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Literatura

Projeto brasiliense abre convocatória nacional para textos literários decoloniais

Material será gravado e veiculado online no podcast Tem Livro Bolando na Mesa, nos formatos áudio e vídeo

Redação Jornal de Brasília

31/05/2022 9h56

Material será gravado e veiculado online no podcast Tem Livro Bolando na Mesa, nos formatos áudio e vídeo

Foto/Reprodução

Movimentos literários decoloniais, que amplificam vozes plurais, vêm criando frestas na hegemonia masculinista, cisheteronormativa e eurocêntrica da literatura. Fluindo nessas experiências em trânsito, o projeto Tem Livro Bolando na Mesa lança convocatória para seleção de textos produzidos por pessoas autoras LGBTQIA+, pretas, indígenas e mulheres. 

As inscrições são gratuitas e ficam abertas de 24 de maio a 8 de junho, através de formulário disponível no perfil das redes sociais do @espiralcriativooficial. Os textos selecionados irão compor a 4ª temporada do projeto. 

Por meio de curadoria formada por mulheres escritoras e artistas do Distrito Federal, serão selecionados seis textos para serem gravados e veiculados em áudio e vídeo, através das principais plataformas de streaming. Podem se inscrever pessoas autoras de todo o Brasil e são aceitas produções em qualquer formato literário, com até duas laudas. O tema é livre, mas é necessário seguir uma abordagem decolonial. O resultado será divulgado no dia 14 de junho e o lançamento das leituras on-line nas plataformas de streaming ocorrerá no mês de julho, integrando duas rodas de conversa com a participação do público.

“Ler em voz alta é um modo de compartilhar a escrita para mais pessoas e promover a leitura. Era assim que minha mãe Maísa nos incentivava a ler desde pequenas,” comenta a psicóloga, artevista, educadora e idealizadora do projeto, Fernanda Fontoura. 

Em 2020, em meio ao isolamento social provocado pela pandemia, Fernanda deu à luz ao projeto, buscando acessibilizar a leitura e sensibilizar a escuta de pessoas que foram historicamente excluídas pela hegemonia masculinista, cisheteronormativa e eurocêntrica na literatura. Logo, passou a integrar a literatura falada e não-hegemônica, enquanto ferramenta terapêutica, em suas aulas como educadora e em seus atendimentos como psicóloga ancorados no espaço Espiral Criativo.

As narrativas hegemônicas e as disparidades a romper

Pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, vinculado à Universidade de Brasília (UnB), aponta que mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras, entre 1965 e 2014, foram escritos por homens e 90% das obras foram escritos por brancos, sendo que pelo menos a metade dos autores é originária do eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Os dados mostram um cenário de homogeneidade entre escritores e publicações, atestando que homens brancos e de grandes centros urbanos têm mais espaço em editoras de grande porte.

Indo na contracorrente desse fato, Tem Livro Bolando na Mesa nos convida a ler-ouvindo e ouvir-lendo textos que incidem na descolonização, que confrontam a branquitude, rasgam a colonialidade e abrem frestas para o despertar de antigos novos mundos. O nome do projeto foi inspirado em uma fala do pai de santo e zelador de Nkisi, Tata Ngunzetala, que disse: “deixo livro bolando na mesa pra ver se os filhos de santo leem, minha filha”. Recorrendo aos meios tecnológicos de comunicação, a iniciativa busca ampliar o acesso a narrativas que apresentam perspectivas de inclusão, rotas de transformação, diversidade e bem viver.

Foto/Reprodução

Rotas de transformação 

Tem Livro Bolando na Mesa nasceu dentro da rotina da idealizadora Fernanda Fontoura. Atuando como professora universitária durante a pandemia do Covid-19, Fernanda buscava meios para sensibilizar as pessoas em processo de formação profissional e minimizar os impactos e inseguranças provocados pelo distancimento social. 

Dessa forma, lança o projeto em 2020, promovendo leituras e rodas de conversa sobre pessoas autoras LGBTQI, negras, indígenas e mulheres que se debruçam sobre a temática da descolonização. O meio encontrado para encurtar distâncias e favorecer o acesso a leituras diversas foi a veiculação dos textos em plataformas streaming de áudio e vídeo.

O projeto rompeu o espaço virtual da universidade e foi aberto ao público em geral. A primeira temporada apresentou trechos do livro Memórias da plantação, da escritora Grada Kilomba, e textos sobre artesania e descolonização dos afetos, escritos pela psicóloga guarani Geni Ñunez. 

Na segunda temporada, o projeto leu trechos do livro Pedagogia das encruzilhadas, de Luiz Rufino, tecendo reflexões sobre sabedorias ancestrais descredibilizadas pela cultura eurocêntrica ao longo dos séculos. Na terceira temporada, a leitura debruçou-se sobre a obra Mulheres e Deusas, do escritor Renato Noguera, trazendo a reflexão das narrativas míticas de mulheres e seus significados. 

Com divulgação orgânica, a veiculação dos textos em áudio tiveram mais de 4.000 visualizações e, em vídeo, atingiu mais de 2.000 visualizações, abrangendo 21 estados brasileiros e 23 países.

Serviço

Tem Livro Bolando na Mesa – Chamada para pessoas autoras LGBTQIA+, pretas, indígenas e mulheres

Live de lançamento da convocatória: 23 de maio, às 20h

Período de inscrições de textos: de 24 de maio a 8 de junho

Resultado dos textos selecionados: 14 de junho

Formulário de inscrição: @espiralcriativooficial – www.instagram.com/espiralcriativooficial 

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