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Hélio Doyle

E assim Gambiarra chegou ao gabinete 19 da Ala Teotônio Vilela

Arquivo Geral

08/08/2016 7h00

Atualizada 07/08/2016 21h17

Agência Senado

O vídeo em que o senador Hélio José, conhecido como Hélio Gambiarra, diz que a Secretaria do Patrimônio da União é dele e que se quiser coloca uma melancia para dirigi-la só surpreendeu a quem não o conhece.
Hélio José não é, na essência, diferente da maioria dos políticos, geralmente demagogos, fisiológicos, patrimonialistas, falastrões, prepotentes, oportunistas, ensaboados, corruptos. O que o diferencia é que, na sua primariedade e total despreparo, consegue ser ainda pior do que seus semelhantes. É uma caricatura da velha política brasileira.
Mas, pelo menos nesse caso, os eleitores brasilienses não têm culpa: Hélio José assumiu seu “gabinete 19 da (Ala) Teotônio Vilela”, como ele mesmo diz com arrogância, sem receber um só voto. Ganhou o mandato e o gabinete 19 por ser o primeiro suplente de Rodrigo Rollemberg.
E como candidato a deputado distrital, Hélio José teve seis votos.

O estilo vem de longe

O senador sem votos começou sua vida política no PT e ganhou o apelido em 1995, quando fez gambiarras para puxar energia para sua casa, onde promoveu uma grande festa à qual compareceram o então governador Cristovam Buarque e o depois presidente Lula. A imprensa denunciou e a CEB, onde ele trabalhava, elaborou um extenso relatório sobre outros malfeitos de Hélio José, entregue a Cristovam pelo então presidente da companhia, Rubem Fonseca, e pelo então secretário de Obras, Hermes de Paula.
O conteúdo nunca foi divulgado.

Um assumiu, o outro finge que é

Em 2010, o PT aceitou, para compor a coligação em torno de seu candidato a governador, Agnelo Queiroz (foto), que o PDT, com Cristovam Buarque, e o PSB, com Rollemberg, disputassem o Senado. A condição foi de que os dois primeiros suplentes fossem petistas.
Como havia a expectativa de que apenas Cristovam seria eleito, ficando a outra vaga com um dos candidatos apoiados por Joaquim Roriz, o PT colocou Vilmar Lacerda – do grupo majoritário internamente – como suplente do ex-governador. Para fazer composição interna, Hélio José foi para a suplência do “sem chances” Rollemberg.
Mas Rollemberg se elegeu senador e governador e assim Hélio José é senador. Vilmar apenas finge que é, sentando-se no plenário e nas comissões, sem medo do ridículo, em cadeiras reservadas aos senadores.

Riscos previstos

Durante a campanha, Rollemberg pediu ao PT que substituísse Gambiarra, porque havia uma acusação de ter ele cometido abusos sexuais contra uma sobrinha. O PT se recusou.
O Ministério Público abriu um processo contra Hélio José, em segredo de justiça. O caso foi arquivado, por questões formais, sem ir a julgamento.
Quando Rollemberg foi candidato a governador, os riscos de os adversários explorarem a possibilidade de o caso ser relembrado e de Gambiarra assumir o Senado estavam no topo dos possíveis problemas para sua eleição, definidos no planejamento estratégico da campanha.

Ih, lá vem ele com sua lista

Depois de “eleito” suplente, Hélio José rompeu com o PT e se abrigou no PSD. No período de transição, Hélio José se destacou com suas enormes listas de indicações para os mais diversos cargos no governo. Sua insistência virou motivo de piadas.
Ele queria, especialmente, indicar o secretário de Gestão do Território e Habitação, o presidente da companhia habitacional, diretores do BRB e da Terracap e o diretor-geral do Detran. Nada conseguiu.

Quem dá mais? Temer deu

Gambiarra usou o Partido da Mulher Brasileira como ponte para ir para o PMDB. Está, pois, na base do presidente interino Michel Temer. Mas, para se valorizar e conseguir cargos e benefícios, colocou-se como indeciso em relação ao impeachment de Dilma Rousseff.
Daí as indicações na Secretaria do Patrimônio da União no Distrito Federal e no Incra, estratégicas para quem quer manipular a complicada questão das terras em Brasília.

Mandato caro, para nada

Hélio José tem 90 funcionários em seu gabinete. Desses, apenas seis são servidores efetivos do Senado. Todos os demais são de sua livre escolha. A média de servidores por gabinete no Senado é de 40,3. Depois de Hélio José, quem tem mais servidores é Fernando Collor: 79. Reguffe tem nove funcionários no gabinete.
Só neste ano, Hélio José já gastou R$107.872,69 em verbas indenizatórias, material de expediente, combustível e despesas com correios.
Em diárias de viagens, recebeu R$16.506,00 – fora as passagens em primeira classe para Cuba, Aruba, Panamá e Japão.

Pelo menos alguém com voto

A nefasta presença de Hélio José no Senado deveria ser um bom motivo para se rediscutir a figura do suplente de senador. Hoje há 14 senadores sem voto exercendo o mandato, ou seja, 17% deles.
Já surgiram diversas sugestões para mudar o atual formato: assumiria o candidato que ficou em segundo lugar ao Senado ou o deputado mais votado, ou voltariam as sublegendas, ou haveria novas eleições para a vaga. Mas nada avançou.
Continuam no Senado os Hélio José e outros sem votos.

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