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Molière: um embate entre o cômico e o trágico

Espetáculo faz o público rir de tanto chorar e chorar de tanto rir ao mostrar o conflito dos grandes gêneros da arte

Redação Jornal de Brasília

23/02/2023 10h20

Foto: Eika Yabusame/Divulgação

Amanda Karolyne
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Uma disputa bem-humorada entre a Comédia e a tragédia vai fazer o público do Centro Cultural Banco do Brasil refletir sobre o valor do riso e do choro. O espetáculo Molière chega ao CCBB Brasília nesta quinta-feira, 23 de fevereiro, e fica até 12 de março, com sessões de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Matheus Nachtergaele interpreta o homônimo Molière, junto de Elcio Nogueira Seixas, que vive o poeta Jean Racine. A produção chega ao Distrito Federal após a pandemia e quatro anos de temporadas de sucesso pelo país.

A peça da renomada dramaturga mexicana Sabina Berman, tem direção de Diego Fortes, ganhador do Prêmio Shell em 2017 pelo espetáculo O Grande Sucesso. O elenco conta com quatorze atores e músicos que vão narrar o conflito entre maneiras opostas de enxergar o mundo, transformadas nas tão conhecidas máscaras do teatro: o riso e o pranto. O espetáculo conta com adaptações das músicas de Caetano Veloso, o último representante do último grande movimento em direção a liberdade que o Brasil teve, que foi o tropicalismo.

Pode surpreender a todos, como surpreendeu Matheus Nachtergaele, mas essa é sua primeira vez interpretando um papel cômico nos palcos de um teatro. Ele conta que foi recrutado para o cinema brasileiro para fazer principalmente dramas. Já para a televisão, com o impulso de Auto da Compadecida, ele foi chamado para mais personagens cômicos, como o João Grilo, o Olegário de Cine Holliúdy (TV Globo) e outros incontáveis. “Agora no teatro, eu sempre fiz tragédia. E fui chamado pela primeira vez, justamente para ser o Molière, que é o pai da comédia ocidental”, afirma. Tem sido muito revelador para ele, que finalmente entendeu que a comédia é tão grande quanto a tragédia. “A comédia é a intuição do trágico. Você só ri daquilo que você não quer para você”. Para ele, a comédia é uma vacina para os maus costumes, e quando ela é bem feita, faz o público refletir.

Estudando sobre Molière, Matheus percebeu que o dramaturgo lutou contra a insistência da melancolia e da tristeza.”Não significa que ele é um alegre e bobão, mas sim que ele está tentando concretamente substituir a dor por prazer”, adiciona. Como inspiração para a peça, ele tentou encontrar nele mesmo o desejo de ser feliz, mesmo sabendo que a vida é dura. Ele cita um personagem que fez em Todas As Mulheres do Mundo (TV Globo), o Cabral: A vida é maravilhosa apesar de ser ruim. Molière vai discutir isso: porque o mundo optou pela dor? Se a gente poderia ser mais feliz porque não somos? “Não é à toa que o símbolo do teatro são as máscaras da comédia e da tragédia sobrepostas”, frisa. Para um ator, Matheus considera que são igualmente desafiadores todos os gêneros, e um ator de verdade faz comédia tendo intuição trágica, e faz tragédia, tendo senso de humor.

Matheus conta que está muito feliz de estar fazendo a peça que estreou em 2018. Ele salienta que tudo que a peça nos conta fica reforçado por tudo que nós vivemos atualmente. Segundo o ator, Molière é uma comédia musical antifacista, que utiliza do histórico da rivalidade entre Molière e Jean Racine, pelos favores de Luís XIV, o Rei Sol (Josie Antello), na França. “Ela reflete sobre várias coisas, incluindo a insistência do ser humano em considerar o sofrimento, a culpa e a dor, superiores ao riso, ao prazer e à alegria”, elabora. É uma peça para se rir muito, mas também com reflexões muito grandes sobre quem somos e o que nós queremos fazer de nós.

Além do embate entre o riso e a dor, a peça traz uma outra reflexão, que é como a Igreja interferiu nas relações da arte com o Rei Luís XIV. O que Nachtergaele acredita se relacionar com o fato da igreja continuar interferindo demais nas decisões de Estado até hoje. “No caso do Brasil, um país totalmente multifacetado de religiões múltiplas, de muita festa também, a opção ser uma religião culposa e branca foi muito triste”.

Para ele, ir a Brasília com esse espetáculo depois de tudo o que aconteceu politicamente, é bem emocionante. “A peça vai celebrar com os brasilienses o momento que se retoma o apreço pelas normas democráticas”.

Serviço:
Molière – Uma comédia musical de Sabina Berman

Local: Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
Endereço: SCES Trecho 2 Lt. 22 – Brasília/DF
Temporada: de 23 de fevereiro a 12 de março de 2023
Horários: de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 18h
Sessão com tradução para Libras, dia 4 de março, sábado
Ingresso: R$ 30,00 (inteira), e R$ 15 (a meia para estudantes, professores, profissionais da saúde, PCDs, pessoas maiores de 60 anos e clientes BB)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos

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