Brasil é mesmo um país criativo. Quando falta novidade, ele ressuscita uma música velha e transforma em caso sério. Daqueles que rendem inquérito, análise e cara feia.
A banda Garotos Podres entrou na mira das autoridades por causa de uma música escrita há quase quatro décadas. Uma letra que já passou por censura, por palco, por debate político e por ouvido calejado. Agora, reaparece como problema atual, desses que incomodam mais quem escuta do que quem canta.
A canção voltou a circular, foi recortada, descontextualizada e caiu no colo da indignação moderna. Daquelas que não querem saber quando foi feita, por que foi feita ou contra o quê foi feita. Quer só apontar o dedo e pedir providência.
O resultado é esse. Punk tratado como ameaça, metáfora lida como literal e ironia confundida com crime. O vocalista Mao resumiu tudo como ranço autoritário reciclado. Muda a embalagem, mas o conteúdo é o mesmo.
O inquérito já foi concluído e agora está com o Ministério Público, que decide se arquiva ou se segue adiante com esse roteiro improvável. Enquanto isso, o punk segue cumprindo sua função histórica. Incomodar, provocar e expor a falta de senso de humor de quem leva tudo ao pé da letra.
No fim, a música continua velha, o incômodo é novo e a pergunta fica no ar. Se até letra dos anos 80 assusta, imagina o silêncio.