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Cinema

Michael J. Fox não queria piedade em filme sobre sua vida, diz diretor de ‘Still’

O documentário é exibido no festival É Tudo Verdade antes de estrear no Apple TV+ em 12 de maio, e reconta a vida do artista

FolhaPress

20/04/2023 16h04

Foto: Divulgação

Pedro Strazza
São Paulo – SP

Michael J. Fox é um dos grandes nomes dos anos 1980, mas seu tempo está acabando. O ator canadense sofre com a mal de Parkinson, diagnosticado no começo dos anos 1990. A degeneração gradual do sistema nervoso forçou sua aposentadoria, aos 61 anos. Ele não sabe por quanto tempo continuará lúcido.

Tudo isso é dito pelo próprio Michael no começo de “Still: Ainda Sou Michael J. Fox”. O documentário é exibido no festival É Tudo Verdade antes de estrear no Apple TV+ em 12 de maio, e reconta a vida do artista com a sombra da doença pairando sobre ele. Segundo o diretor, Davis Guggenheim, a ideia era evitar o fatalismo.

“Michael me pediu uma coisa: sem violência, violinos tocando ou piedade”, diz o documentarista. “Eu concordava com ele. Eu não queria fazer um filme sobre Parkinson. A doença está na história, mas poderia ser qualquer outra coisa. O longa tinha que ser sobre a ideia maior de fragilidade, de que todos somos pessoas frágeis.”

Guggenheim chegou ao ator por admiração. Segundo o diretor, uma leitura de “No Time Like the Future”, escrito por Michael e ainda inédito no Brasil, o levou a explorar entrevistas do artista, que o cativou pelo talento em contar histórias. Quando ouviu os audiolivros, teve certeza de que havia um filme ali.

O cineasta ficou tão encantado com a narração do ator que demorou seis meses para entrevistá-lo. A ideia, diz ele, era usar só trechos dos audiolivros no filme. Mas o trabalho em um comercial mudou seu plano.

“O diretor de fotografia do comercial me ensinou um enquadramento em que eu conseguia ficar a um metro do entrevistado e podíamos nos encarar, mas parecia que a pessoa olhava para a câmera. Resolvi experimentar com o Michael, e a entrevista funcionou.”

O resultado é hipnótico. O filme dá a sensação de uma longa conversa com o astro, que entra em detalhes sobre o começo da carreira e a maneira como lidou com o diagnóstico de Parkinson. Isso mesmo as gravações acontecendo em seis dias espalhados ao longo de um ano, de acordo com as idas e vindas da saúde do entrevistado.

“Ele estava caindo bastante naquela época”, afirma Guggenheim. “No dia das gravações, a equipe ficava de prontidão o dia inteiro. Filmávamos quando ele se sentia bem e parávamos quando precisava descansar. Era como estar em uma montanha-russa, uma que ele anda todo dia.”

O tom confessional se alinha com as imagens, que unem cenas dos filmes e séries estreladas pelo ator com recriações. A mistura dá a impressão de se acompanhar Michael na época das histórias.

Quando o entrevistado conta dos meses em que trabalhava ao mesmo tempo na sitcom “Caras e Caretas” e no longa “De Volta para o Futuro”, por exemplo, o documentário o acompanha entre os sets. As recriações mostram Michael no trajeto entre as filmagens, enquanto trechos das produções imprimem o estresse gradual das 24 horas de trabalho.

Segundo Guggenheim, o efeito é fruto de seu conflito com o editor Michael Harte. Enquanto o diretor lutava pelas recriações, o montador queria usar mais cenas dos filmes. O filme venceu o duelo, diz o cineasta.

“No começo achavávamos que apenas uma abordagem ia prevalecer e um de nós ia ser obrigado a descartar o trabalho. No fim, fizemos ambas, de tão misturadas que ficaram.”

“Still” deixa evidente a vulnerabilidade de Michael J. Fox. O filme começa com ele caindo na rua e mostra diversas sessões de fisioterapia. O artista ainda aparece com a mão enfaixada em alguns momentos.
Isso afetou a forma do documentário. Ao invés da câmera na mão, prática comum do gênero, Guggenheim sempre enquadra o artista à distância, de um lugar fixo. Ele diz que foi uma maneira de criar um espaço confortável ao protagonista.

A manobra alimenta ainda o título do filme, que carrega duplo sentido. Em inglês, “still” pode ser um substantivo que define imobilidade, algo perdido pelo ator na luta com o Parkinson. Mas também é um advérbio, o qual significa a continuidade de uma ação.

“Era palavra que importava mais”, diz Guggenheim. “Michael está sempre em movimento, sempre correndo. O título reflete esse momento presente, que ele descobriu ao aceitar o mal de Parkinson.”

STILL: AINDA SOU MICHAEL J. FOX
Quando Dia 21/4, às 19h30, no IMS Paulista, em São Paulo; 12 de maio no Apple TV+
Classificação 12 anos
Produção Estados Unidos, 2023
Direção Davis Guggenheim

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