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Economia

Definir prioridades e evitar infidelidade financeira são essenciais para as relações

Arquivo Geral

17/12/2018 7h00

Atualizada 16/12/2018 20h17

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasilia.

João Paulo Mariano
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Dinheiro pode unir casais. Ou separar. Na verdade, seu peso nunca é neutro. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que 48% dos consumidores já brigaram com o companheiro devido às finanças e que 9% desses admitem que os conflitos ocorrem com frequência. E tem aqueles que ainda escondem do cônjuge os seus gastos, a tal da infidelidade financeira que pode levar até os mais apaixonados ao desequilíbrio e possível separação.

Para que o romance não vire pesadelo, os especialistas recomendam controle financeiro e muita conversa desde os primeiros anos juntos. É a forma de evitar que a preferência financeira de cada um não atrapalhe a vida do casal e o dinheiro não atrapalhe o amor.

Essa é, justamente, a receita que a estudante Dayane Ellis Carvalho, 26, e o professor Raphael Fernandes Araújo, 27, seguem a risca. Todo mês, eles preenchem planilhas do que cada um pagou e fazem o cálculo do quanto sobrou para os investimentos futuros, para o lazer e para os desejos de cada um.

Todas as contas são divididas de forma proporcional ao salário do casal. Nos momentos em que eles ganham o mesmo valor, o pagamento da água, da luz ou do aluguel fica dividido meio ao meio. Mas se um está ganhando mais que o outro isso muda: o que tem maior salário paga o correspondente. O mesmo ocorre na hora de investir para os planos futuros.

Foi essa a forma que o casal encontrou de evitar a infidelidade financeira. Porém, esse exemplo não é tão comum. A pesquisa do SPC Brasil informa que 43% dos entrevistados não falam sobre todas as suas compras para os companheiros e 22% não dividem informações de suas contas particulares.

A principal justificativa para não abrir o jogo sobre compras é reconhecer que há diferentes prioridades entre eles. Os homens admitiram ser mais infiéis com gastos relacionados a bares, restaurantes e cinemas. Já as mulheres escondem mais quando o dinheiro é usado para acessórios, bolsas e bijuterias.

Sem planejamento financeiro fica difícil colocar os planos do casal em prática. Porém, 32% dos brasileiros admitiram que não tem nenhum plano formado ou em prática para os próximos cinco anos. Para que isso não ocorresse na sua vida, Dayane Ellis Carvalho e Raphael Araújo, fixaram metas.

“Eu tenho que renunciar a gastos de hoje para fazê-los no futuro. Desde que comecei a trabalhar, em 2008 eu gasto menos do que ganho”, lembra Raphael. Dayane admite que, embora tenha algum controle, o marido é mais compromissado com as finanças, desde o início. Tanto que que a levou para o mundo dos investimentos.

Eles pretendem comprar uma casa e já fixaram até um prazo, de cinco anos. Nesse meio tempo, eles preferem pagar aluguel e juntar uma grana. “Eu sou menos controlada, mas sempre consegui poupar. Eu nunca tinha investido, mas ele foi me puxando. Eu tinha certo medo, mas fui fazendo aos poucos. Deu tudo certo”, afirma Dayane, já bem familiarizada com os conceitos de investimento, como Tesouro Direto, LCI e LCA ou debêntures.
Marcos Pimenta, especialista em comportamento financeiro, admite que é importante preservar a individualidade, mas nunca deixar que ela esteja acima do equilíbrio das contas da casa. Ele observa, porém, que uma das situações mais difíceis para casais é lidar com a falta de educação financeira uns dos outros. Quem tem controle normalmente se irrita bastante com quem não tem. “O segredo”, revela, “é mostrar aos poucos que os impulsos dos gastos desnecessários passam, mas as dívidas ficam”.

Esconder o que ganha …e o que se gasta

Atuante em Direito de Família, o advogado Felipe Borba explica que a infidelidade financeira poderia ser evitada se as pessoas conversassem mais sobre as finanças. O problema, explica, não é só esconder o que se gasta, mas também o que se ganha, já que a fatia “oculta” pode ser importante para o dia a dia.

A educadora financeira Ana Luiza Marinho, alerta que problemas na vida financeira estão entre os principais motivos de divórcios na atualidade. “O impacto (do desequilíbrio financeiro) na vida de um casal é imenso, em especial se chega ao superendividadmento. Tem gente que se endividou muito e não tem coragem de falar para a família. Prefere procurar um agiota que tirar um filho da escola particular”, afirma.

Assim como o advogado, Ana Luiza mostra que a falta de diálogo causa efeitos complicados. Ela exemplifica com uma situação que presenciou quando trabalhou em um banco. Um casal tinha contas separadas na agência. A esposa a procurou para pedir um empréstimo de R$ 20 mil, com juros altos, mas o marido tinha mais de R$ 100 mil aplicados em um fundo com boa liquidez. Um não sabia da existência do dinheiro do outro.

Outro ponto importante de ser avaliado quando se olha a vida financeira de um casal é que os gastos, muitas vezes, estão ligados a forma com que um enxerga o amor do outro. “Se uma pessoa dava presente, mas não dá mais, se não ficar claro que isso ocorre devido a dificuldades financeiras, um pode pensar que isso ocorreu pela diminuição do afeto, já que para eles uma coisa está ligada a outra”, salienta.


Descomplicando

Para não deixar o dinheiro ser um problema ou a infidelidade financeira complicar a vida a dois, é preciso conversar sobre o assunto. Esse é a principal solução dada por especialistas.

Não existe um único meio de repartir as contas. Tem gente que prefere pagar cada fatura meio a meio. Outros escolhem as contas que vão pagar. E por aí vai. O importante é conversar e saber que todos têm que participar das finanças.

A transparência entre o casal não precisa ser 100%, mas os gastos individuais devem ter um limite claro.

Se o casal não tiver controle financeiro, provavelmente, os filhos terão mais dificuldade de desenvolver essa habilidade.

 

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