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Gastronomia

Esse brownie é O Verdadeiro

Sucesso em Brasília, marca do saboroso doce nasceu de uma fornada despretensiosa

Mayra Dias

02/02/2022 17h44

Atualizada 03/02/2022 11h28

Formados em publicidade e propaganda, a parceria de Rafa e Emerson começou cedo, ainda no segundo semestre do curso. Foto: Arquivo pessoal

“Do dia para a noite fomos de uma agência de publicidade a uma loja de brownies”, conta Rafaela Corrêa Cahú, moradora da Asa Norte. Aos 26 anos de idade, a jovem e o namorado Emerson Carvalho administram um verdadeiro fenômeno do ramo de docerias na capital. Intitulado “O Verdadeiro Brownie”, o negócio surgiu de forma inesperada e ganhou, na primeira mordida, o paladar dos candangos que já provaram. “Se você me perguntar se o sonho da minha vida era vender brownie, eu nunca diria que sim. Às vezes a gente sonha e idealiza um futuro e, de repente, esse futuro se torna algo totalmente diferente (e muito melhor) do que você pensou”, comenta a empreendedora.

Formados em publicidade e propaganda, a parceria de Rafa e Emerson começou cedo, ainda no segundo semestre do curso. Com talento para comunicação desde muito nova, a brasiliense relata que, ao conhecer o namorado, sugeriu que abrissem uma agência de publicidade. “Mas ele me falou que já havia tentado antes, com alguns amigos, e que não tinha dado certo”, diz. “Só que eu insisti, disse que era a peça que faltava para que essa ideia desse certo, pois era muito boa em me comunicar”, conta Rafaela. A ideia, como ela resume, chegou a sair do papel, mas não durou muito tempo. 4 meses após abrirem as portas da então “J3C”, problemas advindos da quantidade de sócios envolvidos impediu que o esquema prosseguisse. “Era gente demais, não dava. Nisso, eu e meu namorado sentamos com eles e conversamos, expusemos nossa opinião a respeito da quantidade de pessoas e eles dois saíram”, expõe Rafaela.

Em dupla, a moça e o namorado seguiram com uma nova agência, agora chamada ‘Maco’. “Fomos para uma kitnet, montamos um escritório pequeno, e chegamos a trabalhar com alguns freelas também. Eu sempre na parte administrativa e ele na operacional”, descreve. A empresa do casal chegou a permanecer no mercado por cerca de dois anos, mas a falta de paixão pelo que faziam os fizeram perder o entusiasmo com o projeto. Não estávamos fazendo aquilo que a gente amava, e esse é um mercado bem complicado aqui em Brasília”, conta a idealizadora do O Verdadeiro Brownie. “Além disso, o sonho do Emerson sempre foi ter um produto. Ele sempre falava para criarmos algo”, completou.

O negócio surgiu de forma inesperada e ganhou, na primeira mordida, o paladar dos candangos que já provaram. Foto: Emerson Carvalho

Saiu do forninho!

Vender brownies nunca foi algo pensado pelo casal. A ideia, como resgata Rafaela Cahú, simplesmente surgiu, ou “saiu do forno” da casa de Emerson em uma tarde como outra qualquer, sem que nada fosse planejado. “Eu e ele fizemos, despretensiosamente, um brownie, e os pais dele gostaram muito. Como meu namorado sempre sonhou em ter um produto próprio, na mesma hora ele propôs que vendêssemos”, relembra a empresária.

De início, Rafaela conta que não abraçou com muito ânimo essa ideia. “Mas o Emerson estava muito confiante e me fez pensar a respeito. O doce ficou realmente bom e ele sempre quis muito ter o próprio produto”, pontua. Ambos, que ainda cursavam a faculdade, começaram a produzir o brownie e mobilizar a família para que os ajudassem com as vendas. “Coloquei minha irmã para vendê-los na escola, minha avó vendia na costura, eu levava no estágio da minha prima, que era um escritório de advocacia, e também para a faculdade, e, com o tempo, o pessoal começou a ir a loucura, dizendo que o brownie era muito bom”, compartilha, animada, a jovem empresária.

Ao ver o sucesso que os tais docinhos estavam fazendo, Rafaela e Emerson, que ainda estavam com a Maco de pé, viram que era o momento de decidir o futuro do quitute. “Sentamos, utilizamos nossa bagagem da publicidade que, no meu caso, era mais na parte de vendas e no caso dele as questões de design e vimos que queríamos seguir com aquilo”, conta a jovem. Animados, Emerson logo tratou de desenvolver uma embalagem que, curiosamente, no início, era verde e não azul.

