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Celebridades

Dani Calabresa quer enterrar caso Marcius Melhem

Em entrevista à Folha, ela parece querer deixar de lado o caso que a acompanhou pelas manchetes há quatro anos

Redação Jornal de Brasília

17/01/2024 11h31

Foto: Reprodução

UBIRATAN BRASIL
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) –

Dani Calabresa, hoje, consegue trabalhar em paz. Em entrevista à Folha, ela parece querer deixar de lado o caso que a acompanhou pelas manchetes há quatro anos, quando foi uma das seis mulheres da TV Globo que acusaram o ex-diretor da emissora Marcius Melhem de assediá-las sexualmente.

O humorista, hoje réu sob acusação de assédio sexual contra outras três mulheres ?as atrizes Carol Portes e Georgiana Coutinho Goes, e uma editora da TV Globo?, nega todas as acusações.

“Agora consigo exercer minha profissão sem sofrimento. Minha preocupação é estar bem no palco”, diz Calabresa, que estreou como atriz de musical em “O Jovem Frankenstein”, que chega ao Teatro Bradesco, em São Paulo, nesta sexta-feira (19) depois de uma temporada no Rio de Janeiro.

No papel de Elizabeth Benning, noiva do protagonista, o neurocirurgião Frederick Frankenstein ?papel de Marcelo Serrado?, Calabresa exerce seu humor à risca, com tiradas inteligentes e sem perder o tom nos números musicais, nos quais dança se equilibrando em sapatos com saltos altos e ostentando uma vistosa peruca ruiva que a faz sentir, como já disse, a própria Ariel de “A Pequena Sereia”, mas da 25 de Março.

“Sinto um alívio. É como terminar um namoro com a promessa de nunca mais repetir”, diz Calabresa. “O que a Justiça decidir no caso do Melhem, que seja. Já sofri mais do que devia com essa história. Eu queria trabalhar sem chorar e consegui”, afirma.

A denúncia se tornou pública em 2020, em uma entrevista da advogada Mayra Cotta, representante do grupo, à coluna da Mônica Bergamo, da Folha. Na época, os nomes foram mantidos em sigilo, pois nenhuma delas estava decidida a se expor, e nem todas se dispunham a acioná-lo judicialmente.

Mas logo o de Calabresa veio à tona, quando Melhem divulgou mensagens trocadas com ela e foi à Justiça, em janeiro de 2021, processá-la por dano moral.

“A situação me fez sofrer muito. Foi algo muito injusto porque tenho uma vida e uma carreira e não foi algo que eu fiz e que, por isso, teria de responder pelo ato”, diz ela, cujas acusações contra ele, assim como de outras mulheres, não se converteram em processo porque prescreveram.

No caso de Calabresa, fora o assédio sexual, um suposto crime de importunação não se aplicaria porque a abordagem teria ocorrido em 2017 ?anterior, portanto, à vigência da lei, que é de 2018.

Mas os processos contra Melhem seguem. Em agosto do ano passado, ele foi denunciado, sob acusação de assédio sexual contra Portes, Goes e uma editora da Globo, que o incriminam de abordagem sexual em meio a conversas acerca do roteiro, do elenco e do papel a ser atribuído à personagem das vítimas.

Em setembro, a Justiça aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público e o tornou réu por assédio sexual. “O meu sentimento é de indignação absurda”, disse ele, à época, em entrevista à Folha.

“Meu alívio é que minha denúncia foi acatada dentro da Globo, foi minha vitória”, diz Calabresa, em referência à demissão de Melhem da emissora. Ela também deixou de ter contrato fixo com a Globo em 2022, mas segue fazendo trabalhos pontuais.

O compliance da emissora, porém, disse à Justiça que o crime não foi provado, em resposta a uma ação do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ), que torna a empresa ré, ao acusá-la de ter supostamente permitido os casos de assédio no ambiente de trabalho.

“Perceber algo desagradável é muito difícil. Uma relação errada, um comportamento errado faz com que a gente tende a buscar a culpa dentro de si, especialmente as mulheres. Não podemos normalizar o abuso de forma alguma em situação nenhuma em lugar nenhum. Não se pode culpar a vítima.”

Para a atriz, o movimento de mulheres nos Estados Unidos que resultou em uma série de processos por assédio sexual contra o ex-produtor Harvey Weinstein é importante, mas representa uma lenta evolução.

“Foi um passo de formiga, pois ainda há quem questiona as mulheres que aceitaram ir ao quarto dele para ler um roteiro. Era o convite de um diretor, um produtor, como não confiar? Ainda há muitas camadas de julgamento.”

O que a animou a aceitar o convite dos diretores e produtores Claudio Botelho e Charles Möeller a participar de “O Jovem Frankenstein”, além da oportunidade de estrear em um musical, é olhar mais atualizado e menos machista do espetáculo.

Inspirado no filme dirigido em 1974 por Mel Brooks, que também criou a versão da Broadway, em 2007, o espetáculo utiliza o universo dos filmes de terror para construir uma sátira marcada pelo deboche.

É o caso da presença de personagens insólitos, como Igor ?vivido por Fernando Caruso?, servo corcunda e de olhos esbugalhados, que troca deliberadamente a posição da corcova nas costas para confundir as pessoas. Ou de Frau Blücher ?papel de Totia Meireles?, a intimidadora governanta cujo nome dito em voz alta faz os cavalos relincharem.

“É um musical complexo, com qualidades como a estética do terror e o tempo da comédia absurda do Mel Brooks, que é uma dos melhores do mundo”, diz o diretor Charles Möeller.

“E, ao contrário do original, no qual os papeis femininos eram secundários, aqui elas têm o poder de mudar o rumo da trama”, afirma Calabresa, que se inspirou na comediante Madeline Kahn, intérprete de Elizabeth no longa, mulher fogosa que se apaixona pelo Monstro ? papel de Hamilton Dias? criado por Frederick Frankenstein por causa de seu “enorme Schwanzstucker”.

“Ela traz a malícia necessária para a personagem”, afirma a atriz, que só se sentiu segura para participar da produção após consultar o fonoaudiólogo Gilberto Chaves. “Ele me convenceu que tenho voz e fôlego para fazer as muitas sessões da peça durante a semana.”

Integrante de um grande time de comediantes brasileiras, Dani Calabresa credita essa presença à atuação de Dercy Gonçalves. “Ela abriu uma passagem para artistas como eu justamente por ter um jeito único e espontâneo de falar, com uma naturalidade de mesa de bar e com a liberdade de berrar à vontade”, observa ela, ainda cética, porém, em relação à paridade de gêneros na arte.

“Continuamos lutando para mostrar que a mulher consegue fazer igual ou até melhor que muitos homens, daí a existência hoje de mulheres roteiristas, diretoras, produtoras, cenógrafas, todas com qualidade. Mas ainda são pequenas bolhas que surgem no meio.”

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