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Cinema

Em Cannes, novo filme de Almodóvar foge de nudez explícita de caubóis gays

O filme, que fez sua estreia mundial nesta quarta (17), numa sessão concorrida no Festival de Cannes, é um típico “almodrama”

FolhaPress

17/05/2023 13h05

Foto: Divulgação

Guilherme Genestreti
Cannes – França

É com a voz de Caetano Veloso cantando o fado “Estranha Forma de Vida”, de Amália Rodrigues, que Pedro Almodóvar escolheu dar início ao seu aguardadíssimo curta “Extraña Forma de Vida”, ou “Strange Way of Life”, que põe os atores Pedro Pascal e Ethan Hawke no universo de um faroeste gay. É uma escolha coerente, que não só repete a parceria entre o cineasta espanhol e o cantor brasileiro, firmada em “Fale com Ela”, como acentua as marcas daquele.

O filme, que fez sua estreia mundial nesta quarta (17), numa sessão concorrida no Festival de Cannes, é um típico “almodrama” (para usar uma expressão cunhada pelo compositor baiano), mas da lavra dos almodramas masculinos, como “Má Educação”, “A Lei do Desejo” e “Dor e Glória”. Isso significa que o que está no centro é uma análise psicológica da relação entre homens, mas sempre mediada pelo desejo, como reza a cartilha do diretor.

Em linhas gerais, há a história de dois caubóis, embrutecidos como pedem as convenções do gênero, que se encontram 25 anos após terem vivido uma paixão tórrida. Hawke faz o papel de um xerife às voltas com o assassinato da cunhada. Quem topa à sua porta é o personagem de Pascal, seu ex-amante de décadas atrás e pai do principal suspeito do crime.

O reencontro acende a atração adormecida entre os dois, claro. Almodóvar chega a enquadrar a bunda desnuda de Pascal à certa altura, mas a produção se esquiva da sexualidade explícita.

“Não quis mostrar nudez dos corpos, mas nudez das vozes, porque o que eles dizem é mais impactante”, disse o cineasta em conversa com o público após a exibição única e concorridíssima do curta em Cannes. “Meus filmes do começo da carreira têm muito sexo explícito, então cada vez mais busco mostrar o prazer de outro modo. Os olhares deles é que carregam a sensualidade.”

Há aqui uma citação escancarada a “Brokeback Mountain”, obra pioneira sobre vaqueiros gays, de meados dos anos 2000, mas nas mãos de Almodóvar o faroeste faz mais aceno à abordagem ambígua aos western spaghetti do italiano Sergio Leone do que aos épicos do americano John Ford.

“Apesar de ser um gênero totalmente masculino, o cinema nunca deu abertura ao desejo de dois homens. É incrível que estamos em 2023 e ainda não havia um filme assim”, disse o espanhol, que citou as diretoras Jane Campion (“O Ataque dos Cães”), Kelly Reichardt (“First Cow”) e Chloe Zhao (“Domando o Destino”) como renovadoras do estilo.

Hawke e Pascal vestem trajes desenhados pelo estilista Anthony Vaccarello, responsável pela lufada que renovou a Saint Laurent. A grife é coprodutora de “Estranha Forma de Vida”, uma intersecção entre cinema autoral e alta costura que já rendeu frutos com o diretor Luca Guadagnino e a marca Valentino. É sob um sol poente, por exemplo, que paira Pascal vestindo um impecável blazer verde-bandeira.

O ator, aliás, não compareceu à sessão única do seu filme, para desapontamento do batalhão de fãs que se enfileiraram debaixo de chuva, e por mais de sete horas, para ver em primeira mão um curta que não ultrapassa os 40 minutos de duração.

Não que o elenco estivesse totalmente desfalcado, como notou o próprio Almodóvar, ladeado no palco por quatro rapazes -dois deles com um decote generoso, incluindo Manu Ríos, de “Elite”. “Vocês podem ver aqui as beldades do filme”, disse o diretor. “Mas garanto que eles são também bons atores.”

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