De forma rápida, e em questão de horas, o que antes era um escritório de publicidade e propaganda, se tornou uma cozinha. “Desmontamos o escritório da agência e, com o dinheiro que havíamos conseguido com ela, compramos um forno e colocamos no local”, relembra. Rafaela salienta que trabalhar no ramo alimentício nunca foi algo que passou pela sua cabeça, mas naquele momento, era o que a jovem mais queria e acreditava. “Tudo aconteceu muito rápido e de maneira muito inesperada. Eu nunca me imaginei empreendendo. Já quis, algumas vezes, ter algo próprio, mas não imaginava que aconteceria tão rápido e comigo tão nova. Isso foi muito legal”, comemora a moradora da Asa Norte.

“Vender bolinho, Rafaela?”

Por mais que o casal estivesse dando vida a um sonho, nem todo mundo ao redor deles abraçou, de primeira, essa arriscada (e deliciosa) ideia. “Meu pai não gostou nem um pouco. Ele ficou mais de um mês sem querer saber do meu brownie. Ele argumentava que eu estava louca, largando tudo que construí com a agência para fazer ‘bolinho'”, recorda Rafa. Com humor, ela menciona que insistiu no seu projeto mesmo assim, pois sentia que colheria bons frutos. “Eu sabia que ia me dar dinheiro e, além disso, eu era feliz fazendo os tais ‘bolinhos’ (inclusive, hoje, esse é o apelido carinhoso que damos ao brownie)”, pondera. E Rafaela estava certa. Com brilho nos olhos e com o coração carregado de gratidão, a publicitária diz que não levou muito tempo para que O Verdadeiro Brownie se consolidasse e ganhasse fãs.

Ainda recém-nascido, a empreendedora diz que, no começo, a demanda era tanta, que ela e Emerson colocaram toda a família para ajudar, e que todos embarcaram nisso de cabeça. “Meu pai chegou a nos ajudar fazendo entregas, juntamente com todo o resto da família. Meus sogros sempre ajudaram muito na produção dos doces, na mão de obra mesmo, e minha cunhada chegou até a trabalhar na loja com a gente”, declara. No entanto, a ajuda não veio apenas do ciclo familiar. Amigos do casal também participaram do processo de solidificação da marca na capital. “Eles sempre compraram e ajudavam a divulgar. É assim que se apoia o projeto de um amigo. Até hoje, se precisarmos de algo, sabemos que eles estarão de prontidão”, afirma, ressaltando que, se não fosse todo esse apoio, O Verdadeiro Brownie não seria o que todos conhecem (e amam) hoje.

Mas é o verdadeiro mesmo?

A ideia do nome, como diz Rafa, veio de Emerson. Ele, como ela ressalta, sempre foi a parte criativa do negócio e, inclusive, é o responsável por toda a identidade visual dos ‘bolinhos’ que estão espalhados por todo o DF. “Quando vimos a necessidade de um nome, ele, na hora, falou: ‘Já sei! Vai se chamar O Verdadeiro Brownie'”, recorda. “Naquela hora, eu não gostei, achei prepotente”, conta rindo. Após uma breve DR e um briefing em cima dessa proposta, ela, finalmente, começou a simpatizar com a ideia do namorado. “Chegamos a pontos bastante legais e vimos que por trás desse nome havia informações muito válidas. Ele é O Verdadeiro Brownie porque ele é de verdade, puro”, pondera Cahú.

O nome ficou tão marcante e criativo que, em pouco tempo, a dupla começou a ouvir trocadilhos e brincadeiras que, no mundo do marketing, são relevantes para fixar um produto no mercado. “Vimos o retorno das pessoas que compravam e elogiavam, faziam brincadeiras e trocadilhos com ele. Ouvíamos brincadeiras do tipo ‘É o verdadeiro mesmo né? Não é falso!’, e eu achava divertido”, compartilha Rafaela.

Diante disso, a dona da loja localizada na 107 Norte, defende que o curso de publicidade não foi em vão, e que este foi essencial para construir a marca que gerencia ao lado do namorado. “Tudo que fazemos com o brownie tem um pouco do que trouxemos do nosso curso. Foi na faculdade que comecei a ter vontade de ter algo próprio. Foi essencial para aprimorar a visão de um empreendedor”, garante.

