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Cinema

Músico indígena compete, a contragosto, pela glória do Oscar

George é membro da nação osage, cuja trágica história é a trama central de “Os Assassinos da Lua das Flores”, dirigida por Scorsese

Redação Jornal de Brasília

26/02/2024 10h59

Foto: Apu Gomes/ AFP

De segunda à sexta-feira, Scott George oferece estadia a preços acessíveis às famílias indígenas de Oklahoa. Durante os fins de semana, canta em danças tradicionais da nação osage.

Mas terá que interromper sua rotina no mês que vem para viajar a Hollywood para a entrega do Oscar, onde a canção que escreveu para Martin Scorsese competirá com canções de Billie Eilish, Mark Ronson e Jon Batiste por um prêmio da Academia.

“Acredito que poderia usar a palavra surreal”, disse George à AFP. “Mas já não sei o que significa comparado a isso”.

“Embora eu me levante com ela todos os dias, a música é algo apenas dos finais de semana”, acrescentou.

George é membro da nação osage, cuja trágica história é a trama central de “Os Assassinos da Lua das Flores”, dirigida por Scorsese.

O filme, que competirá por dez estatuetas na cerimônia de 10 de março, conta a história de como os osage enriqueceram com o petróleo no começo do século passado para depois serem explorados e assassinados por seus vizinhos brancos.

O longa contou com a estreita colaboração dos osage, e foi filmado no coração de sua terra.

A trilha sonora foi composta pelo falecido Robbie Robertson, de raízes indígenas, e sua atriz principal, Lily Gladstone tem antepassados dos pés negros e dos nez perce.

Mas Scorsese estava decidido a contar com uma canção osage autêntica para concluir seu drama.

George recorda que um de seus colegas viu o diretor em uma dança cerimonial, durante um descanso entre os números.

“Foi como ‘nossa, [ele] nos está vendo'”, disse George. “Por isso que quando nos perguntou sobre a canção, ou sobre acrescentar uma canção, sabíamos o que queria”.

A resposta inicial foi negativa. Muitas canções osage contêm os nomes de antigos guerreiros de há dois ou três séculos.

“São nossos. Isso nos pertence”, explicou George.

“E dissemos ‘bom, não podemos dar isso a ele. Podemos fazer algo próximo, mas não isso'”.

“Foi assim que isso começou. Começamos a compor nossa canção para ele”.

O resultado foi “Wahzhazhe (A Song of My People)”, um poderoso hino de seis minutos e meio com percussão dramática e letra que encoraja os osage a se erguerem orgulhosamente depois de terem sobrevivido a tantas dificuldades.

O filme e a canção chegaram em bom momento para os anciãos que estavam em uma campanha para educar os mais jovens sobre sua história, e para lhes recordar de sua existência.

“Estamos aqui ainda, não somos relíquias”, disse Geoffrey Standing Bear, chefe da nação osage.

“Não confiamos nos forasteiros devido à nossa história. Mas Scorsese e sua equipe nos mostraram que confiam em nós, e nós neles”, disse.

“Por isso que quando vê nossas cerimônias e outras atividades e escuta a música, é osage (…) Essas canções são poemas”.

Apesar de ter entrado entre as 15 pré-indicações ao Oscar em dezembro, a canção não era considerada favorita. Por isso, a indicação no mês passado foi recebida com euforia.

“Não é genial? Para mim, ser indicada por interpretar um personagem osage é tão importante como se uma pessoa osage também fosse indicada”, disse à AFP Gladstone, que concorre ao Oscar de melhor atriz.

Mas para George, ser indicado ao Oscar não é como se fosse um “feito”, porque “não era algo ao que aspirava”.

“Me sinto satisfeito dando minha música ao meu povo”, afirmou. “Fora disso, é um pouco delicado”.

© Agence France-Presse

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