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Cinema

‘A Babá – O Chamado das Sombras’ é terror russo com bruxas que dá sono

No folclore eslavo, a Baba Yaga é uma espécie de bruxa da floresta que vive em uma cabana ambulante com patas de galinha. Com representações variadas, ela aparece em centenas de contos de fadas que precedem o século 18.

FolhaPress

08/12/2021 18h35

Foto|Divulgação


Por Ieda Marcondes

Em “A Babá – O Chamado das Sombras”, a Baba Yaga tem mais a ver com a influência de filmes americanos, como a refilmagem de “It – A Coisa”, do que com a cultura da Europa oriental. Dirigido pelo russo Svyatoslav Podgaevsky, especializado em terror de baixo orçamento, o longa-metragem tenta copiar a fórmula da obra concebida por Stephen King.


Oleg Chugunov interpreta Egor, um garoto atormentado por pesadelos com a mãe biológica que já morreu. Sua madrasta acaba de dar à luz uma menina e, precisando de ajuda com os afazeres domésticos, contrata uma misteriosa babá. No papel da tenebrosa Tatyana, Svetlana Ustinova se comporta de maneira bizarra desde o princípio.


Aliás, o que não falta em “A Babá – O Chamado das Sombras” é gente se comportando de forma estranha e artificial. Talvez, numa tentativa de recriar uma comunidade inteira sob efeito de um encantamento, como a Derry de “It – A Coisa” -ou, talvez, pela própria limitação dos atores e do roteiro assinado por Podgaevsky, Natalia Dubovaya e Ivan Kapitonov.


Com dublagem em inglês e legendas em português, é difícil saber se alguma nuance foi perdida na tradução do russo, mas pérolas como “homens de verdade não tropeçam” -é alarmante a quantidade de adágios sobre masculinidade- não devem ter significados mais profundos em uma obra tão desprovida de sutileza ou ambivalência.


De toda forma, não leva muito tempo para a bebê sumir e, junto com ela, a memória de que ela existia. Em sua família, Egor é o único que parece se lembrar dela. Decidido a reencontrar a menina, ele acaba juntando forças com a vizinha Dasha, vivida por Glafira Golubeva, e o caricato bully Anton, papel de Artem Zhigulin, numa versão reduzida do “Clube dos Perdedores” de King.


Dasha sofre nas mãos de uma mãe fria e controladora, que não permite que ela namore ou que faça amizade com meninos porque ela mesma foi abandonada na juventude com uma criança para cuidar –esta história de fundo é contada ao espectador de forma seca e abrupta. Já Anton é um órfão metido a machão que não recebe o menor afeto da mãe adotiva.


No bosque, o grupo conhece um homem recluso e descobre que a irmãzinha de Egor não é a única criança raptada da cidade. Graças ao auxílio dos “navs”, criaturas metade gente e metade ave, a Baba Yaga mantém seus prisioneiros em um covil situado na fronteira entre o mundo dos vivos e o dos mortos -novamente bastante parecido com o esconderijo do palhaço assassino.


Quando as crianças são esquecidas por todos os integrantes de suas famílias, a entidade finalmente se alimenta de suas almas. Assim, o terror russo lida menos com a ameaça de uma bruxa mitológica e trata mais da angústia dos personagens tentando se agarrar às memórias dos entes queridos que desapareceram.


Sem uma única cena de morte ou mesmo uma sensação de perigo próximo, há alguns momentos de tensão que, infelizmente, se dissolvem em humor involuntário, como quando Egor acerta uma bolada na cabeça da madrasta. Abusando de clichês e sustos sonoros, “A Babá – O Chamado das Sombras” não provoca medo, mas sono.

A BABÁ – O CHAMADO DAS SOMBRAS
Avaliação: ruim
Quando: estreia na quinta (9)
Onde: nos cinemas
Classificação: 12 anos
Elenco: Maryana Spivak, Svetlana Ustinova, Aleksey Rozin
Produção: Rússia, 2020
Direção: Svyatoslav Podgaevskiy
Duração: 97 min.

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