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Estilo de Vida

Seca atrapalha lucrativa temporada do salmão na Califórnia

A temporada de salmão deste ano foi cancelada na costa da Califórnia e na maior parte do Oregon para tentar recuperar a espécie

Redação Jornal de Brasília

11/07/2023 18h20

Acostumada a sair para pescar todas as manhãs, Sarah Bates agora sofre com seu barco de madeira ancorado no porto de San Francisco, por causa da proibição de pesca de salmão causada pela seca na Califórnia.

“O salmão constitui a maior parte da minha pesca e 90% da minha renda”, diz essa pescadora de 46 anos.

A temporada de salmão deste ano foi cancelada na costa da Califórnia e na maior parte do Oregon para tentar recuperar as populações da espécie.

O salmão atingiu índices mínimos históricos nos rios da região, devido à intensa seca que afeta o oeste dos Estados Unidos há mais de duas décadas.

Em meio ao volume muito reduzido de água e às altas temperaturas, os peixes lutam para nadar rio acima como parte de seu ciclo reprodutivo. Nessas condições, seus filhotes geralmente morrem antes de chegar ao oceano.

“O rei”

O cancelamento da temporada representa um golpe econômico para o estado.

Na Califórnia, a pesca do salmão gera US$ 1,4 bilhão por ano e mantém 23.000 postos de trabalho, de acordo com a Associação de Salmão do Golden State.

Para manter o peixe no cardápio, alguns restaurantes do porto foram obrigados a importá-lo de outros países, como o Canadá.

Craig Hanson, proprietário de um barco de pesca esportiva, viu suas operações diminuírem nesta temporada devido à proibição.

Acostumado a zarpar todos os dias no verão, este ano tem de se contentar com quatro dias por semana. Seus clientes não demonstram tanto entusiasmo por espécies como robalo ou linguado quanto pelo salmão.

“O salmão é rei (…) É o que as pessoas querem”, diz Hanson.

“É um peixe espetacular de pescar. Vai brigar com você até o fim”, explica.

Mas Hanson, que espera que o inverno deste ano melhore a situação, não reclama da medida.

Mudança climática

“O salmão-real capturado na Califórnia costuma ter um ciclo de vida de três a quatro anos”, explica Nate Mantua, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).

“Então, quando algo acontece com eles em água doce, quando ainda são ovos, ou filhotes, vemos o impacto na pesca dois ou três anos depois”, completa.

A isso, somam-se as temperaturas recordes registradas no oceano.

“Entre 2014 e 2016, a costa oeste dos Estados Unidos atingiu as temperaturas oceânicas mais quentes da série histórica”, disse Nate.

Essas ondas de calor marinho criaram “condições ruins para o crescimento e a sobrevivência do salmão”, acrescentou o cientista.

As autoridades tentaram recuperar as populações de salmão, transportando filhotes e liberando-os diretamente no mar. O declínio se intensificou, porém, na última década.

Além da crise climática, está o impacto do desenvolvimento agrícola na Califórnia.

O estado mais populoso do país, com 40 milhões de habitantes, desenvolveu rios para abastecer suas crescentes cidades e seu vasto setor agrícola. Entre barragens e canais, o salmão perdeu 80% de seu habitat, necessário para a desova. Nesse contexto, a água se tornou um ponto de discórdia na região.

Pescadores de San Francisco exigem que o recurso seja destinado a nutrir os rios, em vez de irrigar as sedentas plantações de nozes, pistaches, ou amêndoas.

“A água é mais importante para os peixes do que para as nozes”, reclama Ben Zeiger, dedicado à pesca esportiva.

Os pescadores de salmão esperam ajuda financeira do governo federal para compensar os prejuízos com a proibição. Ao mesmo tempo, estão atentos aos esforços para restaurar o habitat da espécie.

Ao longo do rio Klamath, no norte da Califórnia, foi iniciado um projeto para destruir quatro represas hidrelétricas, o que poderia reabrir cerca de 640 quilômetros de rio para o processo migratório do salmão.

“Se não ajustarmos as políticas em relação à água, voltaremos ao mesmo ponto”, disse Bates, em seu barco.

“Pensar que não enfrentaremos novas secas é ingenuidade”, afirmou, reconhecendo: “a mudança climática é um fato. E está acontecendo mais rápido do que esperávamos”.

© Agence France-Presse

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