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Kátia Flávia
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“Querem me expulsar da Igreja”, diz Padre Fábio de Melo, em desabafo no insta

Padre completa 24 anos de sacerdócio, expõe críticas internas e reacende o debate sobre fé, vaidade, espetáculo e poder dentro da Igreja.

Kátia Flávia

17/12/2025 9h00

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O padre Fábio de Melo usou suas redes sociais para fazer um desabafo contundente sobre os fiéis que pedem sua expulsão da igreja. Foto: reprodução/Insatgram/@kleber_alepereira

Manas, segura essa porque ela vem carregada. Padre Fábio de Melo usou o Instagram para celebrar 24 anos de sacerdócio e acabou abrindo uma caixa que muita gente dentro da Igreja prefere manter bem lacrada. No texto, ele afirma que, ao longo da vida, ouviu repetidas vezes que não servia para ser padre, que era uma vergonha para a Igreja e que há quem peça, abertamente, sua expulsão.

Sim, expulsão. Não é força de expressão, não é drama literário. Está escrito, preto no branco, num desabafo que misturou fé, cansaço e ressentimento acumulado.

No relato, o padre diz compreender as críticas, afirma ser vítima de um moralismo que cega e compara sua trajetória à forma como Jesus escolheu seguidores imperfeitos, estranhos, inadequados. Segundo ele, os “perfeitos” até apareceram, mas não ficaram. Achavam tudo loucura demais.

Agora, cá entre nós, com a sinceridade que eu amo e zero paciência para verniz espiritual.

Esse desabafo não surge no vácuo. Ele acontece num momento específico, depois de anos de críticas recorrentes e que se intensificaram nos últimos meses. Padre Fábio não é um sacerdote comum, nunca foi. Ele construiu conscientemente a imagem de popstar religioso, com tudo o que isso envolve.

Roupas de grife, estética impecável, corpo trabalhado, presença constante em eventos, circulação VIP, linguagem afiada, domínio absoluto de palco, câmera e redes sociais. Ele ostenta, sim. Ostenta imagem, capital simbólico, visibilidade e influência. Não é descuido, não é acaso. É projeto.

Padre Fábio performa. Ele sabe disso. O público sabe. A Igreja sabe. E parte dela detesta.

Nos últimos meses, o incômodo voltou a ferver após episódios no Sul do país, quando sua postura e falas geraram ruído entre fiéis mais conservadores e setores internos do clero. A velha patrulha reapareceu com força, questionando vaidade, comportamento e coerência pastoral.

Ou seja, o desabafo não é surpresa divina. É resposta humana.

O conflito aqui não é apenas fé versus moralismo, como a versão romantizada tenta vender. É uma disputa clara sobre modelo de sacerdócio. De um lado, a figura tradicional do padre discreto, apagado, quase invisível. Do outro, um padre-celebridade que ocupa palco, feed, entrevista, holofote e gosta disso.

E aí entra o ponto delicado que ninguém quer dizer em voz alta.

Quando você escolhe viver como estrela, você também aceita virar alvo. Não dá para querer aplauso sem aceitar julgamento. O clericalismo tradicional nunca lidou bem com brilho demais. Batina não foi feita para refletir flash.

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Padre Fábio de Melo desabafa no Instagram.

Padre Fábio domina a estética da vulnerabilidade. Emoção engaja. Desabafo bem escrito vira manchete. E ele sabe fazer isso como poucos. Mas o mesmo sistema que tolera pecado escondido não suporta vaidade escancarada.

No fundo, a Igreja até aceita erro.
O que ela não aceita é um padre que gosta de ser visto.

Quando ele diz que pedem sua expulsão, o que está em jogo não é só intolerância. É inveja institucional, choque de poder e medo de quem cresce demais fora do controle.

A pergunta não é se Padre Fábio está certo ou errado.
A pergunta é se há espaço, dentro da Igreja, para um padre que se comporta como estrela e não pede desculpa por isso.

Porque santo discreto passa batido. Mas padre popstar vira debate público.

E agora, querido, não adianta acender vela. A plateia não reza. Ela comenta.

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