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Cinema

Alice Braga questiona o que é ser feliz e viaja o multiverso na série ‘Matéria Escura’

Em “Matéria Escura”, o escritor americano Blake Crouch se cercou de conceitos da física quântica para entrar na discussão, que agora leva ao streaming

Redação Jornal de Brasília

08/05/2024 10h03

Foto: Reprodução

LEONARDO SANCHEZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Multiversos se tornaram uma constante nas telas, chegando até o Oscar, historicamente pouco interessado em filmes de ficção científica. A premiação recentemente laureou “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” e “Homem-Aranha no Aranhaverso”, mesmo sob protestos de quem vê o tema como uma herança infantilizada do cinema de super-heróis.

Mas há quem queira explorar caminhos mais maduros para a teoria de que vidas alternativas às nossas correm em paralelo, em outros universos. Em “Matéria Escura”, o escritor americano Blake Crouch se cercou de conceitos da física quântica para entrar na discussão, que agora leva ao streaming numa minissérie de mesmo nome.

Com estreia no Apple TV+ nesta quarta-feira (8), “Matéria Escura” narra a história de um físico que leciona para universitários desinteressados, mas que ao menos volta para uma família amorosa e feliz ao fim do dia.

Uma notícia, porém, perturba a vida ordenada de Jason Dessen, papel de Joel Edgerton. Um amigo que preferiu investir na carreira, abrindo mão da estabilidade de um núcleo familiar sólido, recebe um cobiçado prêmio de sua área de pesquisa, inebriando o protagonista de inveja.

A contragosto, Jason vai à comemoração do amigo, mas é surpreendido por um sequestro. Ao acordar do opioide que lhe dão, descobre ser, agora, um gênio da física e solteirão. Não demora muito até sabermos que seu sequestrador é uma versão de si mesmo vinda de uma realidade paralela, que toma seu lugar no comercial de margarina que é sua vida.

“Eu nunca vi o tema do multiverso num contexto parecido, tão pé no chão. É uma trama que poderia estar falando da minha vida, de tão humana que é. Todos nós nos digladiamos com a pergunta: ‘Estou feliz com a minha vida?'”, diz Matt Tolmach, produtor que brincou com o conceito nos filmes do Homem-Aranha de Tom Holland e de Andrew Garfield.

“O interesse pelo tema deve ter algo a ver com as redes sociais, com o fato de sermos bombardeados por vidas idealizadas, fabricadas, perfeitas. Gera um tipo de frustração silenciosa”, completa Crouch.
Ele trilhou o raro caminho do romancista que adapta as próprias obras para o cinema ou a TV, já que não queria que um estranho estragasse ou, pior, melhorasse um de seus filhos, como diz o autor-roteirista do terror “Wayward Pines” e do policial “Good Behavior”.

“Matéria Escura” provoca o espectador com seus dois Jasons. Um preferiu investir no trabalho e chegou à vida adulta profissionalmente realizado, porém solitário. O outro assumiu um filho e casou cedo, o que lhe trouxe satisfação pessoal, mas não sem comprometimentos no ofício. Qual das duas vidas é a mais completa e qual é a mais medíocre, se é que podemos ceder à tentação de assim rotulá-las?

Numa das realidades de Jason, Jennifer Connelly surge como a mulher atenciosa e fiel. Na outra, Alice Braga faz uma pesquisadora que trabalha em seu importante projeto de física. A atriz brasileira também já remexeu na ideia de multiverso em sua carreira, no blockbuster “O Esquadrão Suicida”, uma espécie de remake precoce -ou releitura a partir de outro universo- do grupo de supervilões da DC Comics.

Braga conta também ter encarado as perguntas impostas pela série ao longo da carreira. Sobrinha de Sonia Braga, outra que rompeu a bolha do cinema nacional e fez sucesso em Hollywood, ela tem boa parte da vida pautada pelas viagens entre Estados Unidos e Brasil.

Como o segundo Jason de “Matéria Escura”, ela também abriu mão de muita coisa para se estabelecer no ofício, colecionando uma variedade de papéis que vão do sucesso nacional “Eduardo e Mônica” às séries estrangeiras “We Are Who We Are” e “A Rainha do Sul”. Sua agenda é cheia, basta olhar as entradas em seu currículo nos últimos anos.

“Mesmo que ‘Matéria Escura’ seja uma ficção, ela fala de questões que todos nós vivemos. Na vida do Jason não existe escolha certa ou errada, a felicidade está ali, tudo depende da lente com a qual você olha”, afirma ela, que tem um palpite sobre a popularidade crescente das realidades paralelas.

“Eu acho que a gente explorou tanto, na ficção, a viagem no tempo, que agora chegou a vez de explorar a ideia de estarmos em vários mundos ao mesmo tempo. Talvez por uma questão de tecnologia no cinema ou pelo próprio aprofundamento da física quântica essas histórias se multiplicaram. São artifícios que ajudam a abordar esse constante questionamento do ‘e se?’.”

Essa dúvida se impôs recentemente. Na ressaca do sucesso de “Eduardo e Mônica” e diante de um governo que pôs as leis de incentivo ao audiovisual para funcionar novamente, Braga viu crescer a vontade de voltar a fazer cinema no Brasil.

Na bifurcação de realidades que se apresentou a ela, decidiu tomar, para o futuro breve, o caminho de volta ao lar, e agora tem lido uma série de roteiros para, em breve, aparecer nas telas nacionais novamente. “Estou morrendo de saudade.”

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