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Bastidores
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Lula e a impressão de necromarketing no Rio

Vladimir Porfírio

05/11/2025 5h50

rio confronto

FOTO: PABLO PORCIUNCULA / AFP

O sucesso político da operação policial que sacudiu o Brasil no fim de outubro trouxe dividendos para o campo conservador, rendeu um restart na pré-candidatura do governador ao Senado, mas colocou o governador Cláudio Castro no radar do Poder Judiciário — seja no STF, seja no TSE, que examina um pedido de cassação de seu mandato

O plano era cirúrgico: evitando a parceria com o governo federal, a policia despejaria farta munição contra os soldados do tráfico, mas evitaria imagens de corpos de mulheres e crianças nas vielas.

A operação foi um sucesso político. Castro sabia do impacto junto ao eleitorado fluminense e, antes que a poeira baixasse, já repetia que havia “nocauteado” Lula. A cereja da ofensiva policial poderia equilibrar a disputa simbólica no campo da segurança pública, até então dominado pelo Planalto desde o sucesso da operação Carbono Oculto.

Aquela resposta forte de Castro debelou incertezas eleitorais, falando aos ouvidos da maior parte da população do Rio — pobre e tutelada pelo medo. Mas o ministro Gilmar Mendes, do STF, falou por muita gente qualificada ao cobrar um plano de ocupação para as áreas que foram alvo da operação.

Lula, por sua vez, foi cauteloso num primeiro momento. Mas, de posse novas e exclusivas informações, ele ontem descarregou o que sentia no peito, definindo a operação policial do Rio como “matança”, exigindo ampla investigação. Algo que, inclusive, segundo bastidores, resulta do acesso às mesmas informações colhidas pelo Ministro Alexandre de Moraes, em seu primeiro encontro com as autoridades fluminenses.

O Secretário de segurança do Rio, Vitor Santos, se apressou em rebater as declarações do presidente da republica, argumentando oque os órgãos de controle do Estado estavam presentes em todas as fases da operação. Ainda que ele reconheça que o problema está longe de ser resolvido no Alemão e na penha, ele nao descartou novas operações.

Pesquisas da Quest e do Datafolha, entretanto, confirmam que os objetivos originais de Castro foram alcançados com sobras: um salto de quase dez pontos percentuais na aprovação do governo, que patinava em 31% em setembro.

Menos de uma semana após a operação que deixou mais de uma centena de mortos, o governador atingiu seu maior índice desde 2022, com 40% de “bom” e “ótimo”. A mesma pesquisa, porém, mostra que a rejeição também cresceu — de 25% para 34%. Se a moda pega, já se fala no surgimento do necromarketing eleitoral.

Num cavalo de pau político, defendendo a operação antes mesmo do balanço final, Cláudio Castro restaurou o poder de fogo do discurso conservador. Bancou um consórcio informal de governadores de direita contra o crime — e, com isso, libertou a oposição a Lula de uma atuação dependente de Bolsonaro, que ainda não definiu seu candidato à Presidência.

Lula, por sua vez, reagiu à operação com frieza calculada. Bem assessorado desde a chegada de Sidônio Palmeira ao governo, fez uma declaração que restringiu o alcance eleitoral do chamado “consórcio da paz”, sem deixar de condenar as facções.

Cauteloso, o presidente autorizou a criação de um escritório do Ministério da Justiça para o combate ao crime no Rio e defendeu a integração entre as polícias estaduais e a União. Segundo fontes do PT, o gesto antecipa a decisão iminente de recriar o Ministério da Segurança Pública — ou algo semelhante.

A pergunta que não quer calar, entretanto, diz respeito ao tom das presumíveis reações do STF, caso a operação policial no Alemão e na Penha venha a caracterizar desobediência à ADPF das Favelas, que prevê a redução da letalidade das ações policiais nas comunidades. Até porque o relator, ministro Alexandre de Moraes, fez questão de tratar do assunto pessoalmente, em reunião com Cláudio Castro em solo fluminense.

No fim das contas, Cláudio Castro atirou no que viu — e acertou no que não viu. Ainda assim, precisa se acautelar quanto ao risco de tiro no pé.

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