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Estilo de Vida

‘Donas Geek’: Irmãs idosas fazem sucesso com dicas de cultura pop

Em seus caderninhos, as anotações indicam quais filmes, séries e animes elas mais gostaram e quais elas falarão mal ao longo do vídeo

Redação Jornal de Brasília

01/03/2023 7h05

Uma mesa de jantar simples forrada por uma toalha de plástico ilustrada com diversas frutas. Sentadas em uma cozinha localizada na periferia de Mauá, na Grande São Paulo, duas senhoras de 60 anos discutem as novidades do mundo da cultura pop. Em seus caderninhos, as anotações indicam quais filmes, séries e animes elas mais gostaram e quais elas falarão mal ao longo do vídeo gravado por um celular.

Há cerca de quatro anos, as aposentadas Genilda Maria Gama, 67, e Genilza Maria Gama, 64, dedicam suas tardes ao canal do YouTube Donas Gêek. Nos vídeos semanais, as duas irmãs discutem e indicam suas obras favoritas, sempre de forma dinâmica e divertida.

“Eu gosto mais de séries de terror, de lobisomem, vampiro e zumbi. Quanto mais sanguinária, melhor”, afirma Genilda. Já Genilza não é tão chegada à violência, mas garante que não há brigas. “A gente só briga se falar de Crespúsculo”, relata a irmã mais nova. “Ela não suporta, mas eu já vi todos os filmes e li todos os livros”.

Relações familiares
O canal, que conta com quase 10 mil inscritos no YouTube e cerca de 75 mil inscritos no TikTok, foi uma ideia da filha de Genilda, Janaína Monteiro. Segundo as irmãs, a conversa sobre cultura pop sempre foi um pilar de suas relações familiares. “Comentamos uma com a outra sobre as séries que assistimos no dia anterior. Somos vizinhas, então entre uma tarefa e outra, eu ia até a cozinha dela e ela me contava sobre algum filme”, diz Genilza.

“Minha filha, Janaína, achou que essa nossa interação poderia virar um canal. No começo, fazíamos só para agradá-la. Ela não desistiu e agora o Dona Gêek vai completar quatro anos”, afirma Genilda.

O amor pela cultura pop não é novidade na vida das irmãs. Desde pequenas, elas eram apaixonadas por gibis de super-heróis e séries como Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo e Jeannie é um Gênio. “Quando descobri Jornada nas Estrelas, me apaixonei pelo Capitão Kirk e pelo Sr. Spock”, relata Genilda.

O termo geek talvez não fosse familiar para ambas, mas era esse o mundo que possibilitava que elas viajassem e conhecessem outros lugares. “Sou pobre, negra e periférica. Naquela época, aquele era o nosso mundo. Não gosto muito de Flash, porque tem muitas realidades, mas nós descobrimos outras culturas por conta de gibis, séries e filmes. Até ontem, eu achava que Gotham City era real”, brinca Genilza.

Apesar das dificuldades, elas jamais se afastaram do que amavam. “Confesso que só fui ter acesso verdadeiro ao cinema nos dias de hoje. Quando era mais jovem, eu não tinha dinheiro para ir. Não é que o pobre não vai porque não gosta, ele não vai porque não pode”, diz Genilza. “É difícil assistir as estreias da semana quando você tem que pegar duas conduções para ir e duas para voltar”, reitera Genilda.

Hoje, as irmãs se orgulham de compartilhar suas experiências e gostos com a comunidade de fãs que elas criaram. “Tem muita gente na internet falando sobre cultura pop, mas ainda não encontrei duas senhoras pretas comentando sobre o assunto. Algumas pessoas acham que isso é coisa de jovem, mas não é. Já fui jovem e amava esse tipo de conteúdo, envelheci e continuo gostando”, afirma Genilda.

“O canal nos deu a oportunidade de conversar com outras pessoas e mostrar que a idade não te impede de gostar de nada”, diz Genilza.

Estadão Conteúdo

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