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Bem Estar

Vida doméstica retrô: por que os hábitos das avós estão voltando

Costurar, bordar, cultivar e cozinhar lentamente voltam à rotina como forma de bem-estar e resistência ao ritmo acelerado da vida moderna

Alexya Lemos

11/08/2025 10h13

mulher trocando os vasos de suas plantas em casa durante quarentena

Foto: Freepik

Na contramão da cultura da velocidade, um movimento silencioso e crescente está ganhando espaço dentro das casas: o retorno aos hábitos domésticos que, até pouco tempo atrás, pareciam ultrapassados. Fazer pão, costurar à mão, cultivar hortas, consertar roupas, bordar e até passar o café com filtro de pano são algumas das práticas que voltaram à rotina de muitas pessoas, não como obrigação, mas como escolha consciente.

Em vez da praticidade imediata, o foco está na experiência, no fazer com as próprias mãos e no resultado afetivo, e não apenas funcional, dessas atividades.

Um movimento com raízes no desconforto moderno

A popularização do termo slow living (“vida lenta”), a busca por bem-estar mental e a exaustão com a hiperconectividade digital ajudam a explicar essa retomada. A pandemia de COVID-19, que obrigou muitas pessoas a ficar em casa e repensar o cotidiano, foi um ponto de inflexão. Desde então, movimentos como slow food, minimalismo e consumo consciente se consolidaram como alternativas ao modo de vida acelerado das cidades.

Além disso, a valorização do trabalho manual se alinha a uma crescente crítica à cultura do descarte. Aprender a costurar para consertar roupas, por exemplo, não é apenas uma prática nostálgica, mas também uma forma de combater o desperdício na indústria da moda.

De necessidade à escolha estética e emocional

Muitos dos hábitos que antes eram encarados como obrigações femininas passaram a ser ressignificados como formas de autocuidado, expressão criativa e até resistência política. Bordados com mensagens feministas, pães artesanais com fermentação natural e sabonetes feitos em casa são apenas alguns exemplos.

Nas redes sociais, hashtags como #vidalenta, #bordadomoderno e #cozinhaterapêutica somam milhares de postagens. Plataformas como YouTube, Pinterest e TikTok concentram tutoriais de tricô, crochê, costura criativa e receitas que exigem tempo e atenção, justamente o oposto do que a lógica de produtividade costuma exigir.

Sustentabilidade como valor agregado

Esse retorno aos hábitos antigos também caminha junto com preocupações ambientais. Fazer o próprio sabão, cultivar uma pequena horta ou reaproveitar tecidos são práticas sustentáveis que reduzem a pegada ecológica do lar. Além disso, promovem uma relação mais consciente com os recursos naturais e com o tempo.

Pequenas mudanças, como deixar de usar cápsulas de café e voltar ao coador de pano, ou trocar o desinfetante industrial por misturas caseiras com vinagre e ervas, são vistas por muitos como formas de recuperar o controle sobre o que se consome e como se consome.

Entre o saudosismo e a reinvenção

Ainda que muitas dessas práticas remetam às gerações passadas, o contexto atual lhes dá um novo significado. Não se trata de um retorno à rigidez das antigas normas domésticas, mas sim de uma escolha livre por um modo de vida mais simples, significativo e, muitas vezes, coletivo.

Oficinas de bordado, grupos de troca de sementes e feiras de produtos artesanais têm sido espaços onde esses saberes circulam e se atualizam. O que antes era restrito ao ambiente privado da casa agora ganha espaços públicos e digitais.

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