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Brasília

O rock de Brasília, a capital de fases

Para celebrar o Dia Mundial do Rock, comemorado ontem (13), o Jornal de Brasília conversou com nomes que movimentam a cena local

Amanda Karolyne

14/07/2023 5h00

Atualizada 13/07/2023 18h12

Banda Escolta. Foto: Joninha/Divulgação

O Distrito Federal já foi nacionalmente conhecido como a capital do rock. Brasília deu origem a bandas que entraram para a história do gênero, como Capital Inicial, Legião Urbana, Raimundos, Plebe Rude, entre outras. E no âmbito do Dia Mundial do Rock, comemorado ontem (13), o Jornal de Brasília conversou com nomes que movimentam a cena local na atualidade.

Produtor musical de nomes como Scalene e Dona Cislene, Ricardo Ponte, que também atua como engenheiro musical, acredita que o rock de Brasília está com uma cara nova, e que os artistas atuais não têm medo de se misturar com outros estilos musicais e dialogar com a geração mais nova. No entanto, ele observa que o DF poderia ser a capital da música, e não apenas do rock. “Tem de tudo aqui, Clube do Choro e Escola de Música ajudam muito nisso.”

Ponte reflete que Brasília perdeu o posto de capital do rock já faz tempo. “Não porque outra cidade tomou esse lugar, mas porque o rock perdeu muita força”, pontua. Atualmente, o produtor está trabalhando com as bandas Lupa, Dennehy, Escolta, e Sozinho no Sótão. Um single da Scalene no qual ele atuou deve ser lançado em breve.

A banda Lupa é uma das bandas do novo cenário autoral do DF. Múcio Botelho, vocalista, conta que nasceu brincando debaixo dos pilotis em que Renato Russo e Dinho Ouro Preto escreveram suas primeiras músicas. Para ele, o rock de Brasília é patrimônio cultural imaterial do DF. “A gente precisa ter orgulho de onde a gente veio”, frisa. Entretanto, ele reflete: “Com quase todo o respeito, quem vive de passado é museu. A gente não pode ficar preso em 1980. Depois de muito tempo, finalmente a gente tem na cidade uma onda incrível de artistas que estão começando a crescer e aparecer pelo Brasil inteiro.”

Tuttis Souza, vocalista da banda Kids Grace e produtora do Festival Sinta a Liga, acredita que o underground resiste e ainda movimenta a cena roqueira da capital. A atuação dela está muito relacionada ao seu trabalho com o festival, que foi criado em 2011 com o intuito de mostrar as bandas do underground do DF e Entorno. “A maioria dos eventos em que eu tocava com a minha banda eram dominados por figuras masculinas, e muitas das vezes as mulheres não se sentem acolhidas nesses eventos”, afirma. Desde então, ela realiza o evento de forma independente, em toda parte do DF, com participações de bandas de outros estados.

Kids Grace. Foto: Henrique Jansen/Divulgação

Ainda sobre a presença feminina, a produtora cultural Eliana de Castro, no rock há mais de 25 anos, faz uma observação mais criteriosa a respeito: “Eu vejo que cada vez mais vivemos como equilibristas para resistir aos muitos altos e baixos pelos quais passamos. Se você for colocar no papel, a maioria de artistas e produtores dão de cara com muitas adversidades, os maiores sempre têm mais oportunidades”, comenta.

Em 2023 Eliana esteve por trás de projetos como os festivais Em Movimento e ‘Bebendo Blues, Comendo Jazz’, foi produtora executiva do projeto I’ll Be There e produziu artistas brasilienses. Em 2010, ela foi proprietária do América Rock Club. “Através da casa de show, eu acabei dando muita oportunidade para vários gêneros, não só do rock, mas também do rap”, relembra.

Eliana de Castro e colegas de profissão. Foto: arquivo pessoal

Felipe CDC, membro das bandas Terror Revolucionário, Caligo e Death Slam, vê as bandas atuais com bons olhos. “O rock candango veio com muita força após a pandemia. Muita banda nova surgindo, um povo novo produzindo eventos, algumas casas abrigando eventos de cunho underground, como a Alquímia Taberna, Halen Estúdio, Zeppelin Hamburgueria, Toinha Brasil ShowMoto Rock, etc”, cita.

