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Teatro e Dança

Marcos Veras protagoniza ‘Alguma Coisa Podre!’ desafiando o legado de Shakespeare

A versão brasileira incorpora referências a artistas nacionais, de Djavan a Paulo Coelho, numa tentativa de cativar o público brasileiro

Camila Bairros

28/06/2023 11h23

Foto: Divulgação

Gustavo Barchilon estava caminhando pelas ruas de Nova York quando se deparou com “Something Rotten!” pela primeira vez. Ao ver as palavras, ele imediatamente associou a referência a Shakespeare: “Há qualquer coisa de podre no reino da Dinamarca”, como proclama Marcellus em uma famosa cena de “Hamlet”.

No entanto, o ponto de exclamação no título enfraquecia a expectativa de uma tragédia no estilo do Bardo. Curioso, Barchilon decidiu saber mais sobre o musical, que agora chega a São Paulo, no Teatro Porto.

“Alguma Coisa Podre!” se passa na transição do século 16 para o 17. William Shakespeare, interpretado por George Sauma, acabou de lançar o sucesso “Romeu e Julieta” e se tornou um sedutor rock star, um tanto vaidoso.

Na sombra de Will, os irmãos Rêgo Soutto tentam emplacar o próprio sucesso. Nick, o mais velho, interpretado por Marcos Veras, é um ambicioso articulador que sente inveja de Shakespeare, com quem já trabalhou, mas que alcançou um sucesso muito maior.

Nigel, seu irmão, interpretado por Leo Bahia, é um homem sensível e habilidoso poeta que não esconde sua admiração pelo grande dramaturgo. No meio da busca pelo sucesso, ele vive um amor proibido com a filha de um pastor que despreza as artes e os prazeres carnais.

Desesperado para criar algo que possa competir com as obras de Shakespeare, Nick visita um sobrinho do conhecido vidente Nostradamus, interpretado por Wendell Bendelack, que prevê um futuro onde os atores cantam suas falas. Os Rêgo Soutto decidem então criar o primeiro musical da história.

Com o formato definido, só falta a trama. O vidente espia, a pedido desesperado de Nick, qual será o próximo grande sucesso de Shakespeare. No telefone sem fio da presciência, “Hamlet” se confunde com “Omelete”, dando origem a um grande besteirol.

Durante entrevista para a Folha de S. Paulo, Marcos Veras não deixa de incorporar seu personagem completamente. Em seu camarim, após discutir com o figurinista Fábio Namatame sobre a melhor bota a ser usada em cena, ele fala sobre seu personagem e sua experiência em seu primeiro musical.

“Nick é um amante da arte que busca o que muitos profissionais buscam: sucesso e dinheiro”, diz o ator. “Ele tem uma companhia de teatro, mas não consegue emplacar nada por causa de um tal de William Shakespeare, que teve sorte ou algum parente que o ajudou.”

Veras celebra a oportunidade de combinar canto, dança e interpretação em um único trabalho, algo que nunca havia feito antes, e de ingressar nesse novo formato. “Estou muito feliz por fazer parte dessa retomada da cultura e dos musicais”, afirma.

Por sua vez, George Sauma, rival de Veras na peça, promete mostrar ao público a intimidade do grande dramaturgo renascentista. “O musical cria essa imagem de Shakespeare como um Mick Jagger, um ídolo pop que tem os sonetos como seus grandes sucessos”, descreve.

“A peça é uma grande sátira e uma grande homenagem à devoção às artes que ocorreu no Renascimento. Ela possui uma grande qualidade técnica em relação a figurinos, iluminação e dança, mas no fundo é uma grande comédia.” Wendell Wandelack complementa dizendo que o musical tem várias camadas, incluindo comédia, sátira aos musicais e à atualidade, e cada pessoa absorverá algo diferente.

Ao lado de Nick Rêgo Soutto está a personagem interpretada por Laila Garin, que revela ser uma talentosa atriz ao se disfarçar de homem para poder trabalhar e ajudar seu amante desequilibrado.

“Os homens têm muita dificuldade em aceitar ajuda, eles não permitem serem ajudados. E ela está ali, querendo ajudar Nick”, afirma a atriz. Garin descreve sua personagem como uma espécie de pré-feminista que não possui os mesmos direitos que os homens, mas desconfia que deveria ter.

Em seu primeiro musical no estilo da Broadway, a atriz, familiarizada com o canto lírico e a música brasileira (ela já interpretou Carmen Miranda e Elis Regina), busca experimentar novas técnicas, mas sempre priorizando a interpretação. Ela aproveita a experiência de seus colegas para desenvolver seu lado cômico, algo que explorou menos no passado.

Ao mesmo tempo em que é um musical sobre musicais, “Alguma Coisa Podre!” também é uma sátira ao próprio formato, divertindo-se ao reforçar e quebrar as expectativas criadas em torno dele. Essa iconoclastia ou sátira de si mesma é reforçada pela direção e pela escolha do elenco de Barchilon, que teve liberdade para fazer alterações no material original.

A versão brasileira incorpora referências a artistas nacionais, de Djavan a Paulo Coelho, numa tentativa de cativar o público brasileiro, que tem menos familiaridade com Shakespeare em comparação com os países de língua inglesa, onde o Bardo assombrou a vida de cada estudante.

“Alguma Coisa Podre!” estará em cartaz até 6 de agosto, no Teatro Porto, com sessões às 20h às sextas-feiras, às 16h e 20h aos sábados, e às 15h e 19h aos domingos. Os ingressos custam entre R$ 75 e R$ 250 e podem ser adquiridos em sympla.com.br. A classificação é para maiores de 14 anos. O elenco conta com Marcos Veras, George Sauma, Laila Garin e Wendell Bendelack, com direção de Gustavo Barchilon.

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