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Economia

Bom nos negócios, mas ruim na gestão pública

Nem tudo que é adequado no mundo empresarial dá para ser aplicado no governo, alerta especialista

Redação Jornal de Brasília

15/06/2020 5h20

Hylda Cavalcanti
redacã[email protected]

Constantes decisões atabalhoadas do governo para contenção da pandemia do novo coronavírus e, mais recentemente, a sugestão de se recontar os casos de vítimas da covid-19 — que não foi adiante — têm consistido em grandes exemplos de posturas que os profissionais em gestão pública devem evitar ao máximo. Têm, também, deixado nítidas as diferenças de conduta que precisam ser observadas entre profissionais públicos e privados.

Essa crítica, feita atualmente por muitos especialistas diante da expectativa de preparação das pessoas para um novo mercado de trabalho após o período de pandemia, também tem por trás, conforme avaliação do professor e designer de negócios de empresas privadas Aloísio Sotero, um grande exemplo da necessidade de adaptação das pessoas.

Sotero lembrou o economista Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia de 2008, que já afirmou que “o país não é uma corporação” e que “os hábitos mentais que fazem um grande líder de negócios não são, em geral, aqueles que fazem um grande gestor público”. Um gestor público busca aprovação externa e um gestor privado busca eficiência interna para sua empresa”, ressaltou.

Passar da esfera privada para a pública e vice-versa não é fácil como parece. Segundo Sotero, muitos empresários tidos como exemplares estão acostumados a lidar com sistemas de gestão na iniciativa privada que não são usados na gestão pública. Motivo pelo qual nem sempre essa mudança termina sendo bem sucedida, a exemplo do que aconteceu recentemente com o empresário fundador do grupo Wizard, Carlos Wizard.

Wizard foi indicado para a secretaria da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, mas nem chegou a assumir a função depois de ter feito pronunciamentos desastrosos que levaram a uma saraivada de críticas na mídia, nas redes sociais e entre autoridades e entidades da sociedade civil. Ele terminou pedindo desculpas publicamente e desistiu de assumir o cargo.

Segundo Sotero, o exemplo de Wilzard e de muitos outros não só no Brasil, como também em outros países, tem sido muito observado. “Em geral, os empresários lidam com sistemas de gestão movidos a feedbacks positivos de fácil correção. E os retornos negativos podem ser ajustados rapidamente. No serviço público não funciona assim”, explicou.

De acordo com o especialista, a grande questão é que no mundo corporativo o foco são os clientes e a sua empresa, enquanto no ambiente público, os gestores – quer sejam políticos ou não – lidam com sistemas de feedback negativo de difícil correção.

“São sistemas que exigem múltiplos agentes envolvidos que sofrem opiniões e pressões externas. A opinião pública se forma de múltiplos agentes que não são clientes”, ressaltou.

Aloísio Sotero também alertou para o fato de que no poder público, a forma de comunicar e seu tom podem até chegar a desconfigurar um bom conteúdo. No caso específico de Wizard, ele não estava preparado.

“Os hábitos de um grande empresário não são em geral aplicáveis na gestão pública. Não se administra um país como se fosse uma grande empresa nem uma grande empresa como se fosse um país”, afirmou.

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