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Gastronomia

Queijo artesanal do Brasil vem conquistando fãs no mundo

O “Garrafão” é um dos 57 queijos brasileiros que ganharam medalhas na bienal “Mondial du Fromage” em Tours, na França

Redação Jornal de Brasília

15/12/2021 8h04

Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP

Boa sorte em encontrar um sinal de GPS ou sinal para chegar à fazenda isolada de Rita de Cassia nas montanhas do sudeste do Brasil. A melhor aposta para os amantes da comida em busca de seu premiado queijo artesanal é parar e pedir informações.

O “Garrafão” de Cássia é um dos 57 queijos brasileiros que ganharam medalhas na bienal “Mondial du Fromage” em Tours, na França, em setembro. Isso colocou o desconhecido Brasil queijeiro, um país pouco conhecido por seus queijos, atrás apenas da França no pódio dos melhores do mundo.

“‘O que comem suas vacas que torna o queijo tão delicioso?'”: Essa é a pergunta que a representante do Brasil no evento, Debora de Carvalho, diz que recebeu repetidas vezes de colegas franceses.

A bucólica região onde fica a fazenda de Cássia, no antigo estado produtor de queijo de Minas Gerais, guarda algumas respostas.

Povoada há três séculos por colonos em busca de ouro, a área começou a produzir queijo quando o sapateiro italiano Paschoal Poppa chegou à vila de Alagoa no início do século 20 com uma receita de parmesão.

Hoje, o município de 2.700 habitantes abriga nada menos que 135 fabricantes de queijo, vários dos quais ganharam prêmios em edições recentes do festival em Tours.

Isso está gerando uma nascente indústria do turismo gastronômico em Alagoa, cujas ruas sonolentas agora são decoradas com mini-Torres Eiffel em lojas de queijos, celebrando o novo status da cidade como um destino gastronômico.

Métodos da velha escola

Os prémios “mudaram a nossa vida”, afirma Dirce Martins, que aqui fabrica queijos há 39 anos.

“Ninguém costumava vir aqui. Os compradores basicamente pagavam o preço que queriam pelo nosso queijo. Agora temos todos esses visitantes”, diz ela, fazendo um tour pela pequena sala onde envelhece seu premiado “Fumace” em prateleiras de madeira.

Suas vacas pastam a uma altitude de 1.500 metros (quase 5.000 pés), em terras que de outra forma seriam intocadas e ricas em nutrientes do solo.

Trabalhando ao lado do marido e do filho, Martins produz no máximo 60 queijos defumados por dia.

Cassia, 32, tem uma operação similarmente pequena: ela e seu marido, Marcos, fazem cerca de 15 quilos (33 libras) de queijo por dia com suas 15 vacas leiteiras, que têm nomes como França, Espanha e Dinamarca.

“É um trabalho árduo – das 6h00 às 22h00 todos os dias, faça chuva ou faça sol, ou mesmo grávida”, diz Cássia, que está grávida do segundo filho.

“E a competição é acirrada”, acrescenta ela, ao mostrar como ela e o marido insemina artificialmente as próprias vacas.

Ela aprendeu o ofício com o sogro.

“Tornou-se uma paixão”, diz ela. “O queijo é quase um ser vivo.”

Ela e o marido creditam a medalha de prata que ganharam na França por atrair os fornecedores das grandes cidades que agora enfrentam a estrada do vale rochoso até sua fazenda para comprar seus queijos por 45 reais (US $ 8) cada.

“Isso nos deu muita visibilidade”, diz ela.

‘Legalize’

“Para um queijo francês, ganhar um prêmio aumenta seu valor em até 20%. No Brasil, o aumento é de 300 a 400%”, diz Carvalho, diretor da SerTaoBras, associação que promove queijos artesanais brasileiros.

Famosos ou não, os pequenos produtores de queijo no Brasil dizem que são prejudicados por regulamentações rígidas sobre produtos alimentícios de origem animal, inspirados nos Estados Unidos, onde quase todo o queijo é pasteurizado.

“É preciso atender 900 condições diferentes”, diz Carvalho.

Como resultado, a maioria dos produtores de queijo da região de Alagoa só podem vender localmente.

“Estamos pressionando o governo para legalizar o queijo artesanal em todo o país”, diz Carvalho.

No Brasil, “nunca se conseguiu autorização para fazer um queijo como o Cabrales, da Espanha, que envelhece em cavernas naturais”, diz Juliana Jensen, diretora de pesquisas da crescente produtora artesanal de queijos Cruzilia.

A empresa ganhou um “super ouro” na França com o “Santo Casamenteiro”, um queijo azul com damascos e nozes que parece um bolo de casamento.

A Cruzilia, que possui uma linha de mais de 90 produtos, aumentou a produção em 30% em três anos.

“O brasileiro está começando a olhar para dentro de nossas próprias fronteiras e valorizando nossos sabores e tradições”, diz Jensen.

Veja mais imagens dos premiados queijos:

© Agence Frence Press

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