Amores… segurem as perucas, os broches, as taças e o batom Ruby Woo, porque a notícia que chegou no amanhecer é daquelas que rasgam o coração do cinema mundial: Udo Kier nos deixou aos 81 anos.
Sim, ELE. O homem que conseguia ser vilão, gênio, estranho, sublime e absolutamente hipnotizante na mesma cena. Um ator tão camaleônico que parecia atravessar gerações sem jamais perder o brilho , pelo contrário, ele se reinventa-va diante das câmeras como se tivesse nascido para incendiar a cinefilia planetária.
A morte foi confirmada pela Variety e pelo companheiro do artista, o também ator e performer Delbert McBride. A causa ainda não foi divulgada, o que só aumenta a aura de perplexidade que paira sobre Hollywood, sobre o cinema europeu e, claro, sobre nós, brasileiros, que adotamos Udo Kier como um primo fabuloso da sétima arte.
O público brasileiro tem um carinho especial por ele, e com razão. Foi em “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho, que Kier deu vida ao vilão Michael, entregando uma das performances mais assustadoras e memoráveis do cinema nacional recente. E agora, como se o destino quisesse uma despedida de gala, Udo estava brilhando novamente em telas brasileiras com “O Agente Secreto”, também dirigido por Kleber, em plena campanha por uma vaga no Oscar.
Mas, amores, isso é só a pontinha da filmografia desse homem que trabalhou com Lars von Trier, Paul Morrissey, Gus Van Sant, Werner Herzog, Fassbinder, Dario Argento, Guy Maddin, e tantos outros titãs do cinema. Foram mais de 200 produções, uma trajetória que atravessou o underground, o mainstream, o horror, o experimental, o dramático, o cult, o bizarro e o genial… tudo com a mesma intensidade arrebatadora.

Nos anos 70, estrelou clássicos produzidos por Andy Warhol, como “Carne para Frankenstein” e “Sangue para Drácula”, filmes que até hoje são citados como símbolos máximos do trash artístico que só a época poderia parir.
Nos 90, brilhou ao lado de Keanu Reeves e River Phoenix em “Garotos de Programa”, e depois mergulhou de cabeça nas obras provocativas de Lars von Trier, de “Europa” a “Dogville”, de “Dançando no Escuro” a “Melancolia”.
Sim, meus amores… É como se um pedaço inteiro da história do cinema tivesse sido arrancado da prateleira principal.
Udo Kier era único. Udo Kier era irrecusável. Udo Kier era o tipo de artista que não nasce de novo.
Hoje, o cinema fica mais pobre, mais cinza, mais silencioso. E nós, perplexas, tentamos entender como se homenageia alguém tão maior que a própria tela.