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JBr Literatura #011 – Entrevista com Rosa Symanski

Maria Quitéria – a soldada que conquistou o Império. “Ela não é uma heroína da Marvel, mas foi uma garota arretada da gota serena”

Gilberto Rios

19/05/2021 16h32

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A baiana Maria Quitéria de Jesus – 27 de julho de 1792 – 21 de agosto de 1853 – nasceu em uma fazenda localizada na então freguesia de São José de Itapororocas, lugarejo distrito da cidade de Feira de Santana/Ba. Ela foi à primeira mulher fardada do Exército Brasileiro onde pegou o uniforme do cunhado emprestado, cortou seus cabelos e apresentou-se como homem com o nome de soldado Medeiros, já que somente homens faziam parte do Exército juntando-se ao batalhão “Voluntários do Príncipe Dom Pedro”. Sem formação escolar, Maria Quitéria que era experiente na caça e na pesca, assim como no manejo de armas, era uma mulher diferente das moças de sua época, completamente independente o que contrariava os padrões da sociedade.

Aos 10 anos quando perdeu a sua mãe, ela ficou responsável por cuidar de suas irmãs. Seu pai casou-se mais duas vezes e Maria Quitéria teve uma relação conturbada com sua segunda madrasta, já que ela não aceitava o jeito independente da nossa baiana. Considerada a heroína da Independência, Maria Quitéria fingiu ser homem para poder entrar nas Forças Armadas e ela juntou-se às tropas que lutavam contra os portugueses na Bahia em 1822. Como soldado Medeiros, após a sua entrada para o Exército, ela teve sua identidade revelada por seu pai. O major Silva e Castro alertado da fraude não permitiu que se desligasse das tropas, já que era importante para a luta contra os portugueses por sua facilidade com o manejo de armas e sua disciplina em batalha.

Com a derrota das tropas portuguesas, em julho de 1823, Maria Quitéria foi promovida a cadete e reconhecida como heroína da Independência. Dom Pedro I deu a ela o título de “Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro”. Reconhecida por seus esforços ao trocar as saias por um uniforme, Maria Quitéria chamou a atenção de outras mulheres, as quais passaram a juntar-se às tropas e formaram um grupo comandado por nossa heroína. Maria Quitéria participou de vários combates com o batalhão, entre os quais esteve a defesa da Ilha da Maré, da Barra do Paraguaçu, de Itapuã e da Pituba. Depois da declaração da Independência, as tropas portuguesas permaneceram combatendo no Brasil. Maria Quitéria, mais uma vez, destacou-se ao guerrear com as mulheres de seu grupo, na foz do rio Paraguaçu, na Bahia.
Após o fim das guerras pela Independência, Maria Quitéria decidiu retornar à região onde morava. Dom Pedro I escreveu uma carta ao pai dela reconhecendo sua importância para o Brasil e pedindo que ela fosse perdoada por fugir de casa. Posteriormente, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito. Ela teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.

Ao ficar viúva, Quitéria mudou-se para Feira de Santana para tentar receber parte da herança deixada por seu pai, em 1834, mas desistiu e foi para Salvador. Foi na capital baiana que Maria Quitéria faleceu, em 21 de agosto de 1853, no anonimato. Ela foi sepultada na Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento no bairro de Nazaré, na capital baiana. Maria Quitéria tornou-se símbolo da emancipação feminina e exemplo para mulheres de todo o país. A heroína da Independência foi condecorada patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Em 1953, no aniversário de 100 anos de sua morte, o governo brasileiro decretou que seu retrato estivesse presente em todas as repartições e unidades do Exército.

Um olhar novo sobre Maria Quitéria

Em “Maria Quitéria – a soldada que conquistou o Império” lançado em março deste ano de 2021, pela jornalista e escritora gaúcha Rosa Symanski que fez uma imersão na vida desta brilhante heroína, dedicando anos em estudos e pesquisas sobre a vida, história e época, dessa que é uma das personagens mais ilustres do século XIX, porém pouco retratada na história do País.

Desta imersão nasceu o romance histórico que apresenta a saga de Maria Quitéria de Jesus – a heroína da Guerra da Independência, condecorada por D. Pedro I. Soldada que foi de extrema importância para a libertação do Estado da Bahia do domínio português e para a Independência do Brasil que em 2022 chega ao seu bicentenário.

A sua vida é retratada por Rosa Symanski com um misto de realidade e ficção, o que enaltece ainda mais o espírito livre e destemido, característica presente em todo relato histórico sobre esta que é considerada por muitos o maior soldado do País.

À frente de seu tempo, quiçá até da contemporaneidade, a sertaneja do Recôncavo Baiano teve uma vida de lutas. Luta para não seguir o destino que lhe era imposto à época; luta para viver um grande amor e fora dos moldes exigidos pela sociedade; e luta à frente do batalhão de mulheres, que só existiu por sua audácia e coragem.
O prefácio é assinado por Gabriella Esmeralda Aquino Silva, licenciada em filosofia, que faz parte da árvore genealógica de Maria Quitéria, e recentemente fez uma expedição em busca de sua história familiar. A ilustração de capa é de Giorgia Massetani.

A gaúcha Rosa Symanski é jornalista com mais de 25 anos de profissão, especializada nas áreas de economia e finanças. Com passagens por veículos como Agência Estado, Gazeta Mercantil, Jornal do Brasil, entre outros, Rosa Symanski sempre cultivou interesse pela literatura. Em 2015, ao se deparar com a trajetória da heroína histórica Maria Quitéria de Jesus, decidiu pesquisá-la a fundo, acabou se impressionando com a densidade da personalidade da baiana, e idealizou o romance histórico “Maria Quitéria – A soldada que conquistou o Império”, que foi lançado pela Poligrafia editora em março deste ano.

Maria Quitéria – a soldada que conquistou o Império
Rosa Symanski – Poligrafia Editora
Vasculhava a própria mente em busca de respostas sobre o que, em qual momento havia sido determinada essa obediência e temor desmedido em relação ao sexo masculino.
Pensou em Maria Rosa como uma vítima também, pois esta jamais poderia agir como o pai, fazendo sexo com os escravos da fazenda, e nas circunstâncias que levaram a tal acontecimento com Chica. Então, refletiu sobre o destino nefasto dos escravos, das mulheres sem livre arbítrio, e do bebê, seu meio-irmão, que agora aproveitava o momento do colo da mãe presente para se entregar sem tréguas à sucção desvairada, indiferente à existência que o esperava. Ao integrar todos os elos da intrincada corrente, Maria Quitéria sentiu-se completamente vulnerável e incapaz de algum gesto para fazer alguma diferença diante de tanto desespero.
Naquele momento e lugar, palavras de consolo soariam vazias e sem sentido.

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