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Verba indenizatória: quem são os senadores campeões em gastos com gasolina

O senador de Roraima Mecias Jesus está em primeiro lugar na lista dos consumidores de combustível via verba indenizatória

Agência UniCeub

24/10/2019 8h17

Atualizada 27/10/2019 10h35

Funcionários realizam pintura da cúpula do Senado. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Por Vinícius Heck 
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

Imagine estar liberado para utilizar 300 litros de gasolina por mês para abastecer o carro. No preço comum em Brasília, de R$ 4,25, por exemplo, equivaleria a um gasto de R$ 1.275. Essa é a situação de senadores, que têm direito de cobrir com verba indenizatória os gastos com combustíveis. De acordo com os dados no site da casa, na soma dos últimos três meses disponíveis (junho, julho e agosto), três senadores gastaram mais de R$ 3 mil em combustíveis. Mecias Jesus (Republicanos-RR), Irajá Abreu (PSD-TO) e Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) são os recordistas em despesas.

Mais de 100 km por dia

O senador de Roraima Mecias Jesus está em primeiro lugar na lista dos consumidores de combustível via verba indenizatória. Com gasto de R$ 3.526,89, o carro utilizado pelo parlamentar percorreu 7305 quilômetros nos meses analisados. Essa distância equivaleria a uma distância de 118 km por dia (excetuando os sábados, domingos e um feriado no período). A distância seria o suficiente para ir e voltar de Brasília a Cuzco, no Peru. O político utilizou 815,78 litros de combustível, o que resulta em uma média de 8,95km/l.

Outro senador que se destaca na lista é Irajá Abreu (PSD-TO), que percorreu 6730 quilômetros em três meses (o equivalente a ir e voltar de Brasília a Mar del Plata, na Argentina). O parlamentar precisou de 769,90 litros, que custaram R$ 3.323,33 dos recursos da verba indenizatória. O consumo médio nesses três meses foi de 8,74km/l.

O terceiro da lista é o senador do Rio de Janeiro e filho do presidente da República. Flávio Bolsonaro gastou R$ 3.160,38 com 733,56 litros de combustível. Ele percorreu 4614 quilômetros (dá para ir de Brasília a João Pessoa-PB). Ele tem a menor distância percorrida, mas o carro do “03” rendeu a menor média entre os campeões de gastos: 6,28km/l.

Carro

O carro utilizado pelos senadores é um Nissan Sentra SL, ano 2017. De acordo com site especializado, o consumo médio do carro na cidade é de 10,1km/l.

Os gabinetes dos senadores que mais consumiram foram questionados em relação aos gastos no dia 9 de outubro. Até o dia 23 de outubro, quando esta reportagem foi publicada, nenhum deles respondeu os questionamentos.

Em quarto lugar na utilização da verba indenizatória, aparece a Diretoria-Geral do Senado. A atual titular do cargo é a servidora Ilana Trombka. Foram R$ 2.840,58 gastos em 648,87 litros de combustível para percorrer 5.546 quilômetros, resultando em média de 8,54 km/l.

A assessoria do Senado Federal explicou que, de acordo com o regulamento administrativo do Senado, art. 320, os carros utilizados pelos senadores, pela Diretoria-Geral e pela Secretaria-Geral da Mesa são denominados “veículos de natureza especial”. “Esse tipo de veículo somente pode ser utilizado em Brasília. Para os veículos de natureza especial, a cota mensal de combustível é fixada em 300 litros de gasolina ou em 420 litros de álcool, vedados a antecipação e a acumulação de cotas e o abastecimento aos sábados, domingos e feriados”.

“Sempre surge um escândalo…”

O secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco, que é economista e especialista em contas públicas, é contrário ao pagamento de verba indenizatória. Ele lembra que a verba surgiu em um momento em que os parlamentares reclamavam de baixos salários. “Era uma forma de compensar esse salário. Mesmo com os reajustes, as verbas indenizatórias continuaram. Normalmente não legislam contra o interesse pessoal (…) toda vez que alguém faz um levantamento, sempre surge um escândalo, seja em aluguel de imóveis, despesas com combustíveis, entre outros gastos”. Ele entende que o gasto público deveria ser em prol do interesse público.

