Amores , o episódio desta quinta do Na Palma da Mari promete mais emoção que novela das nove. Glória Pires e Isabel Fillardis sentaram no sofá ao lado de Mari Palma e resolveram largar mão da diplomacia. Falaram de amizade feminina, redes de apoio, bastidores cabeludos, assédio moral, carreira, maternidade, intuição e tudo que o universo masculino finge que não existe.
Glória, sempre elegante, abriu os trabalhos dizendo que as mulheres estão cada vez mais desconectadas da própria força. Para ela, amizade feminina é bússola, é armadura, é o Wi-Fi emocional que mantém tudo funcionando. “A gente precisa se apoiar. Precisamos estar juntas”, disse, num tom tão firme que dava para ouvir feminista aplaudindo do lado de fora.
Isabel, por sua vez, entrou com aquela mistura de poesia e tapa na cara que só ela sabe entregar. Falou da intuição feminina, dessa antena que o homem chama de problema, mas que na verdade sempre guiou as mulheres. Relembrou, com ironia e coragem, o apagamento histórico de tudo que não é masculino. E ainda tirou do baú o clássico episódio em que foi tratada como se seu talento fosse “excesso”, quando o problema estava bem longe dela.
Mari Palma, estilo anfitriã cool, levou a conversa para os bastidores do audiovisual. Glória contou que, no início da carreira, mulher atrás da câmera era praticamente criatura mitológica. Diretora de fotografia, operadora de som, fotógrafa? Tudo raro. Mas ela foi abrindo caminho e hoje colhe o resultado: equipes inteiras formadas majoritariamente por mulheres. Uma revolução silenciosa e poderosa.
Já Isabel relembrou episódios jovens, desconfortáveis e lamentavelmente comuns. Assédio, silenciamento, homens que confundiam firmeza com ameaça. E contou, sem rodeios, sobre um papel que perdeu por machismo explícito. “Hoje, com cumplicidade feminina, isso jamais aconteceria”, afirmou.
Na ala emocional, Glória abriu o coração. Falou da infância marcada por pais artistas, da insegurança constante, da pressão estética, da vida que nunca oferece garantia nenhuma. E relatou como a pandemia virou seu eixo de cabeça para baixo: luto, medo, limite, terapia e, no fim, descoberta. Uma Glória mais inteira emergiu dali.
Isabel encerrou como quem acende uma vela na sala. Falou do elo entre elas. Nunca trabalharam juntas, mas sempre foram irmãs de trajetória. “Já passamos por adversidades, renascimentos. Ela é alguém com quem posso compartilhar minha vulnerabilidade”, disse, num tom que faria até o cinismo derreter.
No fim, ficou claro: quando mulheres se encontram e falam sem filtro, o mundo se reorganiza. Para quem assiste, sobra inspiração. Para quem vive, sobra munição.