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Artistas da noite inspiraram Alcione, a travesti chefona de presídio na 2ª temporada de ‘Dom’

Personagem é totalmente ficcional, ao contrário de outros personagens inspirados na história real do bandido da zona sul carioca

FolhaPress

05/04/2023 16h27

Foto: Divulgação

Cristina Camargo
São Paulo – SP

As travestis pretas, que quase não têm vez ou voz na dramaturgia, inspiraram a elogiada interpretação do ator Milton Filho, 41, na segunda temporada da série “Dom”, lançada recentemente na Amazon Prime Vídeo.

Alcione, a travesti chefona de uma ala do presídio onde Pedro Dom passa alguns meses, é totalmente ficcional, ao contrário de outros personagens inspirados na história real do bandido da zona sul carioca, vivido na série por Gabriel Leone.

Parece feita sob medida para Milton, ator, cantor e dançarino que tem identidade com a boemia do Rio de Janeiro. “Fui sócio de um bar gay na zona norte do Rio, em Cascadura, e lá fiz muitas amizades com as artistas da noite por 13 anos, muitas delas travestis”, ele conta sobre o laboratório que a vida proporcionou.

O ator também já interpretou uma drag queen no filme “Odeio Dia dos Namorados” e uma aspirante a artista da noite gay no teatro. Milton não frequentou presídios e tampouco buscou referências na travesti Lady Di, interpretada por Rodrigo Santoro em “Carandiru”, de Hector Babenco, um grande sucesso do cinema brasileiro.

“A travesti de Santoro tem uma docilidade que a Alcione não tem. Me inspirei nas bichas pretas e periféricas”, diz. Ou seja, é um laboratório artístico que vem de muito tempo e ganhou força na fase de preparação, em parte feita online com o diretor Breno Silveira (1964-2022).

Apaixonado pela cantora Alcione, a Marrom, o ator cantou uma música no teste que não fazia parte do roteiro. Foi o suficiente para o diretor decidir incorporar “Garoto Maroto” a uma das cenas marcantes da segunda temporada de “Dom”.

“Nos karaokês da vida, principalmente em Cascadura, canto muito ‘Não Deixe o Samba Morrer'”, relata Milton sobre a canção mais famosa interpretada pela Marrom.

Ele canta também Lupicínio Rodrigues, cantor e compositor negro que revive no monólogo “Só Lupicínio”, montado no Rio com recursos do edital Retomada Cultural 2, do governo local. Há planos para percorrer o Brasil com o espetáculo.

“Falar das dores do coração como ele fala… Ainda está para nascer alguém com tamanha dor de cotovelo”, resume.

Artista desde criança, Milton chegou a fingir para a mãe que faria um curso de férias de matemática em Guadalupe, zona norte do Rio, onde passou a parte da infância e a adolescência. No lugar dos números, foi atrás do teatro e nunca mais parou.

Passou pelo projeto Lona Cultural, em Guadalupe, e por inúmeras oficinas até engrenar no teatro carioca, com destaque para os espetáculos “As Mimosas da Praça Tiradentes”, “As Cangaceiras Guerreiras do Sertão”, “Chaves, Um Tributo Musical” e “Joãozinho e Laíla – Ratos e Urubus Larguem Minha Fantasia”. Por este último, foi indicado ao Prêmio Shell.

Milton costuma dizer que, se não fosse ator, seria uma pessoa triste. Por causa disso, resiste às dificuldades da carreira, chegou a trabalhar em outros empregos, como o bar na zona norte, e segue ocupando cada vez mais espaços.

Um deles, recente, foi no sambódromo do Rio, na comissão de frente da Imperatriz Leopoldinense, campeã do Carnaval carioca deste ano com o enredo sobre a jornada de Lampião após a morte, sem abrigo no céu ou no inferno.

Não dá para negar, a maré anda boa para o artista que escolheu não desistir do próprio talento.

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