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Cinema

Doce e melancólico, ‘Noites de Paris’ traz de volta um tempo de esperança

O filme é sobre uma mãe que tem de se virar sozinha para criar o casal de filhos. Charlotte Gainsbourg é quem faz o papel

Redação Jornal de Brasília

26/10/2022 19h05

Foto: Divulgação

Sucesso de público e crítica – seu filme é um dos mais vistos no Petra Belas Artes -, Mikhael Hers, diretor de Noites de Paris, conversa pelo telefone com a reportagem do Estadão. O filme é sobre uma mãe que tem de se virar sozinha para criar o casal de filhos. Charlotte Gainsbourg é quem faz o papel. Arranja emprego numa rádio, no programa da madrugada, daí o título original – Les Passagers de la Nuit. Os Passageiros da Noite. Hers lembra que é o mesmo título de um clássico norte-americano do filme noir, com Humphrey Bogart e Lauren Bacall. Dark Passage, de 1947, chamou-se Prisioneiro do Passado no Brasil. Hers não se lembra do nome do diretor. O repórter o ajuda – Delmer Daves. “É isso, é maravilhoso, mas não tem muito a ver com meu filme.”

Noites de Paris começa em 1981, na noite em que o socialista François Mittérrand venceu a eleição e foi proclamado presidente da França. Passaram-se mais de 40 anos. Por que voltar àquela época? “Foram meus anos de formação. Creio firmemente que somos formados na nossa infância e juventude. Era criança naquela época, mas sempre quis voltar àquele período. Sinto que foi nos anos 1980 que descobri o mundo e a mim mesmo.” A rádio? “Embora vivamos na civilização da imagem, a rádio é muito importante na vida das pessoas, especialmente nesses programas noturnos, que atingem solitários, insones, ou pessoas que têm de permanecer alertas, por estar trabalhando.”

Hers concorda que seu filme é sensorial e sensual, feito de observação. Charlotte tem a filha militante, que votou em Mittérrand. Por meio da mãe, o filho envolve-se com uma ouvinte do programa. Noée Abita, que faz Talulah, está longe de ser uma garota certinha. Hers a utiliza para homenagear, duplamente, Pascale Ogier, filha de Bulle Ogier, que morreu precocemente, aos 26 anos, em 1984, e o diretor e roteirista Eric Tohmer, autor de seu filme mais famoso, Les Nuits de la Pleine Lune, lançado naquele mesmo ano. “De todos os autores da nouvelle vague, Rohmer é meu preferido. Aprecio sua capacidade de observação, o olhar para as relações. Toda aquela geração era muito interessante. Só eles podiam fazer aqueles filmes.”

Talulah, no filme, é uma garota marginalizada, mais do que marginal. Nunca experimentou o sentimento de pertencimento que Charlotte tenta manter tão vivo para sua família. No limite, Noites de Paris é um filme sobre mudança, transformação. A França inicia, sob a presidência imperial de Mittérrand, uma nova fase. A grande história, com H, possui reflexos na vida privada. O fato de agora não ter um marido para compartilhar a vida familiar tem algo de luto para Charlotte. “O filme fala de separação, de ausência, do tempo que passa. Mas não queria que fosse pesado. Noites de Paris nasceu da minha vontade de fazer um filme, malgrado as circunstâncias, que fosse doce e melancólico. Creio que o público percebe isso.”

La doucer. Ao mesmo tempo que investe num desenho delicado de personagens, Hers não deixa de pesquisar a forma. “Com meu diretor de fotografia busquei texturas, formatos que colocassem na tela os anos 1980. É um filme de época, daquela época. Havia mais solidariedade, esperança no mundo. São coisas que parece que estamos perdendo e o cinema permite reconstruir.”

Estadão Conteúdo

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