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Hélio Doyle

Rollemberg se perdeu no labirinto que construiu

Arquivo Geral

30/06/2016 7h00

Rafaela Felicciano/Cedoc

O atual governo de Brasília nunca soube se relacionar corretamente com a Câmara Legislativa. Para fazer isso em bases republicanas e fugindo da velha politicagem do toma lá dá cá, teria de mostrar disposição e coragem para estabelecer um novo paradigma nas relações entre Executivo e Legislativo – o que só aconteceu no discurso de campanha e nos primeiros dias do processo de transição.

Não demorou para o governador Rodrigo Rollemberg (foto) sucumbir às normas e práticas da velha política. Uma das primeiras manifestações disso foi interferir na eleição do presidente da Câmara, quando já estava sendo acertado com vários distritais que as bases do relacionamento seriam outras e a escolha da mesa diretora seria exclusivamente deles.
Se não fosse o trabalho do governador, Celina Leão não seria presidente.

Estilo saída à Bangu

Com a entrega atabalhoada de secretarias e administrações regionais a deputados, o governo enveredou pelo caminho no qual está até hoje enredado: adotou os métodos antigos de relacionamento com a Câmara, baseado no fisiologismo escancarado e no loteamento da administração, mas não tem competência para gerir essa lamentável política de troca de favores. Não soube dividir o “bolo” e nunca teve uma coordenação política eficiente – os secretários responsáveis por ela, desde o início da gestão, são adeptos da velha política, mas não sabem operá-la.

Quando Rollemberg procura ser duro com os distritais que ganham muitos benefícios, mas não retribuem na Câmara, aumentam ainda mais as insatisfações, pois as retaliações são desastradas. O governo age com voluntarismo e sem pensar nas consequências, e depois não sabe como enfrentar as reações contrárias.

Não tem estratégia política, não planeja e não avalia as consequências de suas ações.

Ninguém defende o governo

Outra característica marcante do governo em relação à Câmara é a ausência de distritais que façam a defesa permanente e ostensiva de seus projetos e da própria gestão. Quem é o deputado que de fato pode ser visto como o defensor do governo na Câmara? Nem mesmo o líder Júlio César faz isso. Nem os deputados do PSB, partido do governador, se enquadram nesse perfil.

Os posicionamentos dos deputados são pontuais. E o governo também não tem secretários dispostos a enfrentar a Câmara, não para brigar (embora muitas vezes seja o caso), mas para debater com os distritais e fazer perante a sociedade a defesa de suas propostas.
Um exemplo recente é a discussão e votação sobre o Uber. O governo enviou à Câmara um projeto capenga e medroso, limitando a atuação do Uber para agradar aos taxistas, e não apareceu ninguém para fazer sua defesa. Largou tudo nas mãos dos deputados, como disse o distrital Wasny de Roure.

Agora recebeu o problema de volta.

Nem lá, nem cá

A presidente Celina Leão está certa ao dizer que a Câmara não vai votar na pressa os projetos enviados à última hora pelo governo, como o dos puxadinhos e o das organizações sociais. Os distritais têm o direito de debater os projetos com tempo e o governo tem a obrigação de se organizar melhor para apresentá-los convenientemente.

Independentemente da composição da Câmara Legislativa, que é essencialmente muito ruim, o governo deveria ter estabelecido com ela uma relação respeitosa e pautada no reconhecimento da importância e da independência do parlamento. Deveria estar negociando, no bom sentindo, projetos e ações de governo, e não, no mau sentido, cargos, emendas e benefícios indevidos aos distritais, como o loteamento da administração.
Agora, perdido no labirinto que construiu e do qual não sabe sair, paga por não estar cumprindo o que prometeu fazer e paga por fazer muito mal o que está fazendo.

Aliás…

Há uma movimentação na Câmara Legislativa para a criação de novos cargos comissionados. Se houver um mínimo de responsabilidade por parte dos deputados, a manobra será contida a tempo.

Calma e cuidado, excelência

O deputado Alberto Fraga gosta de se mostrar truculento, raivoso, violento. É em parte devido a sua natureza de policial ainda formado na ideologia da ditadura, em parte por sua ideologia e em parte como estratégia de marketing, para ganhar o eleitorado do centro para a direita e se colocar como representantes dos radicais saudosos do autoritarismo.
Mas mesmo tendo essas características e gozando da imunidade parlamentar, Fraga deveria ter mais cuidado com suas palavras. Estimular os policiais militares a faltarem ao trabalho durante as Olimpíadas usando de artimanhas e malandragens é, antes de tudo, um crime contra a população, contra a cidade e contra o país.

A conclamação de Fraga é também uma ofensa aos policiais militares sérios e honrados. E uma demonstração clara de falta de ética e de responsabilidade social e uma violação do juramento que fez ao se tornar policial militar.

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