Satisfeita com a localização da loja que, de acordo com ela, é um dos melhores pontos de Brasília para abrir um negócio, principalmente no ramo alimentício, Rafa diz que não tem planos de sair da Asa Norte. “Aqui é o bairro com o maior delivery. Não pensamos em sair daqui, mas sim expandir para outros bairros”, enfatiza.

Os dois lados da moeda

Como nem tudo são flores (ou brownies), gerir um negócio com alguém muito próximo tem seus pontos positivos mas, também, os negativos. “Já brigamos várias vezes, por vários motivos, e sempre acabávamos levando para o pessoal. Até entendermos a necessidade de encontrar um equilíbrio nisso, demorou um pouco”, revela. Ela conta ainda que, ao longo desses anos, o casal já chegou a tentar separar totalmente essas duas áreas da vida, mas perceberam que isso é impossível. “Hoje, graças a Deus, temos a maturidade necessária e aprendemos a lidar com isso. Crescemos e tiramos força um do outro todos os dias”, desenvolve.

Contudo, ao mesmo tempo que tais problemas acontecem, coisas muito boas ocorrem paralelamente. “Ter uma empresa com alguém tão próximo também apresenta muitos pontos positivos. Resolvemos as coisas muito mais rápido, comemoramos muito nossas vitórias juntos, e um, sempre, está dando força para o outro”, defende Rafaela.

Muito além de um produto

Hoje, compartilhando do mesmo sonho, nenhum dos dois se veem fazendo outra coisa. São as vivências e experiências diárias que motivam os empresários a continuar fazendo O Verdadeiro Brownie crescer. “Eu amo tudo que faço. Não sei dizer qual é a melhor parte disso porque, todo dia, acontece algo melhor do que o anterior. Hoje eu gerencio a empresa e, a cada dia eu me surpreendo mais e mais com o que estamos construindo”, diz a moça. Conforme ela destaca, uma das partes mais legais e que ela sempre conta para as pessoas, envolve o atendimento ao público. “Temos uma relação muito legal não apenas com os clientes mas também com nossos revendedores. Criamos laços, e isso é um dos elementos mais bacanas de empreender. Da mesma forma que lidar com pessoas é muito difícil, também é muito gratificante”, garante Rafa.

Prezando, sempre, a relação com os colaboradores, os donos do O Verdadeiro Brownie dizem procurar criar um ambiente de trabalho agradável e favorável a todos. “Começou apenas comigo e com o Emerson, com a nossa família, e hoje somos 12 funcionários. A relação que criamos com eles, dessa forma, também me deixa muito feliz. Não somos só uma equipe de trabalho, somos uma família. Nosso primeiro funcionário está com a gente até hoje”, ressalta a gestora.

Por ter uma parte do negócio voltada para produtos personalizados, ela menciona o prazer de poder fazer parte de momentos especiais na vida das pessoas. “Estar presente em várias festividades como aniversários, casamentos, formaturas, maternidade, traz um retorno muito legal. Recebemos fotos e mensagens lindas, o que é muito gratificante”, salienta.

Uma história recente e que Rafaela gosta de compartilhar aconteceu durante o fechamento das escolas na pandemia, com uma garotinha de 10 anos. “Ela e as amigas sempre iam com as mães na banca em frente a escola delas para comprar brownie, até que começamos a vender dentro do colégio e, sempre, no recreio, elas comiam o nosso bolinho. Na pandemia, essa mesma garotinha entrou em contato com a gente e encomendou caixinhas para as amigas dela, e colocou escrito, em todas, uma mensagem”, relembra, emocionada. “Depois, ela me mandou um áudio muito legal, dizendo ‘tia, queria te agradecer. Seu brownie é muito importante para mim e para as minhas amigas. A gente comia todo dia, então foi muito legal poder mandar o brownie pra elas agora que não estamos mais podendo nos ver.’ Essa mensagem foi maravilhosa, me deixou muito feliz. Esse retorno faz a gente perceber que não criamos apenas um produto, mas que fazemos parte das vidas das pessoas”, acrescenta a empresária.

Hoje, a partir de muito investimento, o que Rafaela acredita ser o segredo do sucesso da marca, o objetivo de Rafaela Cahú e Emerson Carvalho é expandir as lojas físicas para outros locais do quadradinho, incluindo quiosques em shoppings. “Até o fim do ano, esperamos ter, pelo menos, mais duas lojas pela capital”, revela a determinada empreendedora. Então fica atento! com mais pontos de venda não vai ter desculpa para não provar o tal bolinho, hein?

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