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Celebridades

Em show na Folha de S.Paulo, Rita Lee se disfarçou de jazzista por medo de veto ao seu rock

Pouco antes disso, também naquele ano, Rita cantou duas outras vezes na Folha de S.Paulo

FolhaPress

11/05/2023 18h56

Foto: Reprodução

João Perassolo
São Paulo – SP

No final dos anos 1960, um grupo de pessoas lideradas por Elis Regina se reuniu no centro de São Paulo para uma marcha contra a guitarra elétrica, instrumento do rock americano que, diziam, ameaçaria as raízes da música brasileira. O estilo musical era também alvo de preconceito da imprensa.

Mas isto não impediu que Rita Lee apresentasse um show de rock no auditório da Folha de S.Paulo, com seu conjunto Six Sided Rockers, um embrião do que viria a ser Os Mutantes. A estratégia da banda foi informar ao jornal que o grupo era, na verdade, de blues, além de mudar o nome para Six Sided Jazz. Assim, em 26 de julho de 1965, o sexteto subiu ao palco na sede do jornal, no bairro paulistano dos Campos Elíseos, onde aconteciam apresentações periódicas de jazz.

“O rock ainda não era muito bem visto, mas o blues é um parente próximo demais do jazz para ser rejeitado em qualquer jam session”, escreveu Carlos Calado no livro “A Divina Comédia dos Mutantes”, que resgata a história de Os Mutantes e rememora as vezes em que Rita se apresentou no auditório da Folha de S.Paulo.

O jornal aceitou. Três dias depois do show, uma pequena reportagem em tom elogioso afirmava que o conjunto era de alto gabarito e que seus jovens talentosos faziam músicas que lembravam o estilo que fez de Ray Charles um dos expoentes do jazz moderno.

A estratégia também ajudou a quebrar preconceitos com o rock. Conforme Calado conta no livro, no segundo show do grupo no palco do jornal, na alameda Barão de Limeira, eles se apresentaram com o nome original, Six Sided Rockers. Tudo isso virou uma piada interna, e o grupo -do qual também participava Arnaldo Baptista, que depois integraria Os Mutantes- brincava de se chamar Six Sided Jazz Rockers.

Pouco antes disso, também naquele ano, Rita cantou duas outras vezes na Folha de S.Paulo, ambas com o Túlio Trio, no qual ela adotava o nome artístico de Danny e tocava banjo, ainda de acordo com o livro de Calado. Ao anunciar o segundo show, o jornal afirmava que na apresentação anterior o conjunto havia arrancado “calorosos aplausos e as mais entusiastas críticas”.

Os Mutantes seriam formados logo em seguida, em 1966, após a saída de três dos integrantes do Six Sided Rockers. No contexto da tropicália, em que as influências da cultura pop estrangeira eram bem-vindas, o grupo de Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista ajudou a derrubar de vez a má vontade da sociedade da época com a guitarra elétrica.

A Folha de S.Paulo foi o primeiro veículo da grande imprensa a entrevistar a banda, numa reportagem intitulada “na música jovem chegou a hora de ver Os Mutantes”. Na ocasião, Rita definiu o grupo com a seguinte frase: “Ele vem de outro planeta para tomar conta do mundo. É moço, inteligente e vai longe, porque encontrou o mundo cheio de mediocridade”.

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