Gil acredita que a consciência em relação a gastos públicos parece distante do cidadão, mas que deve-se ter em mente que esse dinheiro é fruto de taxas e impostos pagos pela população e pode estar sendo usado com coisas desnecessárias e fora da atividade parlamentar. E a solução? “Deveria ser cobrado com mais intensidade. Se não houver pressão, nada vai acontecer”.

Confira os dez mais gastadores de cada mês:

Junho

Diretoria-Geral – R$ 1.332,31 – 2.600kms – 299,66 litros
Paulo Paim (PT/RS) – R$ 1.323,50 – 2.623kms – 297,57 litros
Irajá Abreu (PSD/TO) – R$ 1.318,36 – 2.544kms – 300 litros
Esperidião Amin (PP/SC) – R$ 1.257,31 – 2.433kms – 284,68 litros
Randolfe Rodrigues (REDE/AP) – R$ 1.248,93 – 2.576kms – 284,5 litros
Angelo Coronel (PSD/BA) – R$ 1.229,46 – 2.942kms – 278,69 litros
Ciro Nogueira (PP/PI) – R$ 1.215,66 – 2.633kms – 275,72 litros
Mecias Jesus (REPUBLICANOS/RR) – R$ 1.211,34 – 2.674kms – 276,37 litros
Leila Barros (PSB/DF) – R$ 1.206,67 – 3.160kms – 272,57 litros
Izalci Lucas (PSDB/DF) – R$ 1.203,82 – 2.221kms – 272,16 litros

Julho

Irajá Abreu (PSD/TO) – R$ 1.276,50 – 2.732kms – 299,51 litros
Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) – R$ 1.226,74 – 1.822kms – 284,31 litros
Mecias Jesus (REPUBLICANOS/RR) – R$ 1.217,05 – 2.373kms – 284,38 litros
Maria do Carmo Alves (DEM/SE) – R$ 1.142,56 – 2.810kms – 269,39 litros
Humberto Costa (PT/PE) – R$ 1.085,98 – 2.587kms – 256,34 litros
Kátia Abreu (PDT/TO) – R$ 990,44 – 2.703kms – 231,09 litros
Soraya Thronicke (PSL/MS) – R$ 944,86 – 1.888kms – 223,42 litros
Eduardo Gomes (MDB/TO) – R$ 942,97 – 2.125kms – 220,80 litros
Randolfe Rodrigues (REDE/AP) – R$ 931,94 – 1.788kms – 220,59 litros
Paulo Paim (PT/RS) – R$ 920,06 – 2.029kms – 209,78 litros

Agosto

Mecias Jesus (REPUBLICANOS/RR) – R$ 1.098,50 – 2.258kms – 255,03 litros
Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) – R$ 1.056,10 – 1.565kms – 245,88 litros
Irajá Abreu (PSD/TO) – R$ 728,47 – 1.454kms – 170,39 litros
Diretoria-Geral – R$ 699,63 – 1.386kms – 162,07 litros
Zequinha Marinho (PSC/PA) – R$ 663,74 – 1.488kms – 158,16 litros
Kátia Abreu (PDT/TO) – R$ 639,09 – 1.602kms – 146,27 litros
Angelo Coronel (PSD/BA) – R$ 632,84 – 1.714kms – 146,81 litros
Rodrigo Cunha (PSDB/AL) – R$ 628,55 – 1.279kms – 145,25 litros
Eduardo Gomes (MDB/TO) – R$ 624,24 – 1.565kms – 144,44 litros
Daniella Ribeiro (PP/PB) – R$ 610,84 – 1.309kms – 140,13 litros

Posicionamento

O senador Angelo Coronel entrou em contato com o Jornal de Brasília para se posicionar acerca dos gastos. Ele considera que seus gastos com combustíveis, amparados por lei, são compatíveis com a rotina de seus deslocamentos quando está em Brasília exercendo sua atividade parlamentar.

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