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Em pleno dia da Independência do Brasil, Andô lança canção provocativa e reflete contradições sociais

Com contribuições de Odaya e Anná, “O Fantástico Mundo Tecnopraxista – de saberes inaplicáveis” introduz o segundo EP do compositor, a ser lançado em breve

Redação Jornal de Brasília

07/09/2021 14h03

Em uma antiga entrevista, Nina Simone questionou: “Como você pode ser um artista e não refletir os tempos?”. Não é segredo que vivemos em meio a um caos social que tem nos revelado uma faceta triste da nossa vivência. Nesse cenário, cabe aos artistas ressignificar o entretenimento, fazer o ouvinte pensar e refletir sobre tudo. Essa é, prontamente, a intenção de “O Fantástico Mundo Tecnopraxista – de saberes inaplicáveis”, novo single do compositor, ator e educador andô.

A canção, que conta com as contribuições de Odaya nos arranjos e de Anná na interpretação dos brilhantes versos falados, ganha simbolismo extra ao ser lançada no dia 7 de setembro, o feriado em que se comemora a Independência do Brasil. “Traga bolos, vuvuzelas e farinhas para não ficar de fora dessa grande euforia”, ironiza a faixa, logo em seu início, como forma de nos colocar em um lugar reflexivo – papel que cumpre até o seu fim. Do ponto de vista de andô, a escolha da data é um contraponto. “A gente está vivendo uma loucura, mas dizer que é uma loucura seria um desrespeito ao manicômio. Estamos vivendo a ascensão de uma extrema direita que é perigosíssima”, destaca.

Mas não é apenas de política que esse tal “Fantástico Mundo” se trata. O tema se destrincha em várias vertentes que elucidam o ouvinte sobre o trágico caminho ao qual estamos, aos poucos, nos encaminhando. A letra esbarra, propositalmente, em temas como desigualdade social, preconceito racial, influência de redes sociais, excesso de informações e mais características dessa evidente “depressão subtropical”. Nas palavras do sociólogo Gregory Lopes Azevedo, “pode-se concordar com as afirmações da faixa e suas reflexões na medida em que as redes sociais se tornam meio de contato com a internet que impossibilita parte de uma população empobrecida e com chips pré-pagos de operadoras que firmam parcerias com Facebook e WhatsApp para acesso gratuito”.

(Capa de “Caos Pré Renascentista. Arte: Luís Só)

Com essa nova faixa, andô começa a divulgação de seu novo EP Caos Pré Renascentista, que dá sequência quase que direta ao material apresentado em Tragicomédia Tropical (2018). Construído cautelosamente da mesma forma que o corpo de uma mãe prepara seu filho para o mundo, o lançamento foge de padrões estéticos e bebe da fonte de referências múltiplas que se espalham pela história, indo desde a Tropicália até uma rica cena de cantautores da atualidade, que inclui nomes como o grupo OKKA (Paulo Monarco, Jota Erre, Dandara e Raul Misturada), Conrado Pera, Leyllah Diva Black e Barroso Eus. Contudo, vale destacar que “O Fantástico Mundo Tecnopraxista” é apenas o “abre-alas” do Caos, um convite para que o ouvinte se acomode para acompanhar o inrotulável trabalho de andô, um “neotropicalista intergaláctico”, na visão do poeta Vinícius Paes, creditado como letrista em uma das faixas do EP.

Para concretizar sua singular construção sonora, o artista fez questão de centralizar um grande trabalho colaborativo, que contou com participações de mais de 25 pessoas em 5 canções. Afinal, em momentos delicados como os que vivemos, se faz necessário demais que a classe artística se ajude. As gravações foram todas feitas à distância, para evitar aglomerações e garantir a segurança dos envolvidos. “Independência é um termo muito engraçado, porque sozinho a gente não faz nada na arte. Eu gosto de chamar de interdependente ou de independência coletiva”, comenta andô, que lembra que a cena cultural foi a primeira a ser afetada pela pandemia e provavelmente vai ser a última a voltar ao seu funcionamento pleno.

O EP, a ser lançado em breve, traz composições que nos posicionam devidamente na época que vivemos, remetendo à clara vulnerabilidade dos tempos a cada verso. “O Fantástico Mundo Tecnopraxista – de saberes inaplicáveis” é só uma amostra do compromisso social de andô, um agente de todo esse caos. Se viva, Nina Simone se sentiria contemplada.

SOBRE ANDÔ

Fernando Chohfe Stelzer, também conhecido pelo nome artístico andô, respira cultura. Formado em Licenciatura em Mu?sica e com grande atuação nas áreas da Educação e Produção Cultural, ele se comunica com o mundo através de seu viés artístico porque entende o papel transformador que a arte tem e sempre teve. Em 2016, ajudou a erguer uma companhia de teatro, a Companhia do Estevão Maravilha, que já foi contemplada com o ProAC. Também atua como produtor cultural e produtor musical. Em 2020, andô recebeu aporte financeiro da Lei Aldir Blanc e realizou o festival virtual Mi Casa, que juntou educadores, produtores e artistas para falar sobre a cultura independente feita nos dias de hoje. O festival se desdobrou no projeto Mi Casa – Educação e Cultura, que disponibiliza oficinas gratuitas de Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.

Atualmente, ele prepara território para seu segundo projeto, intitulado Caos Pré Renascentista, que tem previsão de lançamento para 2021. O EP dá sequência ao lançamento de Tragicomédia Tropical (2018), com uma sonoridade plural e instigante. Seus vários projetos, vivos em paralelo, evidenciam a inquietude artística de andô e sua vontade de ir cada vez mais além com sua mensagem.

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