Zezé di Camargo decidiu que a melhor forma de resolver um incômodo político não era no telefone, nem no camarim, nem numa conversa reservada com a emissora que o consagrou. Preferiu o palco mais barulhento de todos. O Instagram.
Foi em vídeo, publicado nas próprias redes, que o cantor resolveu fazer seu pronunciamento solene. O motivo. A presença do presidente Lula na inauguração do SBT News, na sexta-feira, dia 12. Resultado imediato. Zezé pediu publicamente que seu especial de Natal não fosse exibido. Cancelou o próprio Natal em nome da convicção.
No vídeo, o sertanejo diz que não se reconhece no atual posicionamento da emissora e aponta diretamente para as filhas de Silvio Santos, afirmando que as decisões de hoje estariam em desacordo com a visão política do fundador do canal. Ou seja. Além de cantor, Zezé assumiu o papel de intérprete oficial do pensamento do Silvio Santos versão póstuma.
O discurso veio embalado naquele pacote clássico de indignação moral. Juramento por Deus, frases sobre honra, família e valores, e um fechamento dramático digno de cena final de novela. “Se puderem, não precisa passar meu especial, não quero participar disso”.
Até aí, cada um com seu beicinho político. É aqui que euzinha cruza as pernas, ajusta o óculos e pergunta sem rodeio.
Zezé teria feito esse mesmo vídeo, com esse mesmo tom, usando o nome de Silvio Santos, se o Silvio estivesse vivo?
Porque quando Silvio comandava o SBT, presidentes passaram pela emissora. Políticos de todos os espectros sentaram no sofá, deram entrevista, participaram de eventos. E curiosamente, nunca houve vídeo indignado, nunca houve pedido para tirar especial do ar, nunca houve esse teatro todo em nome da “visão do fundador”.
O que há agora é conforto. Conforto de falar por quem não pode responder. Conforto de pressionar uma emissora pela rede social.
No fim das contas, não é sobre Lula.
Não é sobre o SBT.
É sobre palco e coragem seletiva.
E coragem seletiva, convenhamos, costuma aparecer só quando o dono do microfone já não está mais na sala.