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(in) Formação

O problema do centro é a velha política…

Redação Jornal de Brasília

28/11/2019 17h02

Por Rudolfo Lago
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Não tem assinatura. Não tem um autor claro. Trata de lançar no ar uma ideia para ver quem morde a isca. E, aí, diante do resultado, se apresentar claramente no futuro explicitando as suas intenções.

A opção por esse formato para lançar a ideia mostra bem qual é a sua dificuldade. O grande risco da proposta é que a população a identifique com o retorno da tal da velha política. E, de fato, na costura que faz Rodrigo Maia para unir o centro político, estão diversas daquelas siglas que o eleitor, ao fazer a renovação que fez nas últimas eleições, identificou como a raiz dos problemas que precisavam ser varridos e que batizou de velha política.

Especialmente o próprio DEM de Maia e o MDB, um dos partidos com o qual ele conversa para apadrinhar com ele a defesa do centro.

Ao defender a opção neste momento pelo centro, Rodrigo precisará incutir na mente do eleitor que foi quando o país fez essa opção que ele mais prosperou na sua história republicana.

E, nesse sentido, o vídeo é eficiente nas demonstrações. Na chamada República Nova — a fase da história republicana brasileira que vai da deposição da ditadura de Getúlio Vargas até o golpe militar de 1964 —, esse centro político esteve principalmente identificado com o PSD. O velho PSD pré-64 unia os principais caciques regionais da República Velha a um conjunto de políticos mais jovens que transitavam pelo centro, como Juscelino Kubitschek e Ulysses Guimarães.

Garantidor da estabilidade

Como mostra a cientista política Lúcia Hippolito no seu livro PSD – De Raposas e Reformistas, foi o partido o garantidor da estabilidade que durante muito tempo evitou que o país sucumbisse à disputa radical entre direita e esquerda, ou antecipando o golpe militar (tentado antes algumas vezes, principalmente no governo JK) ou caindo numa revolução socialista (também com diversas tentativas desde a Intentona Comunista em 1935).

Quando os eleitores fizeram uma opção mais à direita, elegendo Jânio Quadros presidente e o esquerdista João Goulart, do PTB (naquele tempo, votava-se separadamente no presidente e no vice), como vice, pela primeira vez o PSD ficou fora da composição de poder. E a disputa entre esquerda e direita aguçou-se. Jânio renunciou aumentando a crise, e Jango acabou deposto pelos militares em 1964.

É no período em que o PSD garante essa estabilidade que o país se industrializa, Brasília é construída, o país cresce para o Oeste e para o seu interior.

Foi também a partir de uma união do centro que se conseguiu terminar com a ditadura, na construção da solução Tancredo Neves como candidato nas eleições indiretas pelo Colégio Eleitoral. Também foi com o mesmo tipo de solução que se fez o impeachment de Fernando Collor e se uniram os partidos que formaram em seguida o governo Itamar Franco, que estabeleceu o Plano Real e trouxe para o país a estabilidade econômica após anos de hiperinflação.

Se tais ideias colarem nos ouvidos do eleitor, a estrada do centro poderá vir a ser pavimentada por Rodrigo Maia. Seu grande problema será convencer o brasileiro de que os atuais atores do centro estão dispostos a agir com a mesma responsabilidade dos seus antecessores nesses momentos históricos.

Ou estarão eles mais identificados com aqueles seus companheiros de partido que foram parar na cadeia no Mensalão ou na Lava Jato. É saber se o passado do centro o absolve ou o condena.

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