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Visibilidade trans: curta brasiliense “Ainda é Cedo” foge de estereótipos

Neste mês, também, é lembrado o Dia Internacional da Visibilidade Trans (dia 31)

Redação Jornal de Brasília

31/03/2022 21h20

(Imagem: Divulgação)

Por Alexya Lemos e Bernardo Guerra
Agência de Notícias do CEUB/Jornal de Brasília

Filmado totalmente na capital, o curta-metragem “Ainda é Cedo’‘ começou a ser rodado neste mês de março, como celebração do Dia Internacional das Mulheres (8/3). A obra pretende participar de festivais locais, nacionais e internacionais. Neste mês, também, é lembrado o Dia Internacional da Visibilidade Trans (dia 31).

Responsável pela direção do filme, Tiago Venusto, 37, traz às telas um drama familiar protagonizado por uma mulher transexual que volta à sua cidade natal ao saber que sua mãe está à beira da morte. Após morar 12 anos no exterior, Duda (Kika Sena), deve lidar com conflitos familiares, paixões e sentimentos mal resolvidos que havia deixado em seu passado.

Com esse projeto, o diretor brasiliense, juntamente com sua parceira de trabalho, Roberta “Beta” Rangel, buscam retratar as diversas camadas que envolvem a transexualidade e a identidade de gênero, além de expor questões próprias daqueles e daquelas que vivem essa realidade em suas próprias peles.

Outras temáticas, como, amadurecimento, o que é ser uma mulher adulta, luto e tomar as rédeas da vida, também são abordadas ao longo do curta-metragem.

Protagonismo

Kika Sena, 27, nascida na cidade de Marechal Deodoro (AL) é uma poeta, atriz, diretora teatral e educadora artística. Mulher trans, Sena vem de uma família de músicos e foi levada para o caminho da arte desde criança. Apaixonada por teatro e pela questão da representatividade, ela conta como foi fazer esse filme com a temática trans.

“ É um trabalho que foca nas subjetividades de uma mulher trans, de uma travesti, e sai do estereótipo porque ela não ocupa o que é esperado dela no filme, pelo contrário, ela é uma pessoa bem resolvida, uma pessoa que não está à margem.”

Sobre sua parceria com o diretor Tiago Venusto e com a roteirista Beta Rangel, Sena explica que foi chamada para o projeto há cinco anos por videochamada. “Eu estava gravando outro filme lá no Ceará quando surgiu esse convite.” Com o passar dos anos e entre outros projetos juntos, os três se reuniram novamente em 2020 para dar continuação ao roteiro e aos ensaios de “Ainda é cedo”

Ao falar sobre o que é necessário para seguir a carreira artística no Brasil atual, Kika destaca como a paixão e o interesse são essenciais para continuar no ramo “ Tanto em “Ainda é cedo” quanto em outros projetos que eu estive envolvida recentemente foi por paixão, porque se eu for capitalizar o meu trabalho, acho que não estaria sendo bem remunerada pela qualidade do serviço.”

Em referência às suas expectativas quanto a recepção do público, Sena diz que não pensa a travestilidade como um lugar de marginalidade dentro desse filme, porque esse não é o foco. “A gente pensa a travestilidade num lugar de subjetividade para as relações[…] e eu espero que as pessoas consigam compreender ou ser afetadas por tudo isso que a gente tentou partilhar na produção desse filme”.

Bastidores

A concepção do longa surgiu através da sócia do diretor, Beta Rangel, que idealizou o projeto, além de ajudar na roteirização e também atuar no mesmo. De acordo com o diretor brasiliense, a pesquisa e construção de roteiro necessária para conseguir realizar o curta-metragem durou cinco anos. “Fizemos um estudo gigantesco dentro da temática da transexualidade, e, com isso, a gente foi encontrando parceiros e parceiras que foram dando corpo ao texto. Nessa busca, nos foi apresentada a Kika Sena, que é uma artista maravilhosa que ajudou a gente a moldar esse material e esse projeto ainda melhor”, explicou.

Ao longo do processo de roteirização, a busca por apoio financeiro se desenrolava simultaneamente. Todos os seus projetos que abordavam temas como gênero, sexualidade e feminismo recebiam vetos para ter patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF), dificultando ainda mais a vida da dupla de sócios. “É muito trabalho, mas a nossa crença de que um mundo melhor pode existir a partir do diálogo, é muito maior, e é isso que nos alimenta para sair correndo atrás e levantando nossas bandeiras”, desabafou o diretor, relembrando como foi o período de buscar algum apoio financeiro. Venusto acrescenta que a aprovação do patrocínio se concretizou pouco antes da chegada da pandemia, em 2020, após cinco anos de tentativa sem sucesso.

“Às vezes a gente tem que produzir espetáculo teatral aqui com 20, 15 mil reais, até 5 mil reais. É quase impossível você produzir um espetáculo que pode ter uma projeção maior com esse valor”, explica Kika Sena, que já atuou em diversos espetáculos de baixa renda em todo Brasil.

Diversidade

Venusto expõe que, no decorrer de toda a produção, todas as pessoas envolvidas, sejam do elenco, da produção ou dos bastidores, possuíam voz ativa nas decisões tomadas. Com uma equipe formada predominantemente por mulheres, o diretor fez questão que o projeto possuísse uma set de filmagens diversificado, com homens e mulheres trans, pessoas pretas, e de demais raças, gêneros e sexualidades. “Eu me sinto como um orquestrador nesse projeto, porque a equipe tem uma voz ativa muito grande dentro do projeto para que as decisões sejam tomadas da melhor forma possível, e que todos encontrem um lugar de fala dentro dessa proposta que a gente trouxe”, disse ele.

Ademais, o cineasta brasiliense afirma se sentir honrado em poder estar à frente de um projeto como esse, sobretudo por ter a oportunidade de discutir as temáticas envolvidas no mesmo. Tiago finaliza explicando a importância dessa representatividade, especialmente para os adolescentes que possam estar se sentindo sozinhos por não se encaixarem nos padrões majoritariamente presentes nas telas e publicidades. “Quando eu era criança, eu não via pessoas pretas, pessoas gays ou pessoas trans na televisão, então mostrar que é possível um mundo diversificado é o que eu mais desejo passar”, recordou.

Ficha Técnica:

Direção: Tiago Venusto

Roteiro: Beta Rangel, Kika Sena e Tiago Venusto

Direção de Arte: Marcus Barozzi, Miguel Haru e Tiago Venusto

Direção de Fotografia: Dani Azul

Edição: Apt7Filmes

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