidade dele é grande. Uma vez, uma criança de 11 anos me disse que só tinha um fogão e um colchão em casa. Não acreditei e fui verificar. Era tudo verdade”, lamenta o professor que, depois de ficar cinco dias sem dormir chateado com o assunto, socorreu à família do pequeno atleta.