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Antonio Fagundes: ‘Você olha a novela e reconhece um jeito de ser’

A produção marcou a teledramaturgia não apenas por sua história, mas por colocar em cena um elenco afinado e com nomes icônicos

Redação Jornal de Brasília

07/11/2022 19h51

Foto: Divulgação

Após o sucesso da novela Pantanal, a Globo traz de volta nesta segunda, 7, outro clássico de Benedito Ruy Barbosa: O Rei do Gado. A trama original ganha exibição especial dentro do Vale a Pena Ver de Novo, substituindo A Favorita, com quem divide a faixa horária nesta primeira semana. Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a produção foi ao ar em 1996 e chegou a ser vendida para cerca de 30 países.

Feita em duas fases, a novela inicia sua história nos anos 1940, quando a fase cafeeira está em declínio. Em meio à crise econômica, duas famílias rivais, os Berdinazzi e os Mezenga, terão essa divergência ainda mais acentuada quando descobrem que seus filhos estão namorando. A briga entre os coronéis seguirá por gerações.

A produção marcou a teledramaturgia não apenas por sua história, mas por colocar em cena um elenco afinado e com nomes icônicos. Foram muitos os momentos marcantes de uma história que trazia temas ainda atuais, como a luta por terras e o trabalho no campo, mas que é centrada em um caso de amor entre famílias que se detestam. Integrante das duas fases da novela, o ator Antonio Fagundes puxa pela memória e conta algumas curiosidades sobre O Rei do Gado, onde viveu o rico fazendeiro Bruno Mezenga, que se apaixona pela boia-fria Luana (Patricia Pillar)

O Rei do Gado traz uma história de amor de um grande fazendeiro com uma boia-fria. Você também foi cativado pela história?

O Rei do Gado é uma novela emocionante em todos os sentidos, não só por essa história, que já é uma coisa muito interessante de se ver, mas por muitas outras, e muitos outros conflitos. Uma novela completa e com uma trilha musical maravilhosa. Então o que encantou e cativou a todos nós nessa novela foi um conjunto muito talentoso.

Você ainda se recorda de como foi a preparação dos personagens? Alguma inspiração na composição?

A gente quase não teve muito isso (a preparação dos personagens), porque tinha um prazo para entregar e eu estava nas duas fases da novela. Gravamos quase três meses no interior de São Paulo, na primeira fase – se não me engano, foram sete capítulos. Houve um intervalo muito pequeno da primeira para a segunda fase. Assim, não deu para preparar muito. De qualquer forma, eu conheci, viajando pelo interior de Goiás, um fazendeiro que era exatamente o ‘Rei do Gado’, exatamente o Bruno Mezenga, com um jeito que me interessou muito. Inclusive o modo de falar, mexendo com as mãos, e o sotaque, com uma certa dificuldade em articular as palavras… Aquilo me cativou muito e eu me baseei nele para fazer o personagem. E teve o lance de estar nas duas fases e não ter tempo de emagrecer. A história de emagrecer foi no meio da novela. O Benedito criou um acidente de avião para o Bruno Mezenga e ele ia sumir durante uns 15 dias. Era um ponto dramático, o avião caído e ele perdido lá no meio do Araguaia. O Benedito queria que eu emagrecesse naquele período e eu tinha só 15 dias para isso. Então tive que entrar num spa, foi um negócio violento. Passei 15 dias lá e consegui emagrecer 10 kg. Foi muito bom para a novela, quando ele foi encontrado depois de duas semanas, 10 kg mais magro. Acabou dando certo.

Vendo alguns vídeos de bastidores, foi um trabalho que exigiu bastante dos atores, não?

Exigiu no sentido de que a gente tinha que viajar muito. Ia para o Araguaia, Goiás, muitas gravações no interior de São Paulo. O elenco teve que se desdobrar. Realmente era um time muito bom de atores, todo mundo experiente, curtindo o que estava fazendo. A novela foi muito prazerosa para todo mundo. E com um elenco primoroso – Tarcísio Meira, Raul Cortez, extraordinários companheiros de trabalho. Eu tive poucas cenas com eles, porque a gente quase não se cruzava. Com Tarcísio eu fiz uma ou duas cenas só, na primeira fase, e com o Raul a mesma coisa, na segunda. Foram grandes momentos para mim. Fora isso, tinha Patricia Pillar, Gloria Pires, Stênio Garcia, Bete Mendes, um elenco que até é ruim a gente começar a falar porque eu vou esquecer dos outros – e eram todos maravilhosos.

Uma história brasileira, mas que conquistou público fora do País. Qual seria o motivo para isso acontecer? Curioso ver as dublagens, tem a abertura em russo, diferente…

Conquistou o público fora do País exatamente por ser brasileira, eu acho. O motivo principal era esse: tinha aquela raiz da cultura brasileira. Você olha a novela e reconhece ali um povo, um jeito de ser que é diferente de todas as outras partes do mundo. A novela fez muito sucesso em muitos lugares, na Rússia principalmente, na Hungria… Eu me lembro que fui entrevistado logo depois por jornais húngaros.

A trama, envolvendo questões de terra, trabalho no campo, ajuda a tornar a novela ainda atual?

A questão da terra sempre foi muito problemática no Brasil. O Benedito, com a sabedoria dele, conseguiu abordar com muita delicadeza e ao mesmo tempo aprofundar um pouquinho o assunto. Colocar os sem-terra numa novela, os boias-frias, uma coisa que só um autor de muito talento consegue. E o Benedito fez isso como ninguém.

Lembra de alguma cena que mais o marcou?

Foram muitas, a novela inteira é cheia de cenas emblemáticas. A primeira vez que ele toca o berrante emocionou a todos; quando ele sofre um acidente e aparece no meio da selva comendo larvas, isso impressionou muita gente… O encontro dele no Araguaia, na primeira fase, a ida do filho para a guerra… A gente lembra com carinho, porque todas elas foram muito emblemáticas.

Como foi fazer esse personagem com tanta história, com falas tocantes?

Foi um grande presente. Eu estava fazendo Renascer quando o Benedito me chamou e disse a história que ele queria que eu fizesse. Pelo pouco que contou eu já fiquei encantado. Foi um segundo presente que eu tive do Benedito – o primeiro foi Renascer, uma novela que não sai do meu coração. Mas O Rei do Gado também fez parte desse universo. Acho que Benedito foi o autor com quem eu mais trabalhei na Globo, talvez um pouquinho mais do que o Gilberto (Braga). Foi o autor com quem fiz minisséries, novelas das 6, das 9. Um autor que virou um grande amigo querido.

Você está com novos projetos? Pode falar do que tem feito no audiovisual?

Novos projetos, sempre. Estou envolvido no desenvolvimento de uma série para o streaming, mas ainda não posso contar. Vou fazer um filme agora para o Cacá Diegues que é a sequência do Deus É Brasileiro, começamos a gravar este mês. E vamos estrear no Rio, dia 13 de janeiro, no Teatro Clara Nunes, a peça Baixa Terapia, em cartaz desde 2017. Já tivemos mais de 350 mil espectadores, viajamos por 27 cidades do Brasil, fizemos uma longa excursão em Portugal com mais de 60 mil espectadores, fomos aos Estados Unidos. Faltava o Rio, que deixamos para o final, porque queríamos uma temporada maior, e não simplesmente ‘passar’ pelo Rio.

Estadão Conteúdo

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