Eric Zambon
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O filme ‘Rafiki’, primeira obra do Quênia a ser selecionada para o Festival Internacional de Cinema de Cannes, em maio, não poderá ser exibido no próprio país de origem. Isso porque o governo da nação africana, de maioria cristã protestante, considera a história de amor entre duas lésbicas uma afronta a uma lei antiga que pune a homossexualidade com até 14 anos de prisão.
A conta oficial no Twitter do Comitê de Classificação de Filmes do Quênia (KFCB, na sigla original em inglês) divulgou que “a constituição é suprema e ‘Rafiki’ abertamente a contravém”. “Qualquer um que seja encontrado com sua posse estará violando a lei”, publicou também o órgão (veja o tweet abaixo e o trailer ao fim da matéria).
Rafiki goes against the dominant values held by the majority in Kenya. The constitution is supreme and Rafiki overtly contravenes it.#KFCBbansLesbianFilm
Dr. @EzekielMutua @WilliamsRuto
@CSRashidEchesa
@moscakenya @NellyMuluka @KibetBenard_ @KTNNews pic.twitter.com/J9qDUS9LA1— Kenya Film Classification Board (@InfoKfcb) April 27, 2018
A diretora do filme, Wanuri Kahiu, repudiou a atitude do Comitê e lembrou que a população do país já tem acesso a conteúdos de temática LGBTTQ por meio de plataformas de streaming como o Netflix. “Então proibir só um filme queniano porque ele lida com algo que já acontece na sociedade parece simplesmente uma contradição”, disse ela à agência de notícias Reuters.
Ainda segundo a agência, até o presidente do Quênia, Ezekiel Mutua, havia reconhecido o bom trabalho do longa-metragem no início de abril. “É uma história sobre as realidades de nosso tempo e os desafios que nossas crianças estão enfrentando, especialmente com sua sexualidade”, teria dito ele à rádio comercial HOT 96 FM.
O prestígio
O Festival de Cannes, realizado anualmente na cidade francesa que dá nome ao evento, acontece desde 1946, quando nasceu como o Festival international du film – apenas em 2002 ganhou o nome atual. É uma das premiações mais prestigiadas do cinema e considerada menos popular (em termos de público-alvo) do que os Academy Awards, o famoso Oscar.
Uma curiosidade é que Rafiki, palavra que dá título ao filme queniano, significa amigo e já faz parte da cultura ocidental. Nos aclamados filmes da franquia ‘Rei Leão’, é o nome do macaco que ergue o protagonista Simba quando ele nasce e é apresentado ao reino.