Entre abóboras iluminadas, fantasias detalhadas e histórias que se repetem a cada outubro, o Halloween deixou de ser uma simples curiosidade importada dos Estados Unidos e se tornou, aos poucos, parte do calendário afetivo do brasiliense. A data, celebrada em 31 de outubro, vem conquistando famílias, grupos de amigos e até empreendedores locais que transformam o “Dia das Bruxas” em um verdadeiro carnaval fora de época.

Para a publicitária Maria Luísa Cantanhêde Milano Neiva, 28 anos, moradora do Lago Sul o encanto pelo Halloween nasceu da mesma paixão que a fez amar aniversários temáticos desde a infância. “Desde o meu primeiro aniversário, meus pais faziam festas com personagens diferentes. Cresci amando essa experiência de virar outra pessoa por um dia”, relembra. Hoje, o hábito infantil se transformou em uma tradição familiar: desde 2019, ela organiza uma grande festa anual na chácara da família, espaço que guarda memórias afetivas desde os anos 1980.
A primeira edição, realizada pouco antes da pandemia, foi um sucesso. “Vieram mais de 90 pessoas, até amigos de fora de Brasília. Em 2020, fizemos uma versão reduzida, só entre nós”, recorda. Desde então, o evento se tornou parada obrigatória entre os convidados. O entusiasmo vai além da decoração: cada fantasia é planejada com antecedência, inspirada em filmes, séries e ícones da cultura pop. “Amo o processo de buscar referências, montar acessórios e ver as ideias tomando forma. É mágico ver todo mundo elogiando as criações uns dos outros”, diz.


Neste ano, a lista de convidados chega a 134 nomes, com mais de 70 confirmações. A festa terá dinâmicas valendo brindes e atividades que já movimentam o grupo de amigos nas redes sociais. “Cada edição deixa lembranças únicas. É um momento de reunir pessoas queridas, celebrar e se divertir — e isso é o que faz o Halloween valer tanto a pena”, afirma Maria Luísa.
Morador do Guará, o artista e professor de inglês Thiago de Paula Guedes, 29 anos, é um dos nomes mais conhecidos entre os que levam o Halloween a sério. Desde 2017, ele transforma o costume estrangeiro em uma verdadeira superprodução que mistura estética, performance e muita imaginação. “Sempre adorei o Halloween, principalmente por causa da cultura pop. Meus pais já faziam festas quando eu era adolescente, e acho que peguei esse gosto deles”, conta.
A primeira edição, ainda em casa, teve como tema uma tenda cigana. “Coloquei crânios, velas, cartas de tarô, uma tábua Ouija e me vesti de feiticeiro. Foi o início de tudo”, lembra. O sucesso foi tamanho que, ano após ano, o evento foi crescendo. Hoje, Thiago precisa alugar espaços maiores para comportar os quase 200 convidados que comparecem. “Todo ano alguém traz um primo, um namorado, um amigo novo. Quando vi, já não cabia mais em casa”, brinca.

O diferencial está na dedicação dos convidados. “Tem gente que faz a própria fantasia do zero, costura, pinta, borda. É uma loucura o nível de detalhe”, comenta. Em 2023, ele organizou uma edição em um lounge de drag queens, considerada uma das mais marcantes. “Um casal foi de Lady Di e Príncipe Charles, com tudo feito à mão. Foi uma perfeição.”
Para este ano, o tema será uma homenagem às artes: Thiago irá de Van Gogh, acompanhado da namorada, que representará o quadro A Noite Estrelada. “É simbólico, porque é um casal inspirado na arte. E é isso que o Halloween virou pra mim: uma mistura de arte, criatividade e afeto. Um momento em que a gente se transforma e celebra junto.”
Já em Samambaia, o mês de outubro também é sinônimo de festa para o brasiliense Denisson Pereira de Souza, 35 anos, leitor assíduo e apaixonado por suspense e terror desde criança. “Cresci lendo Stephen King e acompanhando filmes como Harry Potter. O Halloween aparecia o tempo todo nessas histórias e acabou fazendo parte da minha vida”, conta.

A tradição começou em 2014, quando amigos planejaram uma festa surpresa para o seu aniversário e ele acabou descobrindo. “Transformamos a surpresa em uma festa de Halloween. Meu aniversário é dia 4, então unimos o útil ao agradável. Decorei a casa e o pessoal se encantou”, lembra. O sucesso foi imediato: cerca de 60 pessoas compareceram à primeira edição, número que dobrou no ano seguinte. “Em 2015 alugamos fliperama, e a filha de um amigo ganhou como melhor fantasia. Guardo essa foto até hoje.”
Em 2016, o evento precisou migrar para uma chácara, e a festa se consolidou como o “Halloween Dance”, um dos mais aguardados da vizinhança. “Deu mais de 100 pessoas, e até o padre comentou na missa do domingo seguinte, porque os coroinhas tinham ido”, diverte-se. Para Denisson, mais do que uma celebração temática, a festa é um gesto de amizade. “Nunca cobrei entrada nem bebida. Digo sempre: tragam uma fantasia e o carisma. É isso que o Halloween representa pra mim um momento leve, divertido, que aproxima as pessoas.”
Neste ano, o anfitrião preparou uma ambientação inspirada em uma “casa de terror”, com painéis e iluminação especial. “Vou de rei macabro, o dono do castelo que recebe os convidados. Já estou organizando tudo, e deve dar mais de 100 pessoas novamente.”
Denisson também faz questão de desmistificar a ideia de que o Halloween é uma celebração “estrangeira demais” para o Brasil. “Somos um povo receptivo. O Halloween é uma forma de sair da rotina, de se divertir, de ser outra pessoa por um dia. É o nosso carnaval de outubro e isso é o mais gostoso: celebrar, rir e viver algo diferente ao lado de quem a gente gosta.”
O que une histórias como as de Maria Luísa, Thiago e Denisson é o mesmo espírito que transformou o Halloween em uma tradição genuinamente brasiliense: criatividade, amizade e vontade de celebrar.
 
										 
									 
									 
									 
									 
									 
									 
                         
							 
							 
							 
							