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Música

Xande de Pilares canta clássicos de Caetano Veloso em novo disco de samba

Vertida em pagode, “Muito Romântico”, lançada por Roberto Carlos em 1977, abre o álbum “Xande Canta Caetano”

Redação Jornal de Brasília

03/08/2023 9h55

Foto: Reprodução

Leonardo Lichote
Rio de Janeiro – RJ (Folharess)

Xande de Pilares é acompanhado inicialmente apenas de seu cavaquinho, com a banda e o coro de “deredederê” chegando aos poucos. Com a autoridade de décadas de pagodes falando das dores e glórias do amor, ele canta: “Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior/ Com todo mundo podendo brilhar num cântico”.

Vertida em pagode, “Muito Romântico”, lançada por Roberto Carlos em 1977, abre o álbum “Xande Canta Caetano”, que chega às plataformas de streaming nesta sexta-feira (4). A canção, que toca exatamente no poder de comunicação da música popular, dá as primeiras pistas das conexões possíveis entre o baiano de Santo Amaro e o carioca do Morro do Turano, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

“‘Muito Romântico’ era a mais certa de estar no disco”, conta Xande, que no dia 19 de agosto faz no Tokio Marine Hall um show de outro trabalho, “Esse Menino Sou Eu”. “É a primeira música de Caetano [Veloso] que eu ouvi e não sabia que era dele. E venho cantando ela, fiz em lives durante a pandemia”.

O disco traz uma seleção de repertório bastante pessoal, que inclui canções menos evidentes de Caetano Veloso, como “O Amor” e “Diamante Verdadeiro”, ao lado de clássicos como “Tigresa”, “Qualquer Coisa” e “Alegria Alegria”. As releituras são muitas vezes surpreendentes, pela interpretação de Xande e sobretudo pelos arranjos de Pretinho da Serrinha.

“Xande canta Caetano” começou a nascer quando, num dos encontros musicais na casa de Paula Lavigne, o baiano ouviu Xande tocar sua “Ela e Eu” e gostou demais. Depois, quando o carioca cantou “José”, poema de Carlos Drummond de Andrade que ganhou melodia de Paulo Diniz, Caetano propôs a ele dirigir um show seu só de voz e cavaquinho.

“Recusei na hora”, lembra Xande, rindo. A ideia morreu, mas não o desejo de fazerem algo juntos de alguma forma -Caetano acompanhou as gravações, mas seu papel no álbum se limita ao de compositor.

Passado um tempo, em outras reuniões informais, em conversas que envolveram Paula, Pretinho, Xande, Caetano e o cantor e compositor Mosquito, começou a tomar forma o que viria a ser o disco.

“A ideia era sair do Caetano e trazer o Xande, fazer algo diferente. Eu cantando ‘Sampa’, por exemplo, seria chover no molhado”.

Quem ficou com a missão de encontrar os caminhos novos para as releituras foi Pretinho. “Eu ouvia o que ele tinha preparado e procurava interpretar a partir dali”, conta Xande, que acredita que amadureceu como intérprete cantando esse repertório.

“Ouço coisas como ‘Tigresa’ e tenho orgulho. Nunca gostei muito da minha voz, acho que às vezes grito demais. Mas o disco fez com que eu acreditasse no que dizem as pessoas que elogiam meu canto”.

Xande cruza memórias pessoais ao longo do disco. No fim do sincopado samba-choro “Diamante Verdadeiro”, com violão sete cordas de Rogério Caetano e gaita de Gabriel Grossi, ele fala do Moreira da Silva que ouvia criança.

Misto de samba e maculelê, “Trilhos Urbanos” cruza Santo Amaro -“Lá fiz um dos melhores shows da minha vida”, diz o sambista- e os trens da Central, com direito a citação de “Retirantes”, canção de Dorival Caymmi da trilha de “Escrava Isaura”.

“Antes de ir para o estúdio estava vendo a novela, que adoro. Sugeri a inclusão e Pretinho gostou”, lembra Xande, que na faixa aparece tocando banjo, que até então nunca tinha gravado.

“Lua de São Jorge”, que abre com o toque da alvorada de São Jorge e se derrama em samba, toca na devoção de Xande ao santo. “Alegria Alegria”, primeira canção que o carioca ouviu na voz de Caetano, ainda criança, vira um ijexá. “Qualquer Coisa”, em versão bolero com bandolim de Hamilton de Holanda, remete ao episódio em que um professor pediu a ele, aos 13 anos, uma redação sobre a canção e ele escreveu apenas as palavras “qualquer coisa”.

“Luz do Sol” lembra a Xande ele aprendendo a tocá-la em revistinhas de violão. “O Amor”, que no disco tem acordeon de Bebê Kramer, o fascina desde quando a ouviu no rádio nos anos 1980.

“Eu ouço Gal [Costa] todo dia, e essa música é do meu disco preferido dela. Sempre ouvi um samba ali na hora em que ela canta: ‘Ressuscita-me!’.”

Em “Gente”, que ganha pegada vigorosa de samba de quadra, Xande intimamente aproxima de si as referências que Caetano faz a Zezé Motta e José Agrippino de Paula.

“Caetano me deu a liberdade de acrescentar nomes, mas eu nunca mudaria uma letra dele. Mas a Zezé que canto é minha Tia Zezé, que mora em Guadalupe, onde Caetano morou na adolescência. E Agrippino vira meu Tio Agripino, que me botava pra ouvir discos no fim de semana.”

Xande conta que, quando terminou de gravar a voz de “Gente”, viu que Caetano e Paula estavam aos prantos. “Ele chorava igual criança”, conta.

O desejo do artista agora é emocionar os jurados dos prêmios de música. “Já fui indicado, mas sempre bate na trave. Isso é algo que não tenho e quero ter. Uma estatueta, umazinha só”, diz o artista, que já conquistou a parte de pôr a massa para brilhar num cântico sobre um acorde perfeito maior.

XANDE CANTA CAETANO
Quando Lançamento em 4/8 nas plataformas de streaming
Autoria Xande de Pilares
Gravadora Gold Records

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