Ele deixa registrada umas das peças que considera fundamental dessa renovação da cena: a escola de música da professora Sara Abreu, musicista e ex-integrante de bandas como Estamira e Mãe Hostil. “Essa jovem docente incentiva seus alunos a se juntarem e montarem bandas de rock”, revela. Para ele, é importante destacar, ainda, o trabalho de webrádios como Rádio 4 Tempos, Cult 22 e Rock Cei, que dão ‘vez e voz’ ao rock autoral e independente. “Além, claro, de trabalhos de youtubers como o Estevam, do canal Som D´Garage, o Magu Carta Branca e, recentemente o icônico Alex Podrão. Estou bem empolgado e esperançoso com esse novo ciclo”, afirma.

Banda Death Slam. Foto: Joelma Antunes/Divulgação

Movimento autoral da cidade

O guitarrista da banda Marsalla, André Bertolett, enxerga um futuro promissor. “Diversas bandas autorais, tanto mais antigas quanto novas, têm unido forças para movimentar o circuito de shows da cidade, principalmente com a criação de novos festivais independentes, como o Fênix Fest e o Caverna Fest. É muito bom poder estar fazendo parte de um movimento que vem ganhando cada vez mais força”, cita. A Marsalla está engajada em vários festivais e, no segundo semestre, vai concentrar forças na criação de novas músicas.

Marsalla. Foto: Elkllys Andrade/Divulgação

Mais uma integrante da cena do rock local, a banda Escolta considera que esse meio tem mostrado cada vez mais potencial, no sentido de estar trazendo artistas novos e sonoridades modernas, mas sempre mantendo uma certa identidade da capital. Ele sente que, cada vez mais, as bandas estão ganhando mais espaço nas casas de eventos da cidade, e que quanto mais colocam a mão na massa, o rock e seus subgêneros vão crescendo de novo. Contudo, na visão de Vinicius, para Brasília voltar a ser considerada a capital do rock, não depende só dos músicos. “Precisamos de apoio da Cultura, com editais mais acessíveis, eventos com verba pública e até a abertura de mais espaços”.

A banda está promovendo o clipe da música Ser Fênix, que deu nome ao EP. Vinícius conta que foi o primeiro clipe gravado com a ajuda de vários amigos e conhecidos. “E ainda trouxemos uma versão um pouco diferente da música, mais parecido com o que fazemos ao vivo, com uma parte de funk”, comenta. Nesse segundo semestre, a banda tem mais um lançamento planejado, o qual eles consideram bem impactante na carreira por mostrar no som o que está por trás da nova formação da Escolta.

Banda Escolta. Foto:  Joninha/Divulgação

Matheus Carpes, da banda Fosco, acredita que a cena de rock do DF é muito plural. “Bandas e projetos com as mais diversas influências, tem muito som interessante”, afirma. Para ele, mesmo que o rock não seja o estilo mais bombado no mainstream, ainda existe um público fiel e interessado em acompanhar o que os músicos têm para mostrar.

O músico considera que a movimentação das bandas autorais é essencial. “Vejo muitas bandas lançando material, tocando com regularidade, investindo e se profissionalizando. A união entre os músicos ajuda muito, cultivar parcerias, dividir aprendizados”, conta.

Para Matheus, para que Brasília volte a ser considerada a capital do rock, é preciso reconhecer que tem muita coisa a melhorar. “Para levar o público para os eventos, lidamos com problemas estruturais da região, como a Lei do Silêncio, logísticas de transporte e poder aquisitivo do público”, cita. “O entretenimento noturno pesa no bolso. Muita gente que gostaria de sair, não consegue por esgotamento de tanto estudar e trabalhar”. O músico acredita que é preciso mais valorização, apoio e iniciativas para estimular o acesso à cultura.

Foto: Juaj Xavier/Divulgação

Para Gustavo de Bem, baterista da banda Dennehy, o rock está voltando à ativa em Brasília, com muito show acontecendo e muita banda se ajudando. “Estamos felizes por fazer parte da cena e sermos reconhecidos por isso”. Ele acredita que além da movimentação da cena, o mais importante é acreditar no seu trabalho, porque não é fácil viver de música e, principalmente, de rock.

Foto: Gabriel Ikeda/Divulgação

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