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Moda

O que está por trás da proposta de compra da Hering pela Arezzo

Arezzo traçou há cinco anos um plano estratégico de ir além dos calçados e virar um “player” de moda: já comprou a Reserva, que tinha Luciano Huck como sócio

Redação Jornal de Brasília

16/04/2021 15h36

Foto: Aluísio Alves/REUTERS

A divulgação de um negócio entre duas das maiores varejistas movimentou os bastidores do mercado financeiro nessa semana: a Arezzo, um grupo calçadista que tenta se converter em uma gigante da moda nacional, fez uma proposta de R$ 3 bilhões para comprar a Hering, tradicional rede de moda que hoje tem 778 lojas. Mas o que está por trás dessa negociação?

Conversando com fontes de mercado, o Estadão descobriu que a questão envolve um plano estratégico antigo, de um lado, e dificuldades de negócio e também familiares, de outro. A Arezzo traçou há cinco anos um plano estratégico de ir além dos calçados e virar um “player” de moda: já comprou a Reserva, que tinha Luciano Huck como sócio.

Mas a Hering é um passo maior, mais ousado e mais arriscado. Além de ter um número muito maior de lojas, a Hering – comandada pelo empresário Fabio Hering, membro da família fundadora da marca – é uma empresa centenária e que também tem um considerável parque industrial instalado.

Típico caso de ‘ganha-ganha’

No entanto, o grupo – que também inclui marcas como Alexandre Birman, Schutz, Anacapri e Vans – decidiu que está pronto para este salto. A alta cúpula da Arezzo passou o dia em reuniões e deverá ser formado um grupo de trabalho para tratar sobre a proposta para a Hering, afirmou uma fonte.

O grande problema: há anos, a Hering é vista como um negócio em decadência, que precisa de um “face lift” para voltar a ser lembrada com mais frequência pelo consumidor. Como a Arezzo é considerada eficiente no cuidado com suas marcas, a notícia dessa união animou o mercado, que considerou a negociação saudável para ambas as partes.

Com a Hering abrindo na quarta-feira sobre a proposta não solicitada recebida ao mercado, a companhia ganhou cerca de R$ 800 milhões em valor de mercado e está agora valendo R$ 3,5 bilhões. Com a expectativa em torno da união, a Arezzo, por sua vez, valorizou-se 7,48% na quinta-feira, 15, um ganho de valor de mercado de R$ 600 milhões indo a R$ 8,5 bilhões na Bolsa brasileira.

Questão de família

Segundo fontes de mercado, tocar um negócio do tamanho da Hering, em tempos de crise, não tem sido fácil. Gente próxima às negociações afirma que o interesse pela marca já não é tão grande dentro da família. Por isso, a aposta da maior parte do mercado é de que o casamento de Arezzo e Hering deverá sair. “É só uma questão de ajustar o preço”, define um observador do acordo.

Essa não é a primeira conversa entre Arezzo e Hering, aliás. Mas, segundo fontes ouvidas pelo Estadão, o negócio nunca andou porque Fabio Hering não se mostrava disposto a vender sua participação na empresa. A visão, agora, é de que o posicionamento seria diferente.

Há quem diga que a Arezzo começou jogando duro. Por isso, tudo o que a Hering estaria aguardando é uma nova oferta. A proposta de R$ 3 bilhões pela Hering está abaixo do valor da empresa pré-pandemia, que era em torno de R$ 5 bilhões. “A Arezzo começou jogando um preço muito baixo”, disse uma fonte próxima à Hering. “Mas a negociação deve andar.” Do lado da Arezzo, comenta uma fonte, a visão é de que a oferta, que considerou um prêmio de 20%, é justa, principalmente porque a aquisição engloba a necessidade de reestruturação da operação.

A leitura, ainda, é o fato de a Hering ter, desde o princípio, contratado a BR Partners e o Machado Meyer como assessores financeiros – o que deu a indicação de que a intenção é de seguir com as negociações, afirmou uma fonte. Fora isso, a própria divulgação da proposta foi entendida como uma abertura de que as portas estão abertas para a negociação.

Mercado em consolidação

Uma consolidação do setor de moda vinha sendo aguardada desde o ano passado por especialistas do setor, visto que esse foi um dos segmentos mais afetados na pandemia, com as redes mais digitalizadas ganhando mercado sobre as marcas que entraram na crise com menor experiência na área digital.

Outra companhia do setor que tem mostrado agressividade em aquisições é a Soma, dona de uma série de marcas como a Animale e Farm, que está com o caixa recheado após abrir capital no ano passado. A empresa negocia neste momento, por exemplo, a Shoulder, de moda feminina.

Procuradas para comentar as negociações, Hering e Arezzo não quiseram se pronunciar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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